quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tubarões e arraias: do perigo de extinção à falta de informação

“Das 169 espécies (de tubarões e arraias que ocorrem no Brasil), duas estão “Regionalmente Extintas” (RE) e 60 se encontram em alguma categoria de ameaça, sendo 29 “Criticamente em Perigo” (CR), sete “Em Perigo” (EN) e 20 “Vulnerável” (VU). Apenas 31, foram avaliadas como "Menor Preocupação" (LC) e 16 como "Quase Ameaçada" (NT).” Essa  é uma parte do texto que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente, utilizou para divulgar os resultados da avaliação preliminar de uma pesquisa sobre os riscos de extinção desses peixes.

O trabalho, que envolveu mais de 50 especialistas, começou em 2009 e agora está na fase de validação para sua publicação final. Além de quase um terço dos chamados elasmobrânquios (tubarões e arraias) estarem ameaçadas de desaparecer, o estudo apresenta outro dado preocupante:

“O número de espécies com "Dado Insuficiente" (DD) foi considerado especialmente alto (59), indicando que as incertezas taxonômicas e a falta de informações populacionais são um grande problema de conservação para esse grupo.” – texto original do ICMBio.

Essa última afirmação indica que o número de espécies em risco de extinção pode ser ainda maior e escancara a falta de informações sobre a biodiversidade marinha brasileira.


Tubarão pescado ilegalmente apreendido em abril no Pará
Foto: Divulgação/Ibama

Segundo Monica Peres, da Coordenação de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade do ICMBio, “a pesca excessiva e não regulamentada foi, e continua sendo, a maior ameaça para esse grupo nas águas brasileiras. Pescarias importantes no passado estão hoje colapsadas, como a pesca de cação-anjo, do cação-bico-doce, entre outras. Apesar de muitas espécies já constarem em listas oficiais de espécies ameaçadas, elas continuam sendo ameaçadas pela captura acidental em diversas pescarias ao longo da costa brasileira.”

A ação exploratória do homem, aliada às taxas de fecundidade e mortalidade natural extremamente baixas – o que reduz bastante a reposição populacional -, são apontadas como as causas dos problemas enfrentados por tubarões e arraias no Brasil.

Enquanto desconhecemos (afirmação do próprio ICMBio) nossa super-explorada biodiversidade marinha...

“O Brasil pretende construir “modernos” navios de pesquisa nos estaleiros do país para integrar a frota que será usada no mapeamento da plataforma continental brasileira. A informação foi dada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, depois de reunião com representantes da Marinha nesta terça-feira (21) no Rio de Janeiro.

A ideia do Ministério da Ciência e Tecnologia é conhecer os 4,5 milhões de quilômetros quadrados do mar territorial brasileiro e da zona econômica exclusiva do país, a fim de identificar potenciais econômicos, conhecer a biodiversidade e estudar os efeitos das mudanças climáticas e da poluição no mar brasileiro.”

Eu teria ficado feliz caso eu não tivesse lido até o fim a matéria acima, de 21 de junho do jornalista Vitor Abdala, da Agência Brasil. Afinal, na sequencia está: “O mapeamento ainda está sendo planejado, em parceria com a Marinha, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a estatal petrolífera Petrobras e a mineradora privada Vale.”

E quando o dedo das multinacionais que exploram petróleo está envolvido, fica difícil confiar em ações que não promovam problemas ambientias:

“Chegou ao fim um dos maiores berços da vida aquática do Brasil, o Arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia. Rota das baleias que vêm fugir do frio, a região sofrerá com a presença de 5 multinacionais, inclusive a Petrobras, que explorarão 16 concessões de poços na área. A liminar obtida pelo Ministério Público da Bahia proibindo a atividade no Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi cassada por decisão do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região. Agora só resta esperar uma definição final do Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se libera ou não as licenças para que a Petrobras (11 blocos), Perenco (2 blocos), Queiroz Galvão, Shell e ONGC iniciem as operações.” – nota do site Bahia Negócios on line (edição de hoje). Observação do Fauna News: as áreas a serem exploradas não ficam dentro do perímetro do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, mas na região."

Dados divulgados pelo Greenpeace:

“O caso que melhor ilustra esse embate está no entorno do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, um área relevantíssima para a reposição de nossos estoques pesqueiros e que, por isso mesmo, deveria no mínimo ter um cinturão de proteção adicional à sua volta. A região é local de reprodução de baleias jubarte e aporta os maiores recifes de corais do Atlântico Sul. Garante ainda o sustento de 20 mil pescadores, que contribuem com 10% da produção pesqueira nacional.”

- Leia a matéria do portal G1 sobre a pesquisa do ICMBio sobre tubarões e arrais no Brasil.
- Leia a matéria da Agência Brasil sobre a construção de navios para pesquisa.
- Leia a nota do Bahia Negócios on line sobre a exploração de petróleo na região de Abrolhos.
- Leia um texto do Greenpeace que aborda a exploração de petróleo em Abrolhos.

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