terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mico-leão-preto: só reproduzir não vai salvar a espécie. O hábitat tem de ser protegido

A notícia é muito boa, mas, infelizmente, é apenas uma parte da luta pela sobrevivência do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus).

“Um mico-leão-preto, nascido em janeiro no Parque Ecológico Municipal de São Carlos (SP), é mais uma tentativa de preservar a espécie que chegou a ser considerada extinta no início do século passado. O animal integra o projeto de reprodução desenvolvido no local, que há mais de 30 anos se dedica à preservação das espécies em extinção.

Mico-leão-preto e seu filhote, em São Carlos (SP)
Foto: Pérsio Ronaldo dos Santos

O novo morador do parque tem 20 centímetros (contando o rabo), 50 gramas e vive com o pai, a mãe e o irmão. Primo do conhecido mico-leão-dourado, o mico-leão-preto tem o mesmo porte do parente, mas possui a pelagem toda negra com algumas manchas douradas.

Atualmente, há poucos da espécie mantidos em cativeiro. Ao menos 50 estão no Brasil e outros 40 fora do país. Em São Carlos, seis vivem no parque (dois casais, um deles com dois filhotes), segundo o coordenador do local, Fernando Magnani.

De acordo com ele, o principal problema é que eles estão com uma alta taxa de consanguinidade. “Os animais são demais parentes e isso está forçando a população a um decréscimo. Precisaria que entrassem mais fundadores numa colônia, animais completamente diferentes, para dar uma variada na genética para que o potencial reprodutivo melhorasse”, explicou.

Magnani reforçou que a situação é bem complicada. “Se não houver um esforço muito grande da conservação, o mico-leão-preto é um sério candidato a desaparecer nas próximas décadas”, alertou.” – texto da matéria “Parque Ecológico reproduz mico-leão que chegou a ser considerado extinto”, publicada em 3 de fevereiro de 2013 pelo portal G1

Além do problema da endogamia (acasalamento entre indivíduos aparentados, relacionados pela ascendência, que resultam em baixas taxas de fecundidade e de crescimento demográfico, além de alta incidência de mortalidade infantil. Essa perda de diversidade genética pode reduzir, no longo prazo, a habilidade da população em responder a mudanças ambientais, aumentando a probabilidade de extinção), a falta de hábitat é um grande problema para a salvação da espécie, hoje classificada pela União Internacional  para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) como “em perigo” de extinção.

Leontopithecus chrysopygus agora é conhecido por sobreviver em onze localidades no estado de São Paulo. A população do Parque Estadual do Morro do Diabo State contém 23.800 hectares de floresta e uma população estimada em cerca de 820 animais (Valladares-Padua e Cullen Jr. 1994). A Reserva Caetetus (Estação Ecológica, informação do Fauna News) contém cerca de 2.000 hectares de floresta (população estimada em cerca de 40 indivíduos), mas as outras nove localidades consistem em fragmentos de entre 400 e 800 hectares, e, juntos, cerca de 114 indivíduos. A população total é estimada em cerca de 1.000 animais espalhados por 11 florestas isoladas, das quais 10 são certamente muito pequeno para ser viável no médio e longo prazo.” – texto do site do Livro Vermelho da IUCN

Isso quer dizer quer dizer que as estratégias de conservação da espécie têm de levar em conta, além da reprodução livre da endogamia, a proteção das florestas onde ocorre o primata e a ampliação urgente de seu hábitat (tarefe extremamente difícil na região do Pontal do Paranapanema, interior paulista).

O Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) desenvolve há anos um sério trabalho de conservação do mico-leão-preto. Eis alguns resultados apresentados por eles:

"• Conhecimento da biologia/ecologia da espécie em toda sua área de distribuição;

• Descoberta de novas subpopulações e novas áreas prioritárias à espécie;

• Atualização da estimativa populacional da espécie, com incremento de 50% no tamanho populacional conhecido;

• Influência em políticas públicas específicas para a conservação da espécie, que contribuíram na criação de uma Unidade de Conservação Federal (Estação Ecológica Mico-leão-preto);

• Estudos específicos de técnicas de manejo para a espécie (translocação, reintrodução e dispersão);

• Ações de educação ambiental e envolvimento comunitário em cinco municípios da área de ocorrência da espécie, atingindo públicos distintos (estudantil, professores, diretores, comunidades rurais e urbanas);

• Centenas de estudantes capacitados

• Mais que dez teses (mestrado e doutorado) produzidas com os dados de pesquisa;"
- texto do site do Ipê

- Leia a matéria completa do portal G1
- Mais informações sobre a espécie no site da IUCN (em inglês)
- Conheça o trabalho do Ipê para conservar a espécie

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