quinta-feira, 7 de março de 2013

Tráfico de animais na Ásia: crime muito bem organizado

No Brasil, o tráfico de animais se caracteriza por ser praticado por pequenas quadrilhas. O crime está pulverizado por todo o país, o que dificulta seu combate. Isso não quer dizer que não haja grupos mais organizados e ricos atuando no mercado negro. Mas ainda não chegamos ao grau de sofisticação de alguns países da Ásia.

‘Em uma estrada de terra esburacada e obscura, não muito longe das margens do rio Mekong, o edifício de Vixay Keosavang se destaca por seus portões de ferro e paredes de blocos de concreto com arame farpado, um contraste com as frágeis casas de palafitas de madeira próximas às seringueiras.

Vixay Keosavang, à esquerda na foto
Foto: Reprodução do site Kiiling for Profit

Um segurança que abriu a porta, disse recentemente que tigres, ursos, lagartos e muitos tamanduás ameaçados se encontravam lá dentro. Ele ligou para seu chefe e deu o celular a um repórter buscando permissão para entrar no complexo. (...)

Vixay é notório entre os pesquisadores e oficiais do governo em vários países que lutam para acabar com sindicatos que operam um próspero comércio de animais em extinção que atravessa continentes e levou ao abate de elefantes na África, as mortes ilegais de rinocerontes e da dizimação de outras espécies que vivem em selvas da Ásia.

Vixay, de acordo com um investigador, é o "Pablo Escobar do tráfico de animais selvagens."’
– texto da matéria do The New York Times, publicada pelo site Último Segundo do portal IG em 5 de março de 2013

O tráfico de animais silvestres em países como Tailândia, Laos, Vietnã e China está muito bem estruturado e controlado por grandes quadrilhas. Esses grupos criminosos são responsáveis pelo comércio de animais e partes de animais de vários pontos do mundo. São tigres e suas peles, chifres de rinocerontes, marfim, pangolins (um parente do tatu), cobras, tartarugas e uma infinidade de outros animais. Além da estruturação de poderosos bandos, essa região se diferencia do mercado negro brasileiro por trabalhar com espécies de diversos lugares do mundo para suprir a demanda de vários países – enquanto por aqui, o tráfico atende o mercado interno, principalmente com aves.

Corrupção
‘Autoridades do Laos admitiram que o tráfico de animais é um problema, mas afirmaram que as evidências contra Vixay não são suficientes para investigá-lo mais. A prisão do tailandês Chumlong Lemtongthai, em 2011, considerado seu braço-direito, trouxe esperança que Vixay fosse envolvido e preso, mas um ano e meio depois, ele continua ainda livre.

Chumlong Lemtongthai durante julgamento na África do Sul: pena de 40 anos de prisão por tráfico de chifres de rinocerontes
Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters

"Nós não encontramos nada lá", disse Bouaxam Inthalangsi, um oficial de alto escalão no departamento florestal do Laos.

Mas quando pressionado sobre a evidência volumosa contra Vixay, Bouaxam insinuou obstáculos. Fazer com que a lei fosse cumprida era "difícil", disse ele.

"Tudo se trata da influência", disse ele. "Os sindicatos do tráfico têm ligações com pessoas influentes - este é o principal problema."’
– texto do The New York Times

Como qualquer atividade criminosa lucrativa, o tráfico de animais tem seus braços também em setores do governo. A corrupção dentro do poder público e um forte jogo de influência envolvendo políticos impedem que bandidos como Vixay sejam presos.

No Brasil, também existe corrupção nessa área. Falsificação e venda ilegal de anilhas, comércio clandestino de matrizes em criadouros conservacionistas credenciados pelo Ibama e diversas outras modalidades de atuações fraudulentas podem ser encontradas no universo de quem lida com animais silvestres. Com uma legislação fraca, fiscalização deficiente, ausência de educação ambiental e uma política pública para combater o mercado negro de fauna formam um terreno fértil para o crescimento de quadrilhas especializadas.

Será que vamos deixar acontecer no Brasil o mesmo que ocorre na Ásia?

- Leia a maéria completa do The New York Times
- Leia "Começar a semana pensando", de 12 de novembro de 2012, sobre a condenação de Chumlong Lemtongthai

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