Na edição de 2011 do Viva a Mata, evento organizado pela Fundação SOS Mata Atlântica para comemorar o Dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio), assisti à palestra de Tiago Leite, coordenador do PROFAUNA – Programa de Proteção à Fauna e Monitoramento dos Ecossistemas, que atua na região de Ubatuba, litoral norte paulista. O tema: tráfico de animais.
Pois a história que ele contou sobre uma palestra do PROFAUNA em uma escola emocionou muita gente – inclusive a mim. Lógico que pedi para ele escrever... Saboreie!
Por Tiago Leite
Estávamos, eu e mais um companheiro do projeto, fazendo uma palestra em uma escola localizada em um bairro muito pobre de Ubatuba, chamado Sertão Sesmarias. Passamos o dia inteiro na escola, onde fizemos palestras para cinco turmas diferentes pela manhã e para outras cinco pela tarde.
Equipe do PROFAUNA em palestra
Durante o período da tarde, estava no meio da apresentação quando a inspetora do colégio bateu à porta e pediu para eu interromper por uns instantes. Até ai tudo bem. Fui atender a moça e me deparei com uma situação que nunca imaginava poder ocorrer naquela circunstância.
Ela me disse que tinha um menino de uns 12 anos me chamando no portão do colégio. Quando fui ver, o garoto era um aluno que havia participado das atividades de educação ambiental no período da manhã. Fiquei impressionado ao vê-lo com um passarinho; um bem-te-vi adulto nas mãos.
Achei a situação um tanto estranha e perguntei o que ele fazia com aquele passarinho. Ele me disse que o bem-te-vi era de um tio e que havia pegado a ave escondido da gaiola para eu soltá-la.
Fiquei sem palavras e engoli a seco a saliva que nem tinha na boca. Foi uma sensação bem forte e que não tinha muita explicação.
Essa foi a experiências mais forte que tive à frente das atividades de educação ambiental do Programa Bicho Solto. Pude ver o quanto a informação e a educação podem mudar a consciência e despertar o interesse pela conservação em qualquer ser humano, seja ele uma criança ou um adulto.
Toda vez que conto essa história em minhas palestras, me emociono da mesma forma como ocorreu naquela escola. É como se estivesse vendo um filme passar em minha frente. Pode parecer irônico, mas quero continuar tendo este tipo de emoção para o resto de minha vida enquanto trabalhar com meio ambiente.
Crianças aprendem se divertindo
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O maior número ocorrências está relacionado à captura e ao comercio ilegal de animais (não à caça), principalmente de aves.
Muitas dessas comunidades praticam esses crimes sem ter consciência do quanto estão prejudicando o meio ambiente., isso devido à falta de acesso à informação. Por conta disso, acreditam que estes recursos são infinitos e capazes de suportar qualquer tipo de pressão.
O tráfico de animais silvestres está, em muitos contextos, diretamente associado ao quadro de pobreza social, por vezes praticado por famílias que residem junto a áreas de florestas e que, estimuladas pela precariedade econômica, acabam por cometer esse crime.
O tráfico em números
A oportunidade é boa para apresentar alguns números que podem ajudar a contextualizar um pouco o tráfico de animais silvestres (incluindo seus subprodutos, como peles e garras):
- Terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
- Segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de hábitat);
- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.
Além da quantidade de animais que morrem durante as diversas etapas do tráfico e do sacrifício de viver em jaulas, gaiolas ou recintos inadequados impostos aos bichos, há de se considerar ainda os riscos á saúde humana (transmissão de doenças, conhecidas como zoonoses) e as conseqüências ao equilibro dos ecossistemas.
Pois a história que ele contou sobre uma palestra do PROFAUNA em uma escola emocionou muita gente – inclusive a mim. Lógico que pedi para ele escrever... Saboreie!
O menino, o bem-te-vi e o educador
Estávamos, eu e mais um companheiro do projeto, fazendo uma palestra em uma escola localizada em um bairro muito pobre de Ubatuba, chamado Sertão Sesmarias. Passamos o dia inteiro na escola, onde fizemos palestras para cinco turmas diferentes pela manhã e para outras cinco pela tarde.
Equipe do PROFAUNA em palestra
Fotos: Arquivo PROFAUNA
Durante o período da tarde, estava no meio da apresentação quando a inspetora do colégio bateu à porta e pediu para eu interromper por uns instantes. Até ai tudo bem. Fui atender a moça e me deparei com uma situação que nunca imaginava poder ocorrer naquela circunstância.
Ela me disse que tinha um menino de uns 12 anos me chamando no portão do colégio. Quando fui ver, o garoto era um aluno que havia participado das atividades de educação ambiental no período da manhã. Fiquei impressionado ao vê-lo com um passarinho; um bem-te-vi adulto nas mãos.
Achei a situação um tanto estranha e perguntei o que ele fazia com aquele passarinho. Ele me disse que o bem-te-vi era de um tio e que havia pegado a ave escondido da gaiola para eu soltá-la.
Fiquei sem palavras e engoli a seco a saliva que nem tinha na boca. Foi uma sensação bem forte e que não tinha muita explicação.
Tiago com o bem-te-vi |
Peguei a ave e fiquei com as mãos abertas, mas o animal era tão manso que nem voar voou. Então falei para o menino levar o bem-te-vi de volta para o tio, para não ter problemas, e que falasse para o tio não aprisionar mais nenhum passarinho.
Essa foi a experiências mais forte que tive à frente das atividades de educação ambiental do Programa Bicho Solto. Pude ver o quanto a informação e a educação podem mudar a consciência e despertar o interesse pela conservação em qualquer ser humano, seja ele uma criança ou um adulto.
Toda vez que conto essa história em minhas palestras, me emociono da mesma forma como ocorreu naquela escola. É como se estivesse vendo um filme passar em minha frente. Pode parecer irônico, mas quero continuar tendo este tipo de emoção para o resto de minha vida enquanto trabalhar com meio ambiente.
Crianças aprendem se divertindo
PROFAUNA – Programa de Proteção à Fauna e
Monitoramento dos Ecossistemas
Monitoramento dos Ecossistemas
Conheça o “Programa Bicho Solto”
O Programa Bicho Solto é uma iniciativa do PROFAUNA contra o tráfico de animais silvestres. A entidade acredita que a chave para o combate desse problema está nas campanhas de educação ambiental e conscientização das comunidades, promovendo a sustentabilidade. Dessa forma, mostra-se para crianças, jovens e adultos, que um passarinho livre na natureza vale muito mais do que um preso em uma gaiola.
Em Ubatuba, região de atuação do PROFAUNA, segundo dados obtidos com o batalhão da Policia Militar Ambiental, os autos de infração envolvendo animais silvestres em condições irregulares de janeiro 2004 a julho de 2008 indicaram ter ocorrido a apreensão de 776 animais. Contudo acredita-se que o número de bichos traficados seja bem maior, pois os criminosos sempre encontram uma forma de burlar a fiscalização.
Há também casos que envolvem abate de animais por caçadores, que encontram nesse recurso uma fonte de subsistência complementar. Além desse fenômeno, ocorre atualmente a caça de animais específicos, para comércio sob encomenda.
Há também casos que envolvem abate de animais por caçadores, que encontram nesse recurso uma fonte de subsistência complementar. Além desse fenômeno, ocorre atualmente a caça de animais específicos, para comércio sob encomenda.
O maior número ocorrências está relacionado à captura e ao comercio ilegal de animais (não à caça), principalmente de aves.
Muitas dessas comunidades praticam esses crimes sem ter consciência do quanto estão prejudicando o meio ambiente., isso devido à falta de acesso à informação. Por conta disso, acreditam que estes recursos são infinitos e capazes de suportar qualquer tipo de pressão.
O tráfico de animais silvestres está, em muitos contextos, diretamente associado ao quadro de pobreza social, por vezes praticado por famílias que residem junto a áreas de florestas e que, estimuladas pela precariedade econômica, acabam por cometer esse crime.
O tráfico em números
A oportunidade é boa para apresentar alguns números que podem ajudar a contextualizar um pouco o tráfico de animais silvestres (incluindo seus subprodutos, como peles e garras):
- Terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
- Segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de hábitat);
- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.
Além da quantidade de animais que morrem durante as diversas etapas do tráfico e do sacrifício de viver em jaulas, gaiolas ou recintos inadequados impostos aos bichos, há de se considerar ainda os riscos á saúde humana (transmissão de doenças, conhecidas como zoonoses) e as conseqüências ao equilibro dos ecossistemas.
Contato com o PROFAUNA: profauna.picinguaba@gmail.com
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