A história da onça-parda Anhanguera é uma das mais emblemáticas quando se aborda o conflito entre estradas e animais silvestres. Às 5h de 14 de setembro de 2009, o felino, um jovem macho com idade variando entre 10 meses e um ano, sai da mata e chega às margens da via Anhanguera, na altura do município paulista de Louveira. Decidido a chegar ao outro lado, ele arrisca, avança para o meio da pista e acaba atingido por um veículo.
Resgate de Anhnaguera em 2009
Foto: Divulgação CCR AutoBAn
A rodovia foi parcialmente fechada até a chegada de bombeiros e profissionais da Associação Mata Ciliar, ONG de Jundiaí (SP) que mantém uma parceria com a concessionária CCR AutoBAn para atender animais resgatados na estrada e que possui o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais. A onça foi então sedada, levada para a sede da ONG e ganhou o nome da rodovia.
Foram diagnosticadas fraturas em costelas e um dente canino quebrado. Apesar das lesões, foi constatado que Anhanguera tinha potencial para voltar à natureza. O processo de recuperação do felino durou um ano e seis meses, até sua soltura em 10 de março de 2011 em uma mata da Serra do Japi.
Anhanguera, recuperada, prona para o retorno à vida livre em 2011
Foto: Divulgação Associação Mata Ciliar
A história de Anhanguera foi tratada como um caso de sucesso. O felino, com um rádio-colar, foi monitorado por meses, até a bateria do equipamento acabar. Por pouco mais de um ano, ele viveu novamente a plenitude de sua condição selvagem.
Repetindo o ocorrido em 2009, Anhanguera novamente voltou a estar na margem de uma estrada. Era 18 de abril de 2012. Dessa vez a faixa de asfalto tinha outro nome: rodovia dos Bandeirantes. Na altura do km 55, o felino aventurou-se para chegar à mata do outro lado e foi atropelado. A sorte não se repetiu: o impacto causou fraturas na coluna e nas costelas, além de ruptura do fígado e do diafragma. A morte foi instantânea.
Assim terminou a história de Anhanguera
Foto: Divulgação Associação Mata Ciliar
“A onça Anhanguera foi um marco da nossa luta pela conservação. Houve uma comoção muito grande quando soubemos da sua morte porque todos acompanhavam sua história e torciam por um final feliz. No entanto, ele mostrou que o fato de estar livre não garante a sobrevivência, isto é, o ambiente natural está sendo cada vez mais modificado e com tal rapidez que os animais não conseguem se adaptar”, salienta a veterinária e Coordenadora de Fauna da Associação Mata Ciliar, Cristina Harumi Adania.
A Associação Mata Ciliar atualmente conta com um centro cirúrgico especializado em atendimentos a animais silvestres, uma ambulância para resgates e mantém uma equipe com cinco veterinários que atende 24 horas. A ONG recebe, em média, 150 animais por mês (número que inclui os atropelados). Cristina afirma que a maioria dos bichos atropelados que atende são de casos ocorridos na via Anhanguera. De acordo com a concessionária que administra a estrada, CCR AutoBAn, 242 animais silvestres morreram na rodovia em 2010, 22 em 2011 e 183 em 2012. A empresa não faz campanhas educativas específicas sobre fauna silvestre, pois enfoca cuidados com animais domésticos e de produção, como gado e cavalos, que estão envolvidos com maior frequência nos acidentes.
- Releia “Atropelamento de fauna: 475 milhões é a dimensão do massacre”, publicado em 7 de maio de 2013 pelo Fauna News- Releia “Atropelamento de fauna: infraestrutura inadequada e falta de conscientização”, publicado em 8 de maio de 2013 pelo Fauna News - Releia “Atropelamento de fauna: o problema vai continuar”, publicado em 9 de maio de 2013 pelo Fauna News - Leia a matéria”Massacre nas estradas” publicada em maio de 2013 pela revista Terra da Gente