terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pesquisando o jacaré-açu: sem informação não se conserva

Muitas espécies são tão pouco estudadas, apesar de conhecidas há tempos, que sua conservação pode ser prejudicada. Afinal, sem conhecer toda a dinâmica e a interação do animal com seu hábitat e as suas características biológicas, como pode ser montada uma estratégia?

Pois o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (Amazonas), quer tirar das trevas da nossa ignorância o jacaré-açu.

“O jacaré-açu é o maior predador da América do sul, podendo atingir mais de cinco metros e pesar uma tonelada.

Filhotes de jacaré-açu
Foto: Divulgação / Insituto Mamirauá

A espécie é abundante em áreas de várzea do Brasil. No entanto, devido à ausência de informações sobre o status das populações ao longo de sua distribuição, é considerada pela União Internacional para a Conservação da Natureza como dependente de programas de conservação.”
– texto da matéria “Pesquisadores acompanham ninhos de jacaré-açu para entender reprodução da espécie”, publicada em 30 de janeiro de 2012 pelo site do jornal A Crítica

Para que possa ser elaborado algum programa de conservação, há a necessidade de conhecer a espécie. E os primeiros passos estão sendo dados:

“Pesquisadores do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert) acompanham desde outubro do ano passado mais de 400 ninhos de jacaré-açu durante toda a época de reprodução, que ocorre durante a temporada de seca na Amazônia. O trabalho está em fase de conclusão.” – texto de A Crítica

O que também chama a atenção é o fato de uma espécie tão comum na região ser tão desconhecida da ciência. Resultado da falta de investimentos em pesquisa no Brasil.

Até quando?

- Leia a matéria completa de A Crítica
- Conheça o Instituto Mamirauá

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Começar a semana pensando...

...na Paraíba, reincidente no tráfico de animais.

Uma face feia da Paraíba tem aparecido com frequência  na imprensa: a do tráfico de animais. Dessa vez, foi o site Patosonline.com que deu destaque ao problema: “IBAMA realiza mais uma apreensão de aves silvestres no Sertão”.

“O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) vem intensificando várias diligências no Sertão, principalmente na região polarizada por Patos, cuja ação dos fiscais culminou com a apreensão de várias aves consideradas de extinção.

Gaiolas com aves apreendias na Paraíba
Foto: patosonline.com

Foram apreendidas várias espécies de aves e os criadores multados por infringir a Lei do Meio Ambiente. A ação do IBAMA, que é desenvolvida com apoio inclusive das polícias, tem como finalidade coibir os crimes ambientais e as ações degradantes ao meio ambiente na região.

Mais de 400 (quatrocentas) aves foram aprendidas e levadas para Sede do órgão em Cabedêlo, onde será feita uma minuciosa triagem em cada pássaro e depois retornam ao sertão para serem devolvidos a natureza.”
- texto do patosonline.com

A ação aconteceu em 26 de fevereiro de 2012 e o resultado não me surpreendeu. Afinal, em 3 de maio de 2011, no post “Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres”, escrevi com base na matéria "Paraíba na rota do tráfico de animais", publicada em 6 de abril de 2011, do jornal paraibano O Norte:

“O jornal também salienta que 10% de todos os animais silvestres apreendidos no país estavam na Paraíba. As cidades que apresentaram um maior número de ocorrências foram Cajazeiras, João Pessoa, Patos e Itabaiana.”O que me chamou a atenção dessa vez foi a atitude daqueles que mantinham os animais em cativeiro durante a ação de fiscalização:

“Conforme a coordenadoria do IBAMA-PB muitos criadores tomaram iniciativa própria e realizaram espontaneamente a entrega das Gaiolas e pássaros para evitar uma punição mais severa em caso de flagrante.”
- texto do patosonline.com

Será que as pessoas tomariam essa atitude se a fiscalização não apertasse? Tenho cá minhas dúvidas... Para dizer o mínimo.

Para quem deseja, por motivos éticos ou legais, entregar os animais que mantém em cativeiro, pode fazê-lo sem receio.

Parágrafo 5º do artigo 25 do Decreto nº 6.154, de 2008:

“No caso de guarda de espécime silvestre, deve a autoridade competente deixar de aplicar as sanções previstas neste Decreto, quando o agente espontaneamente entregar os animais ao órgão ambiental competente.”

- Leia a matéria do Patosonline.com
Releia os posts do Fauna News sobre a Paraíba:
- “Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres”, de 3 de maio de 2011
- “Papagaios na Paraíba: duas vezes vítimas do tráfico e ninguém noticiou”, 16 de novembro de 2011

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Reflexão para o fim de semana: boto-vermelho é mais uma vítima da pesca sem controle

Em 22 de abril de 2011, publiquei o post “Reflexão para o fim de semana: símbolo da Amazônia, o boto-cor-de-rosa está sendo dizimado no Pará”, em que abordava a matança de botos-vermelhos (o Inia geoffrensis, também conhecido como boto-cor-de-rosa) para a utilização da carne como isca na pesca da piracatinga (Calophysus macropterus). De acordo com uma matéria do The New York Times, a população desses cetáceos no Pará estava caindo drasticamente por causa desse tipo de pesca.

Confesso que, até há pouco tempo, imaginava que o fenômeno fosse regional, restrito à região de Santarém. O problema está tão sério naquela área paraense que, em uma reserva, o número de botos caiu de 250 para 50 em dois anos.

 População de boto-vermelho caiu pela metade em 10 anos
Foto: Divulgação Ampa

Mas, para minha sacudir a minha ignorância no assunto, encontrei a matéria do portal G1 “Biólogos vão rastrear caça ilegal do boto-vermelho na Amazônia”, publicada em 20 de janeiro de 2012.

“Um levantamento que será realizado ao longo de 2012 por biólogos nas cidades de Manacapuru e Beruri, ambas no Amazonas, vai detectar os efeitos da pesca da piracatinga (Calophysus macropterus), peixe também conhecido como douradinha, sobre a população dos botos-vermelhos (Inia geoffrensis), também conhecidos como botos-cor-de-rosa.

Um rastreamento em frigoríficos e entrevistas com pescadores serão realizados por especialistas ligados à Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) e ao Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), para descobrir as práticas de pesca da douradinha, um peixe que consome carne apodrecida e é atraído por armadilhas onde a isca é a carne de boto.

A prática, difundida no interior do estado, também ocorre em zonas próximas a Manaus, capital do Amazonas. Segundo Sannie Brum, bióloga e pesquisadora da Ampa, frigoríficos têm financiado a pesca na região e causando o aumento da mortalidade de botos.”
– texto da matéria do G1

Essa pesca criminosa não é exclusiva do Pará. Ao que parece, a matança de botos-vermelhos está acontecendo em boa parte da Amazônia. Os pesquisadores da Ampa querem entender esse mercado, quanto custa o quilo do pescado e para quem é vendido para tentar encontrar alternativas para evitar a caça do boto na captura da piracatinga (também conhecida como douradinha). Eles também querem, a partir do levantamento, ajudar na identificação dos locais onde há a necessidade da melhora na fiscalização e de um trabalho de conscientização das comunidades.

Pescadores têm usado isca de boto para capturar a piracatinga
Foto: Divulgação Ampa

“De acordo com um estudo divulgado em 2011, em dez anos a população de botos da Amazônia reduziu pela metade. O levantamento, feito por amostragem na região de Tefé, apontou que morre por ano uma quantidade de animais sete vezes maior que o limite permitido.” – texto da matéria do G1

A pesca, no Brasil, ainda clama por uma atenção e uma gestão profissional e sustentável por parte do poder público e dos empresários. Assim como os botos estão sofrendo, tartarugas-marinhas, atuns e tubarões, só para citar alguns exemplos, estão sendo extintos pela prática irracional de uma atividade econômica.

- Leia a matéria do portal G1
- Releia “Reflexão para o fim de semana: símbolo da Amazônia, o boto-cor-de-rosa está sendo dizimado no Pará”, de 22 de abril de 2011

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Elefantes ameaçados: quando não é pelo marfim, é pela perda de hábitat

Normalmente, chama nossa atenção a redução da população de animais pela caça. Afinal, as cenas de animais mortos (menos de peixes!!!) nos fazem sentir compaixão. O sentimento é nobre, mas nos deixa na superficialidade do problema.

E isso também acontece quando abordamos os elefantes. Na imprensa, meio que temos para nos manter informados sobre o que acontece no mundo, encontramos notícias e reportagens sobre a caça desses grandes mamíferos motivada pelo comércio ilegal de suas presas, o marfim. A “notícia espetáculo” deixa outras causas da pressão humana sobre as demais espécies em segundo plano. É o caso da perda de hábitat.

Elefantes-de-Sumatra: extinção em 30 anos?
Foto: Sutanta Aditya / AFP Photo

A expressão “perda de hábitat” sempre está presente nas matérias e nas entrevistas de especialistas. Mas somente essa expressão, sem mais detalhes e depois de várias outras causas que chamam mais a atenção (como a caça, por exemplo).

E, salvo engano, quando são veiculadas matérias sobre a devastação da Amazônia, do Cerrado ou de qualquer outro bioma mundial, temos a impressão que o problema se restringe à perda de árvores, à produção de água e ao aquecimento global.  E as consequências do desmatamento para a fauna silvestre? O novo Código Florestal e Belo Monte não são abordados com a frequência que deveriam  sobre esse viés...

Tudo se explica com a fria expressão “perda de hábitat”.

Mas essa “perda de hábitat” tem conseqüências sérias...

“24 Jan (Reuters) - O elefante de Sumatra, na Indonésia, poderá ser extinto da natureza em menos de 30 anos a menos que medidas imediatas sejam tomadas para proteger o seu habitat, que está rapidamente desaparecendo, disse o grupo de proteção ambiental WWF, nesta terça-feira.

A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês) elevou a classificação da subespécie de elefantes de Sumatra de "em perigo de extinção" para "criticamente em perigo de extinção", após quase 70 por cento de seu habitat e metade de sua população ter desaparecido em uma geração.

Os maiores culpados são a devastação do habitat ou sua conversão para uso da agricultura, uma prática que também aumentou o risco de extinção para o tigre-de-Sumatra e o Rinoceronte-de-Java.”
– texto da matéria “Elefantes de Sumatra estão próximos da extinção, diz WWF”, publicada pela agência Reuters Brasil em 24 de janeiro de 2012

A ONG WWF, em seu site, informa:

“Em Riau, província de Sumatra, onde as indústrias de papel e celulose e plantações de dendê estão causando a algumas das taxas mais rápidas do mundo de desmatamento, o número de elefantes caiu incríveis 80% em menos de 25 anos. A fragmentação de hábitats tem confinado alguns rebanhos em pequenas manchas florestais, e essas populações não têm chances de sobreviver no longo prazo.”

O elefante-de-Sumatra (Elephas maximus sumatranus): vítima do desmatamento
Foto: WWF-Indonesia/Samsul Komar

A organização ainda alerta:

‘"O elefante de Sumatra se junta a uma lista crescente de espécies indonésias que estão criticamente em perigo, incluindo o orangotango-de-Sumatra, o rinoceronte- de-Sumatra, o rinoceronte-de-Java e o tigre-de-Sumatra", disse Dr. Carlos Drews, diretor do Programa Global de Espécies do WWF.’

A partir de agora, vamos refletir um pouco mais quando lemos matérias sobre desmatamentos e sobre a expressão “perda de hábitat”.

- Leia a matéria da agência Reuters Brasil
- Leia sobre o problema dos elefantes-de-Sumatra no site do WWF (em inglês)
Releia os posts do Fauna News:
-“Orangotangos: sofrimento também quando são criados como pets”, de 4 de janeiro de 2012
- "Reflexão para o fim de semana: vaidade assassina com marfim", de 6 de janeiro de 2012
- “Começar a semana pensando...”, de 5 de setembro de 2011 (sobre os tigres-de-Sumatra)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Anilhas: taí algo que se mexer fede

Em operações de combate ao tráfico de fauna do Ibama ou das polícias, às vezes, há o encontro anilhas (aqueles anéis de identificação que ficam nas pernas das aves) falsificadas. A intenção dos criminosos é “esquentar” o animal, isto é, fazer com que o bicho capturado na natureza seja considerado nascido em cativeiro. Mas esse artifício dos criminosos não é tão incomum como parece.

“Um criador de pássaros foi preso em Taboão da Serra pela Polícia Federal na última sexta-feira, dia 20, acusado de falsificar anilhas de identificação de pássaros com a sigla do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e por maus tratos aos animais.
Trinca-ferro com anilha apreendido em Taboão da Serra (SP)
Foto: Divulgação / Polícia Federal

A ação da Polícia Federal em parceria com o Ibama aconteceu devido a suspeitas da falsificação durante a última fiscalização feita pelo órgão ambientalista. A tática do criador era identificar com anilhas falsas animais ameaçados de extinção como nascidos em cativeiro e não em ambiente silvestre, como era a real origem dos pássaros.” - texto da matéria “Homem é preso por falsificar identificação de pássaros silvestres”, publicada em 24 de janeiro de 2012 pelo Portal O Taboanense

A prisão ocorrida nesse município da Região Metropolitana de São Paulo não deveria ser um fato tão incomum. Pelo contrário, deveria ser rotineiro. Afinal, não é de hoje que os fiscais do Ibama e as polícias sabem que anilhas são falsificadas e comercializadas no mercado negro de animais silvestres, principalmente em criadouros legalizados pelo Ibama e que são pouco fiscalizados.

No caso de Taboão da Serra, além do crime de “falsificação de selo público”, o criador também responderá por maus tratos.

“Foram apreendidas nove aves, um pintassilgo, três galos-da-campina, quatro trinca-ferros e um azulão que está ameaçado de extinção, todos os pássaros foram encaminhados ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres (Cras). Durante a atuação também foram identificados sinais de maus tratos aos animais e más condições de higiene.” - texto de O Taboanense

Em 31 de agosto de 2011, publiquei “359 vítimas do tráfico de animais”. Nesse post abordei um caso parecido, resultante de uma operação nos estados de São Paulo e Minas Grais que prendeu duas pessoas e apreendeu 358 aves e um filhote de jiboia.

Pássaro apreendido com anilha falsa em agosto de 2011
Foto: Divulgação / Polícia Federal

“As investigações tiveram início há alguns meses quando a PF teve conhecimento de que o grupo investigado estava capturando irregularmente grande quantidade de animais silvestres nas matas localizadas na região de Jales e outros municípios do estado de São Paulo. O objetivo do grupo era comercializar ilicitamente tais animais. Além disso, para conferir um aspecto de legalidade ao transporte, posse e comércio de pássaros, as quadrilhas falsificavam ou adulteravam as anilhas fornecidas pelo Ibama, o que configura o crime de falsificação de selo ou sinal público. (...)” – texto publicado no post “359 vítimas do tráfico de animais”

- Leia a matéria do Portal O Taboanense
- Leia a matéria de divulgação da Polícia Federal
- Releia “359 vítimas do tráfico de animais”, post publicado em 31 de agosto de 2011

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Na luta contra a cracolândia da fauna silvestre

Guardadas as devidas proporções, o comércio escancarado de animais silvestres na feira livre de Duque de Caixas, no estado do Rio de Janeiro, é muito similar ao escandaloso comércio de drogas na região da Luz da cidade de São Paulo, a cracolândia. Em ambos os locais, o tráfico (de animais ou de entorpecente) escancara para a sociedade a incompetência do poder público em lidar com o problema.

Sem educação ambiental e repressão competente, a venda de animais silvestres instalou-se há anos na tradicional feira fluminense.

Filhote de gavião carcará apreendido em 15 de janeiro de 2012 na feira livre de Duque de Caxias
Foto: Márcio Leandro

Sem uma política de prevenção ao uso de drogas e repressão competentes, a venda e o consumo de crack instalaram-se há anos na mais famosa cracolândia paulistana – afinal, não é a única!

Janeiro de 2012: Cracolândia, na região central de São Paulo
Foto: Nelson Antoine/Fotoarena

Assim como na cidade de São Paulo, onde o governo do Estado e a prefeitura se mobilizaram desde 3 de janeiro de 2012 para acabar com aquele cenário deprimente de seres humanos doentes e esquecidos, algo parecido começa a ser feito em Duque de Caxias:

“Rio - Apontada como maior centro de comércio ilegal de animais silvestres a céu aberto do País, a feira livre de Duque de Caxias, no bairro 25 de Agosto, vai, finalmente, ganhar um posto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O objetivo é fechar o cerco aos traficantes, inclusive internacionais, que, aos domingos, negociam animais da fauna brasileira, muitos em risco de extinção.

A força-tarefa envolve outros órgãos ambientais, municipais e estaduais, como o Batalhão de Polícia Florestal (BPFMA), a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) e o Instituto Estadual do Ambiente (Inea).”
– texto da matéria “Polícia, prefeitura e estado montam força-tarefa para controlar feira de Caxias”, publicado em 22 de janeiro de 2012 pelo jornal O Dia

Fiscais do Ibama na Feira de Duque de Caxias
Foto: Márcio Leandro

Da mesma forma como a ação na cracolândia foi marcada, inicialmente, pela dura ação policial, a repressão se fará presente em Duque de Caxias.

Janeiro de 2012: grávida na/da Cracolândia
Foto: Apu Gomes/Folhapress

Da mesma forma que se exige, na cracolândia, ações de resgate social e da área de saúde, espera-se que, em algum momento, o poder público atue na conscientização da população sobre os perigos à saúde humana e sobre os males aos ecossistemas envolvidos na compra de animais silvestres de traficantes.

Ou, como está acontecendo na cidade de São Paulo, a cracolândia da fauna silvestre de Duque de Caxias só vai mudar de endereço...

- Leia a matéria completa do jornal O Dia
- Leia a matéria da prefeitura de Duque de Caxias

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Começar a semana pensando...

...no futuro Cetas de Barueri. Coragem.

Um dos principais problemas relacionados à gestão da fauna silvestre no Brasil é a infraestrutura precária dos centros de recebimento, tratamento e reabilitação (para soltura ou não) de animais. O sistema do Ibama, formado pelos Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres), não consegue dar conta da quantidade de animais apreendidos do tráfico, vítimas de acidentes dos mais diversos tipos (rodovias e fiação elétrica, por exemplo) ou que entram na área urbano por algum motivo. Essa situação é resultado da falta de investimentos nessa área, deixando os centros desestruturados, sem recursos e com mão-de-obra insuficiente.

Mas essa situação não é “privilégio” do Ministério do Meio Ambiente. Nos estados e municípios a situação é pior, afinal a maioria dos outros entes da federação sequer estrutura têm para cuidar da fauna silvestre. E para os que não sabem, essa é uma obrigação compartilhada por todos (União, estados e municípios), de acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981).

Sem essa infraestrutura, são as ONGs que acabam suprindo a deficiência do poder público; trabalho esse feito com muito esforço e dificuldade. Escrevi sobre isso em “Cuidar da fauna silvestre: burocracia, falta de apoio e jogo de empurra”, de 12 de janeiro de 2012.

Ás vezes, mas muito às vezes mesmo, aparece um gestor público que lembra da fauna silvestre. E quando isso acontece, o fato tem de ser salientado e muito bem acompanhado. É o caso de Barueri, cidade da Região Metropolitana de São Paulo.

“O município de Barueri inaugurará em breve um equipamento público pioneiro na região, cuja destinação será receber e tratar animais silvestres encontrados em situação de risco por causa da urbanização da cidade, bem como os que tenham sido aprendidos após terem estado em cárcere para o comércio ilegal.

Área onde está sendo constrído o Cetas de Barueri
Foto: Divulgação Prefeitura de Barueri

Trata-se do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), cuja obra de construção, promovida pela Prefeitura local, teve início sob aval do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com prazo de conclusão estipulado para o fim do primeiro semestre de 2012, conforme nota oficial da Prefeitura.” - texto da matéria “Prefeitura de Barueri inicia construção do Cetas”, publicada em 6 de janeiro de 2012 pelo jornal Página Zero

De acordo com texto de divulgação da prefeitura, “Barueri é a primeira cidade da região oeste da grande São Paulo a desenvolver uma política direcionada à reabilitação de animais silvestres. A demanda nessa área é de quase 30 mil animais registrados entre 2000 e 2007, segundo levantamento do 2° Pelotão da Polícia Militar Ambiental de São Paulo. Atualmente os animais são encaminhados para a unidade do Cetas da capital.”

O Cetas de Barueri está planejado para receber entre 2 mil e 3mil animais por ano, o que representa cerca de 167 a 250 animais por mês. O fato é que, assim como Barueri enviada os animais apreendidos em seu território para a cidade de São Paulo, o novo centro passará a receber bichos de outros municípios.

Ilustração da futura sede do Cetas de Barueri
Fonte: Prefeitura de Barueri

Espero estar errado, mas rapidamente o Cetas de Barueri estará lotado e não conseguirá equalizar o fluxo entra-saída, por um simples motivo: a grande maioria dos animais apreendidos na Região Metropolitana de São Paulo são aves originárias dos estados do Nordeste, Centro-oeste e Norte do país. Logo, esses animais não podem ser soltos no território paulista. E esse fato, pelo texto da prefeitura, parece não ter recebido a devida atenção. Veja:

“Após apreensão, tratamento e avaliação dos biólogos, os animais só podem ser soltos em locais de ocorrência de sua espécie, que sejam áreas autorizadas pelo Ibama. (...)

 Os animais encaminhado para o Cetas Barueri, que não têm ocorrência nesta região, serão devolvidos para outras áreas de soltura autorizadas pelo Ibama, em seus locais de origem.”


A dificuldade começa em identificar exatamente a região de origem. Pior que isso é conseguir enfrentar com sucesso a burocracia do Ibama para a soltura, depois de todo o trabalho para reabilitar os animais.

Espero que a prefeitura de Barueri não esteja sendo tão ingênua quanto está sendo corajosa em enfrentar essa dura realidade. Torço pelo sucesso e para que sirva de exemplo para outros gestores públicos.

Torço também para que o Cetas de Barueri não siga o exemplo do CEMAS (Centro de Estudos e Manejo de Animais Silvestres), que foi inaugurado em 2002 no Parque Estadual Alberto Löfgren, na zona note da cidade de São Paulo, e desativado em meio a um turbilhão de denúncias de envolvimento de funcionários e colaboradores com tráfico de fauna (o desaparecimento de 101 animais e a existência de 72 bichos sem registro). Tudo isso após o investimento de R$ 1.28 milhão de compensações ambientais e de uma parceria com a Petrobras.

 ‘“Nossa cidade está dando um passo de muita coragem com a instalação do Cetas Barueri, já que é grande a responsabilidade de cuidar de nossa fauna, que tem sido muitas vezes deixada de lado. Nossa população pode ter orgulho, porque aqui faremos um trabalho verdadeiro de proteção aos animais silvestres”, comentou o secretário municipal de Meio Ambiente, Marco Antonio de Oliveira, o Bidu.’ - texto do Página Zero

Boa sorte, Barueri!

- Leia a matéria do jornal Página Zero
- Leia o texto da prefeitura de Barueri
- Releia “Cuidar da fauna silvestre: burocracia, falta de apoio e jogo de empurra”, de 12 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Reflexão para o fim de semana: matar por lazer. E com criança junto

Em 17 de janeiro de 2012, o jornal britânico The Sun (adjetivado por muitos como “sensacionalista”) publicou uma matéria sobre turistas que pagam para caçar girafas na África. A publicação, que não pode ser tratada como uma denúncia (como o portal G1 a classificou no texto "Famílias realizam safáris na África e caçam girafas por diversão, diz jornal") pelo fato de a atividade ser realizada há anos e legalmente, podendo ser contratada em vários pacotes de viagens, chamou bastante a atenção pelas fotos.

É o velho hábito da imprensa em promover “notícia-espetáculo”. Esse produto vende muito, tanto que chamou a atenção e aqui estamos nós discutindo a matéria. Mas vamos ao que interessa...


 Na matéria “Giraffes gunned down for family holiday 'fun'” (algo como “Girafas mortas a tiros por diversão em férias de família”), o especialista da Giraffe Conservation Foundation, Julian Fennessey, conta que a maioria dos que procuram esse tipo de atividade é da América do Norte, Alemanha, Rússia e Escandinávia, mas também há ingleses.

"Alguns caçadores apenas gostam de ter fotos tiradas ao lado da girafa morta. Mas outros pagam taxidermistas para montar a cabeça para que eles possam levá-las para casa como recordação. Ou eles podem querer tirar a pele." - fala do especialista para o The Sun

Esses safáris custam cerca de 10 mil libras (mais de 27 mil reais).

E, como escrevi no título, até criança testemunha essa prática e faz pose com a família. O que esperar desses pequenos quando se tornarem adultos?

Simples: a repetição grotesca desses erros e a manutenção da visão antropocêntrica da existência da natureza para servir os seres humanos. E assim vamos acabando com o planeta.

Sobre as girafas, a matéria do The Sun afirma que a população caiu quase pela metade desde 1988 (de mais de 140 mil para menos de 80 mil). Apesar de ameaçadas de extinção, na África do Sul, Namíbia e Zimbabwe, a caça ainda é legal em reservas particulares autorizadas a explorar comercialmente essa prática.

Girafas em área protegida: Kruger Park, África do Sul
Foto: Dimas Marques

A matéria do The Sun, que inicialmente parecia questionar essa modalidade de caça (basta ver as aspas no termo fun (diversão), perdeu esse tom e terminou com uma defesa da matança turística. Tanto que há apenas um entrevistado condenando a caça: Joe Duckworth, da The League Against Cruel Sports.

"É inacreditável que algumas pessoas achem ser aceitável matá-los para ter sua foto com o animal morto."

A defesa da caça ganha forçar a partir da declaração do dono de uma área de caça:

"Haverá sempre a emoção de pessoas que não são caçadores quando vêem animais mortos, mas estas são práticas muito regulamentadas. Rinocerontes e outros animais foram salvos mediante a conservação e o dinheiro para a conservação gerado a partir de caça."

Apesar de não esperar outra coisa do comerciante em questão, faço um grande parênteses para alertar sobre a declaração desse senhor. Primeiramente, nunca se matou tantos rinocerontes como em 2011. Somente na África do Sul, país que abriga 40% do total dos rinocerontes-negros e 93% dos brancos, em estado selvagem, o órgão estatal que gerencia os parques nacionais (South African National Parks) divulgou que 448 animais das duas espécies foram mortos apenas em 2011. Um aumento de 34,5% em relação ao ano anterior.

Devo também salientar que a exploração da caça para financiar a conservação é bastante controversa e aplicada em vários países.

Para encerrar a matéria reforçando a defesa da caça, o The Sun publicou a declaração do especialista da Giraffe Conservation Foundation, alegando que nos países onde é possível caçar legalmente, as populações de girafas estão aumentando.

"Isso mostra que se for bem gerida, a caça pode ser sustentável."

Essa visão prática da conservação desse profissional é bastante difundida mas, para mim, pouco ética. A vida em de ser preservada e não negociada...

- Leia a matéria completa do The Sun
- Leia a matéria do G1 "Famílias realizam safáris na África e caçam girafas por diversão, diz jornal"
- Conheça a Giraffe Conservation Foundation

Girafa em Kruger Park, África do Sul
Foto: Dimas Marques

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Lobo-guará no litoral? Sim, em Ubatuba (SP)

Encontrei em 16 de janeiro de 2012, no Facebook, uma foto que me chamou a atenção. Era um lobo-guará morto ao lado de uma rodovia. Por si só, a imagem me lembrou dos inúmeros posts que já escrevi sobre atropelamentos de animais silvestres. Mas, dessa vez, algo mais estava envolvido: o animal estava em Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo.

Não sou biólogo, mas nunca soube da presença de lobo-guará em Mata Atlântica tão próxima do mar. Em Ubatuba então... Entrei em contato com Edélcio Muscat (biólogo da ONG Projeto Dacnis), que divulgou a foto, e recebi o texto abaixo.

Primeiro registro de lobo-guará no litoral acontece em Ubatuba
Por Elsie Rotenberg - Presidente Projeto Dacnis

Um achado inédito para Ubatuba ocorreu na segunda-feira, 16 de janeiro, da forma mais imprevista: às 7 horas da manhã, o biólogo da ONG Projeto Dacnis, Edélcio Muscat, recebeu um telefonema relatando o atropelamento de um lobo-guará na Rodovia Rio-Santos. Um tanto incrédulo – a presença do maior canídeo da América do Sul nunca fora relatada em Ubatuba –, Edélcio se deslocou para o local com o auxiliar de campo, Beto Chagas, e para sua surpresa viu tratar-se mesmo de um lobo-guará.

“Primeiro fui averiguar se o animal ainda estava vivo, pois não podia acreditar que o primeiro registro da espécie para Ubatuba pudesse estar morto”, relatou. “Infelizmente, a constatação foi a pior. Por outro lado pensei: a espécie habita ou está habitando nossas florestas!”

Foto: Edélcio Muscat

Isso é extremamente importante porque o lobo-guará vive em áreas de cerrado e campo, embora apareça em matas mais fechadas em altitudes maiores – como em Itatiaia e na Serra da Bocaina, ambas no estado do Rio de Janeiro. Até agora, não havia relatos da ocorrência da espécie no litoral. Ubatuba acaba de mudar isso.

Edélcio imediatamente acionou Marli Penteado, coordenadora de Pesquisa da Estação Ecológica Tupinambás, na sede do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio, órgão ambiental do governo federal) em São Sebastião, e juntos colocaram os protocolos legais e científicos em andamento. Era preciso coletar material biológico para testes de DNA – é vital saber se esse indivíduo faz parte de alguma população conhecida de lobos ou se representa uma nova população – e preservar a carcaça na coleção do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP).

Tanto o museu quanto o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), ligado ao ICMBio, ficaram surpresos e entusiasmados com o registro do lobo-guará em Ubatuba, especialmente por se tratar de ocorrência inusitada no litoral do Estado de São Paulo. As causas para a expansão da área da espécie poderiam também estar associadas aos desmatamentos da Mata Atlântica, fato que tem instigado pesquisadores no estado do Rio de Janeiro.

Foto: Edélcio Muscat

A vítima do atropelamento era uma fêmea adulta, pesando 28 quilos. É provável que existam outros lobos na área pois, apesar de viverem solitariamente, sua época de reprodução se inicia em breve. Serão necessários estudos e pesquisas para tentar encontrá-los e protegê-los em nosso município. O lobo-guará é uma espécie vulnerável à extinção e uma das principais causas de mortalidade são justamente os atropelamentos. As estradas em Ubatuba cortam florestas primárias e rotas de deslocamento conhecidas – porém não sinalizadas, algo que deveria ser pensado – de várias espécies animais. Agora o lobo-guará é mais uma delas.

- Conheça a ONG Projeto Dacnis

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Fauna News completa 1 ano! O 1º ano...

Em 18 de janeiro de 2011, publiquei o primeiro post do Fauna News. Com “Nosso primeiro contato...” saia do mundo das idéias esse projeto de escrever o mais possível sobre tráfico de animais e conservação da fauna silvestre.

“Sempre que leio, ouço ou assisto, aqui por São Paulo, notas e matérias sobre assuntos relacionados à fauna, paro alguns instantes para uma breve reflexão. Tenho cá minhas impressões e conclusões, que acabo por guardá-las comigo na maioria das vezes, sem compartilhá-las com um tanto de gente que sei manter interesse em trocar informações e opiniões sobre o assunto.

Resolvi então expor algumas dessas minhas reflexões, muitas dúvidas e as informações que me chamam a atenção. Tenho uma atenção toda especial com o problema do tráfico de animais silvestres, que vou abordar constantemente.”
– trecho de “Nosso primeiro contato...”

A partir do noticiário ou de artigos escritos por especialistas, faço meus comentários e contextualizo as informações. Essa prática nasceu do contato diário com jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão e site, que, infelizmente, ainda abordam a fauna silvestre com “ares de espetáculo pelo diferente” e com superficialidade.

O Fauna News vai crescer e ganhar espaço. Atingir mais gente e levar sua mensagem mais longe. Aguarde por novidades...

Muito obrigado a você que já me acompanha, tanto diretamente no blog, quanto na fanpage do Facebook (www.facebook.com/faunanews) ou no perfil do Twitter (@FaunaNews).

O Fauna News completa 1 ano! O 1º de tantos outros que, com certeza, virão.

Muito obrigado.

Dimas Marques


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Depois dos 517 papagaios, agora é a vez dos 1.870 canários: descaso do poder público

Proteger e recuperar o meio ambiente são responsabilidades de todos nós, mas uma obrigação legal da União, dos estados e dos municípios. Tal obrigação está registrada e descrita na Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981).

Apesar da Lei, o poder público é, em geral, omisso e irresponsável quando o assunto é “fauna silvestre”. E quando se aborda o tratamento que se dá aos animais apreendidos com traficantes ou que necessitam de algum tipo de assistência, a situação é escandalosa. O Ibama mantém uma rede de Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres) espalhada pelo país totalmente deficiente e sem infraestrutura para atender a demanda. Reforçando o descaso estão os estados e os municípios. inexistente

Um exemplo da carência que os Cetas enfrentam ocorreu quando, em de 2011, em setembro de 2011, 517 papagaios foram apreendidos por policiais federais com traficantes em Pernambuco. As aves foram levadas para o Cetas de Recife. E o que aconteceu...?

“Com apenas três funcionários, o Cetas teve que pedir ajuda. Segundo Edson Lima, analista ambiental do Ibama, tudo começou com uma mensagem via e-mail para um grupo de cinco pessoas. “A mensagem foi colocada em sites de relacionamento e houve uma ‘explosão’ de voluntários nos procurando para alimentar esses animais”, disse Lima. (...)
Voluntários recebendo instruções no Ibama de Recife
Foto: Paulo Barros

“Além do alimento, precisávamos de seringas, luvas e óculos especiais para quem fosse cuidar dos bichos. Estamos tendo ajuda de duas organizações ambientais, uma brasileira e uma norte-americana, que estão nos doando os materiais”, disse Edson Lima.” – trecho do post “517 de filhotes de aves escancaram o descaso do poder público com a fauna silvestre”, publicado pelo Fauna News em 6 de outubro de 2011

O problema no Cetas do Recife não aconteceu pela grande quantidade de aves apreendidas. Se o número de animais fosse menor, a crise seria a mesma.

Ou você acha que três funcionários sem infraestrutura têm super poderes?

E como o poder público não se mexe, cabe às ONGs trabalharem para suprir a lacuna. Foi o que aconteceu em Recife, com a ECO - Organização para a Conservação do Meio Ambiente, que correu para ajudar e está acontecendo com a SOS Fauna, de Juquitiba (SP).

“Na madrugada de ontem, 12 de janeiro, a Guarda Civil de Barueri interceptou um caminhão de carne vindo de Mato Grosso do Sul, na cabine 1.200 canários-da-terra, posteriormente após a continuidade do trabalho, a Delegacia de Policia de Meio Ambiente de Carapicuíba assumiu. Na diligência à residência do suspeito, lá foram encontradas mais 670 aves.




Caminhão onde estavam os canários

A Delegacia de Meio Ambiente de Carapicuíba tentou, de todas as formas apoio ao recebimento das aves juntos às instituições oficiais, porém ocorreu a negativa de todos em receber as aves. Paralelamente a isso nos solicitou para apoio em relação aos primeiros socorros, e assim fizemos. Ocorre que acabamos, além de prestar os devidos socorros iniciais, por receber as aves onde, aos poucos, vamos tentar encaminhas à outras instituições. A grande maioria dos canários-da-terra apreendidos são originários do Peru, vindo através do estado de Mato Grosso do Sul para São Paulo.”
– relato do presidente da SOS Fauna, Marcelo Pavlenco da Rocha, no Facebook


Veja o apelo que Marcelo está fazendo por e-mails e redes sociais:

“Caros amigos e colaboradores da SOS Fauna,

 Como já era esperado e uma situação que deve se prolongar por alguns dias, acabamos recebendo os mais de MIL E OITOCENTOS canários-da-terra peruanos apreendidos na última 5ª feira, 12 de janeiro – CONFORME RELATO MAIS ABAIXO, CORPO DESTE E-MAIL. Mesmo porque as instituições oficiais não puderam receber!!!

 Estamos trabalhando média 16/17 horas/dia, nossas taxas de óbito até o momento não ultrapassam os 3%, porém as dificuldades vieram justamente no momento da finalização do trabalho de devolução dos papagaios ao Mato Grosso do Sul.

Necessitamos COM TODA URGÊNCIA DO MUNDO os itens relatados abaixo, pois o momento é CRÍTICO e para manter as quase DUAS MIL AVES vivas, além das que aqui já estavam, há muito que se fazer. As quantidades citadas abaixo são apenas cálculos aproximados pelos próximos 30 dias.”
– trecho do e-mail

E a situação da SOS Fauna não é a única. Diversas outras enfrentam esse caos diariamente. Vou destacar o que foi escrito pelo Marcelo: “Mesmo porque as instituições oficiais não puderam receber!!!”

Isso é descaso! Para dizer o mínimo...

Para ajudar a SOS Fauna:
SOS Fauna – Órgão de Defesa da Fauna e Flora Brasileira
Banco Itaú S/A – Banco 341 – Agência 0196 – Conta Corrente nº 60.720-4
CNPJ para casos de DOC: 03.884.927/0001-20


Entre em contato com a SOS Fauna para mais informações: sosfauna@sosfauna.org

- Leia mais sobre a apreensão dos 1.870 canários na matéria do potal G1
- Conheça a SOS Fauna
- Conheça a ECO - Organização para a Conservação do Meio Ambiente
- Releia “517 de filhotes de aves escancaram o descaso do poder público com a fauna silvestre”, publicado pelo Fauna News em 6 de outubro de 2011

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Começar a semana pensando...

...que bom quando as coisas não ficam só no papel!

Em 20 de outubro de 2011, escrevi sobre um projeto para reduzir atropelamentos de animais silvestres na BR-262, em Mato Grosso do Sul. Está no post “Rodovias: começaram a pensar nos animais”:

“Pensando na redução dos atropelamentos na BR-262, que fica no trecho dentro do Pantanal, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) estabeleceu programas ambientais que devem ser executados durante todo o período de recuperação da estrada, na restauração de pavimento e implantação de acostamentos, previsto até maio de 2012. (...)

No monitoramento inicial feito desde junho pela Universidade (Universidade Federal do Paraná), foi relacionado o atropelamento de 1400 animais de 88 espécies no período de um ano entre Campo Grande e Corumbá, num trecho de 410 km (estudos de Fischer em 97, 2003) e constatado o atropelamento de 57 espécies no trecho de 284,2 km entre Anastácio e Corumbá, em dois meses de monitoramento.”


Nesse contexto, será realizada uma campanha de conscientização durante o Carnaval, em Corumbá (MT).

“Durante o Carnaval de Corumbá, o Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura (ITTI), que estuda o impacto ambiental do tráfego de veículos na BR-262, vai realizar uma campanha de conscientização em diferentes pontos da rodovia. O objetivo é evitar o atropelamento de animais silvestres neste período, quando o movimento aumenta consideravelmente na estrada federal.” - texto da matéria “Campanha vai conscientizar motoristas na BR-262 durante Carnaval”, publicada em 11 de janeiro de 2012 pelo site do jornal Correio de Corumbá

Foto: Diário de Corumbá

E a campanha vai utilizar música e jingles para rádios da região.

“O CD possuiu doze faixas e foi distribuído em vários veículos de comunicação da cidade. As mensagens informam aos usuários da BR-262 sobre a vasta biodiversidade do pantanal e a presença de vida silvestre ao longo da rodovia, reforçando a necessidade de atenção aos impactos ambientais causados pela mesma, como atropelamento de animais, geração de lixos e resíduos, desmatamento, queimadas e outros.” - texto do Correio de Corumbá

O trabalho procura atingir todas os atores sociais envolvidos com o cotidiano da rodovia.

“É o caso das comunidades lindeiras (associações de moradores e assentamentos), profissionais que trabalham na duplicação da rodovia, escolas e autoridades dos órgãos municipais, estaduais e federais, bem como os motoristas profissionais de empresas de transporte, sejam caminhões ou ônibus, e seus passageiros. As ações de conscientização serão desenvolvidas no Porto Seco de Corumbá, na empresa Andorinha, no pedágio e em restaurantes e outros pontos turísticos da região.” – texto do Correio de Corumbá

- Leia a matéria completa do Correio de Corumbá
- Conheça o trabalho do Instituto Tecnológico de Transporte e Infraestrutura (ITTI), da Universidade Federal do Paraná, e ouça alguns dos jingles
- Releia “Rodovias: começaram a pensar nos animais”, publicado pelo Fauna News em 20 de outubro de 2011

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Reflexão para o fim de semana: o hobby que movimenta o tráfico

Manter aves em gaiolas, isto é, roubar a liberdade de um ser vivo e causar desequilíbrio em ecossistemas, ainda é justificado como hobby.

“Quarenta animais silvestres foram apreendidos no município de Limoeiro, agreste do estado. De acordo com a polícia, as aves estavam numa casa localizada na Rua Antônio Nicolau Teixeira, nº84, Bairro José Fernandes Salsa.

A ação ocorreu por volta das 11h desta terça-feira (10) em cumprimento a um mandado de busca e apreensão. No local os policiais encontraram 37 canários-da-terra, dois galos-de- campina e ainda um periquito jandaia. Os canários estavam em um viveiro, já o periquito e os dois galos-de-campina estavam em gaiolas. A residência pertence a um homem identificado como Luis Lucas da Silva, 58 anos, que em depoimento oficial disse que criava os animais como "hobby".”
– texto da matéria “Polícia apreende 40 animais silvestres em Limoeiro”, publicada em 11 de janeiro de 2012 pelo site do jornal Diário de Pernambuco


Imagem ilustrativa.

Essa prática é uma herança que está difícil de ser eliminada...

Xerimbabo. Na língua tupi a palavra quer dizer “coisa muito querida” e é utilizada pelos indígenas para designar animais silvestres tratados como bichos de estimação. O hábito faz parte da cultura desses povos que mantêm soltos nas aldeias araras, papagaios, periquitos, primatas e vários outros tipos de animais. Nunca se tentava domesticar as espécies, mas sim os espécimes. Lógico que, com o contato com a cultura do “homem branco”, muito tem mudado.

Mas esse costume se misturou com o também antigo hábito da civilização européia que, desde a Idade Média, cria animais silvestres, seja como pet seja como mercadoria ou fonte de alimento. A mistura dessas tradições forjou um forte traço na vida dos brasileiros, que gostam de criar silvestres como aves e macacos em suas residências.

E justamente esse hábito sustenta o tráfico de animais e mostra o quanto se pode maltratar um bicho pelo prazer egoísta de mantê-lo próximo. E não há exagero nenhum nessa afirmação.”
– texto do post “Macaco-prego albino é vítima de um hábito cruel” publicado pelo Fauna News em 20 de junho de 2011

Quanto ao sujeito flagrado com tantos animais...

“Luis Lucas assinou um Termo de Compromisso e Responsabilidade e foi liberado para responder o processo em liberdade.” – texto do Diário de Pernambuco

- Leia a matéria completa do Diário de Pernambuco
- Releia o post “Macaco-prego albino é vítima de um hábito cruel”, de 20 de junho de 2011

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cuidar da fauna silvestre: burocracia, falta de apoio e jogo de empurra

Tenho contato com algumas pessoas que são responsáveis por instituições que recebem, recuperam e tentam, na medida do possível, devolver à vida livre animais silvestres. E é comum a todos (desculpe o pleonasmo) problemas financeiros e a luta contra a falta de apoio do poder público. Quem acompanha um pouco o cotidiano dessas ONGs se depara, com certa frequência, com seus representantes divulgando campanhas para arrecadar fundos ou com os problemas que a burocracia estatal impõe.

Vamos a um exemplo. Primeiro, a burocracia:

“A Polícia Ambiental de Jundiaí iniciou a semana com um grande problema para resolver, trata-se de 14 aves (três araras canindé, um tucano toco, uma jandaia e nove maritacas), além de dez tartarugas tigre d'água, que foram devolvidos pela Adipa (Associação Direcionada à Preservação dos Animais Silvestres), por estarem sem a documentação que deveria ter sido providenciada pela própria polícia. (...)

Maritacas que estavam na Adipa
Foto: Júlio Monteiro/BOM DIA

A associação que cuida de animais silvestres em Jundiaí tomou a decisão nesta segunda-feira, porque foi ameaçada de ser multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), caso não apresentasse os documentos de transferência da guarda dos animais, que chegaram a associação em virtude de ocorrências policiais. O presidente da entidade, Hélio Lunardi, 74 anos, não viu outra alternativa.” – texto da matéria “Sem documentos, animais silvestres trocam de lar”, publicada em 10 de janeiro de 2012 pelo site da Rede Bom Dia

No meio do mundo burocrático, o jogo de empurra. Afinal, há ou não um problema coma documentação? Veja:

“A Polícia Ambiental elogiou o trabalho de Lunardi em Jundiaí, discordou haver problema na documentação dos animais silvestres e o ideal seria que a associação ficasse com eles. Na tarde desta segunda mesmo, os animas foram encaminhados para a Associação Mata Ciliar.

O Ibama, por meio de assessoria de imprensa, informa que o presidente da Adipa agiu corretamente em devolver os animais à Polícia Ambiental, pois sem a documentação que comprove o encaminhamento deles à instituição, não há como provar a legalidade da transferência. “A partir do momento que a entidade recebe os animais sem documentação, ela fica passível de punição”, alerta o órgão federal.”
– texto da matéria do site da Rede Bom Dia

Agora me explique: se a Adipa trabalha há 18 anos dessa forma, por que só agora encontraram o problema?

Ainda não acabou. Vamos à falta de dinheiro. Na mesma matéria...

‘“O presidente da Adipa diz estar preocupado com a falta de apoio para ajudar a criar os animais. Há dois anos a Adipa mantém o convênio com a prefeitura onde recebe mensalmente R$ 6,2 mil como repasse. Mas segundo Lunardi o valor é insuficiente para cuidar do mantenedouro municipal, que abriga de mais de 100 animais, de 20 espécies diferentes.

“Temos o apoio de mais quatro empresários de Várzea Paulista que colaboram com o nosso trabalho, sem eles não teríamos como manter a estrutura”.’


Vou chover no molhado: ONGs fazem o trabalho que deveria ser do poder público e, mesmo assim, recebem (quando recebem) migalhas para sobreviver.  Não é de surpreender, já que as instituições do próprio governo (como os Cetas - Centros de triagem de Animais Silvestres - do Ibama) vivem situação parecida...

Gestão de fauna no Brasil. Não existe.

- Leia a matéria da Rede Bom Dia

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A guerra está escancarada: elefantes são caçados com minas terrestres

África em guerra!

Para caçar rinocerontes e retirar seus chifres, bandidos usam helicópteros e rifles com aparelhagem para visão noturna.

Para caçar elefantes e retirar suas presas (marfim), bandidos usam minas terrestres.


Mina terrestre em Moçambique
Foto: educastro.wordpress.com

Impressionado com essa última forma de caça? Eu também.

“Maputo – Um indivíduo de nacionalidade zimbabweana foi detido recentemente pela Polícia da República de Moçambique (PRM) na posse ilegal de 32 minas anti pessoais que eram usadas na caça furtiva de elefantes na província central de Tete. (...)

Poucos detalhes existem sobre este caso, mas sabe-se que os elefantes têm estado a ser alvo da ação dos caçadores furtivos para extrair as suas pontas de marfim, que depois são comercializadas no mercado negro.

O comércio de marfim foi banido no mundo em 1989, pois o abate ilegal de elefantes estava a colocar em risco a existência destes paquidermes.

Contudo, a proliferação de redes ilegais de comercialização do marfim continua a fomentar a caça furtiva, pondo em risco a população de elefantes no país.”
– texto da matéria “Caçador de elefantes é preso em Moçambique”, publicada em 5 de janeiro de 2012 pela agência África 21

De acordo com a WWF-Moçambique, o país abriga cerca de 18 mil elefantes. Em 6 de janeiro de 2012, escrevi “Reflexão para o fim de semana: vaidade assassina com marfim”:

“O ano de 2011 teve um número recorde de grandes apreensões de marfim, indicando uma intensificação da caça aos elefantes na África, a fim de atender à demanda asiática de presas para uso em joias e ornamentos, disse uma entidade conservacionista na quinta-feira.

A Traffic, uma parceira do WWF com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) que monitora o tráfico de animais selvagens, disse que houve pelo menos 13 apreensões de cargas superiores a 800 quilos de marfim em 2011, o que é mais do que o dobro das seis grandes apreensões de 2010.”


Vamos perder essa guerra?

Em 9 de janeiro de 2012, autoridades da Malásia apreenderam 492 quilos de presas de elefantes. O marfim foi exportado da Cidade do Cabo, na África do Sul. Em dezembro de 2011, 1,4 tonelada foi apreendida no mesmo país. Especialistas estão constatando que a Malásia, antes apenas um ponto de passagem dos carregamentos de presas, agora é ponto final do tráfico.

Carga de marfim apreendida em 9 de janeiro de 2012
Foto: Traffic do Sudeste da Ásia

- Leia a matéria da agência África 21
- Leia a matéria da Traffic sobre o balanço de apreensão de marfim em 2011 (em inglês)
- Leia a matéria da Traffic sobre a apreensão de 9 de janeiro de 2012 (em inglês)
- Releia “Reflexão para o fim de semana: vaidade assassina com marfim”, publicada pelo Fauna News em 6 de janeiro de 2012

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mais uma apreensão de peles e ossos de tigres. O felino tende a desaparecer

Pode parecer repetitivo, mas serve para reforçar o problema. Em 3 de janeiro de 2012, escrevi “Projeto internacional tenta salvar tigres da extinção”, que abordou o lançamento do Projeto Predador pela Interpol e o Banco Mundial. A iniciativa proporcionará capacitação para agências de aplicação de lei ambientais no combate ao comércio ilegal de peças de tigres e outros crimes relacionados às espécies.

O motivo é esse:

“Uma descarada tentativa de contrabandear quatro peles de tigre completas e ossos via correio foi frustrada pela Real Alfândega da Tailândia nesta semana na cidade de Hat Yai.” – texto de divulgação em 5 de janeiro de 2012 pela ONG tailandesa Freeland Foundation, que atua no combate ao tráfico de animais silvestres

Uma das peles apreendidas na Tailândia
Foto: Freeland Foundation

As peles e os ossos foram avaliados em 60 mil dólares (mercado negro). O diretor geral da Real Alfândega da Tailândia, Somchai Poolsawasdi, acredita que a aplicação o aumento da fiscalização nos eixos rodoviários levaram os criminosos a tentar usar o serviço postal.  O contrabando tinha como destino Mae Sai, no norte do país.

No início de 1900, os tigres eram encontrados em toda a Ásia e sua população era de mais de 100 mil animais. As estimativas atuais indicam que menos de 3.200 permanecem em estado selvagem.  A caça ilegal, principalmente para obter sua pele e ossos para uso decorativo ou medicinal, é uma das principais causas do declínio do animal.

De acordo com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza), a maioria das subespécies dos tigres tem sua população em declínio.

- Leia o texto de divulgação da Freeland Foundation (em inglês)
- Conheça a Freeland Foundation
Releia:
- “Tigres: muito perto da extinção”, publicado em 26 de janeiro de 2011
- “Projeto internacional tenta salvar tigres da extinção”, publicado em 3 de janeiro de 2012


Crânio de tigre apreendido
Foto: Freeland Foundation

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Começar a semana pensando...

...sobre educação ambiental. Se a sensibilização e a conscientização não forem feitas com as comunidades, não é a repressão que vai resolver o problema do tráfico de animais e da exploração desenfreada da fauna silvestre.

“MANAUS – Os quelônios da Amazônia são ameaçados por muitos predadores.Dentre jacarés, gaviões e peixes selvagens, o ser humano está entre os principais responsáveis pela diminuição do número de tartarugas nas últimas décadas. A realidade mudou,quem pescava ou caçava os quelônios na calha do rio Trombetas aprende a preservá-los e respeitá-los com o auxílio dos pesquisadores do projeto “Tartarugas da Amazônia” e de ambientalistas do Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade (ICMbio). Os estudiosos levam consciência ambiental aos ribeirinhos da Amazônia para conservar a fauna da região.

Crianças ribeirinhas em soltura de tartarugas
Foto: Projeto Tartarugas da Amazônia

Para Vogt (Richard Carl Vogt, especialistas em conservação e ecologia de tartarugas de água doce), o problema não está na cultura alimentar das comunidades ribeirinhas da região, mas no tráfico dos animais, que levam de oito a 12 anos para sair da fase de filhotes. “Por esse projeto, trabalhamos na conscientização ambiental. Trabalhando com pessoas na cidade para mostrar que o comércio ilegal pode acabar com as espécies.”, disse.”
– texto da matéria “Ribeirinhos aprendem a conservar tartarugas na Amazônia”, publicada em 30 de dezembro de 2011 pelo Portal Amazônia.com

Assista a matéria em vídeo:


- Leia a matéria completa do Portal Amazônia.com
- Conheça o Projeto Tratarugas da Amazônia

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Reflexão para o fim de semana: vaidade assassina com marfim

“O ano de 2011 teve um número recorde de grandes apreensões de marfim, indicando uma intensificação da caça aos elefantes na África, a fim de atender à demanda asiática de presas para uso em joias e ornamentos, disse uma entidade conservacionista na quinta-feira.

A Traffic, uma parceira do WWF com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) que monitora o tráfico de animais selvagens, disse que houve pelo menos 13 apreensões de cargas superiores a 800 quilos de marfim em 2011, o que é mais do que o dobro das seis grandes apreensões de 2010.


 
Apreensão de 1,4 t de marfim na Malásia, em dezembro de 2011
Foto: Elizabeth John / TRAFFIC Southeast Asia

"Uma estimativa conservadora do peso do marfim apreendido nas 13 grandes apreensões de 2011 coloca a cifra em mais de 23 toneladas, o que provavelmente representa cerca de 2.500 elefantes, possivelmente mais", disse a entidade em nota.” – texto da matéria “Apreensão de marfim bate recorde em 2011, diz WWF”, publicada em 29 de dezembro de 2011 pelo portal Terra

Além da China, a Tailândia é outro grande mercado de marfim. Especialistas acreditam que parte do marfim comercializado – a compra e venda é proibida desde 1989 - venha de estoques de apreensões antigas mantidos por governos de países africanos (África do Sul, Botsuana, Namíbia e Zimbábue). Apesar dessa suspeita, o fato é que a matança de elefantes aumentou, principalmente na República Democrática do Congo.

- Leia a matéria do portal Terra
- Leia o texto de divulgação da Traffic (em inglês)
Releia posts do Fauna News sobre elefantes:
- “Lembre-se: atrás das peças de marfim havia animais”, de 5 de abril de 2011
- “Depois dos rinocerontes, agora é a vez dos elefantes desaparecerem no Vietnã”, de 4 de maio de 2011
-  “Uma tentativa de monitorar o tráfico de animais “, de 24 de agosto de 2011

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Novamente, o turismo como vilão

Sempre que chegamos a uma área com natureza preservada, é normal a ansiedade em fazer fotos, ver tudo de pertinho e desfrutar ao máximo o momento especial. Mas esse tipo de impulso pode, se não for bem orientado, prejudicar flora e fauna. Já escrevi sobre isso em pelo menos duas oportunidades:

- “Reflexão para o fim de semana: quando o turista incentiva o abuso”, de 1º de abril de 2011; e
- “Reflexão para o fim de semana: exploração animal para lazer humano”, de 23 de setembro de 2011.

A agência de notícias AFP preparou uma matéria sobre os impactos que o turismo desordenado e sem orientação estão causando nos társios (uma espécie de primata) das Filipinas.


A matéria mostra que os animais ficam bastante estressados com aproximações desregradas de turistas. Flashes, toques, conversas em voz alta e uma série de outras atitudes fazem com que esses pequenos primatas, em situações extremas, se suicidem.

Quantas vezes já não tiramos fotos de animais sem nos preocupar se o flash vai causar algum dano ao bicho? Visitar áreas com natureza preservada, como os parques nacionais e estaduais, por exemplo, é uma ótima oportunidade para entrarmos em contato com fauna e flora exuberantes, para desfrutarmos ambientes livres de poluição e, sobretudo, aprendermos a respeitar os direitos dos outros seres viverem saudáveis e em paz.

Pense nisso e transforme seu comportamento!

Releia:
- “Reflexão para o fim de semana: quando o turista incentiva o abuso”, de 1º de abril de 2011
- “Reflexão para o fim de semana: exploração animal para lazer humano”, de 23 de setembro de 2011

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Orangotangos: sofrimento também quando são criados como pets

Não bastassem a perda de hábitat pelas derrubadas das florestas e a caça por serem considerados “pragas” por grandes e pequenos agricultores, os maus tratos também marcam o cotidiano dos orangotangos da Indonesia.

“Um orangotango de 4 anos de idade batizado de Marvel teve a perna esquerda amputada após permanecer anos preso por uma corrente sendo criado como animal de estimação na Indonésia.” – texto da matéria “Ferido por corrente que o prendia, orangotango tem perna amputada”, publicada em 2 de janeiro de 2012 pelo portal G1


Orangotango que teve a perna amputada
Foto: Binsar Bakkara/AP

Não bastasse tirar o animal de seu hábitat e confiná-lo, o responsável pelo orangotango reforçou seu papel egoísta e cruel pela forma como o criou. A conseqüência não está somente no fato de o primata ter perdido uma das pernas, mas também dele nunca mais poder desfrutar da vida livre e com isso cumprir seu papel no ecossistema a que pertence. Ele está “morto” para a natureza...

Os orangotangos são divididos em duas espécies (informações sobre as espécias são da IUCN):

- orangotando-de Bornéu (Pongo pygmaeus, com três subespécies) – classificação IUCN: em perigo

Com uma população estimada entre 45 mil e 69 mil animais, essa espécie de orangotango vive na ilha de Bornéu (nos estados Sabah e Sarawak, da Malásia, e em três das quatro províncias indonésias de Kalimantan). O número desses primatas tem caído drasticamente pela substituição das florestas nativas por plantações de palmeiras para produção de óleo (usado para cozinhar, cosméticos, mecânica, e mais recentemente como fonte de biodiesel), por incêndios nas matas, extração de madeira, caça e captura para o tráfico de fauna.

- orangotango-de-Sumatra (Pongo abelii) – classificação IUCN: em perigo crítico

Sua população, geralmente restrita ao norte da ilha de Sumatra, teve uma queda estimada de mais de 80% nos últimos 75 anos, chegando aos atuais 7.300 animais. Este declínio continua, principalmente pelo fato de as florestas onde vivem estarem sob grande ameaça. A maioria dos orangotangos está fora de reservas protegidas, inclusive dentro de áreas potenciais de exploração madeireira e de conversão da cobertura vegetal nativa por plantações de palmeiras para extração de óleo.

Depois de um período de relativa estabilidade, a pressão sobre as florestas aumentou por causa da estabilidade política e sofreu um aumento dramático com a grande demanda por madeira e outros recursos naturais após o tsunami de dezembro de 2004.

Para as duas espécies, a substituição das florestas nativas por plantações de palmeiras está entre as causas da diminuição populacional. E não é simplesmente pela alteração do hábitat.

“Muitos dos orangotangos continuam vivendo em regiões em que há um grande número de plantações de palmeiras, usadas para extração de óleo de dendê, mas estão sujeitos a diversos atos de violência.


Filhote de orangotango: a mãe morta em plantação de palmeiras
Foto: BBC Brasil

Ambientalistas contam que muitos animais sofrem espancamentos e são mortos por funcionários de empresas locais de plantações de palmeiras.

Um trabalhador rural disse à BBC que colegas seus são pagos para afugentar os animais da região em que o cultivo se dá, já que as companhias consideram os orangotangos uma ameaça às suas plantações.”
– texto da matéria “Plantações de palmeiras na Indonésia ameaçam orangotangos”, publicada em 27 de dezembro de 2011 pelo site da BBC Brasil

A BBC também fez uma matéria em vídeo.


Nessa matéria, outras duas informações chamam a atenção: estima-se que, em cinco anos, orangotangos podem estar extintos (creio que deva ser a população específica de alguma localidade) e que os animais em cativeiro do santuário esperam para voltar a desfrutar da vida livre quando as florestas estiverem seguras... Isso quer dizer nunca.

- Leia a matéria do orangutango amputado do G1
- Conheça a Orangutan Foudation International (em inglês)