sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: imprensa míope no caso da onça-parda de Franco da Rocha

Até quando a imprensa vai pecar pela superficialidade quando aborda temas ambientais? E se o fato envolver fauna silvestre, a situação piora. Quer ver?

Na matéria “Resgate de onça dura cinco horas”, da edição de 27 de setembro de 2011 do jornal Diário de S. Paulo, sobre a onça-parda encontrada em Franco da Rocha, município da Região Metropolitana de São Paulo, apenas na última sentença do terceiro parágrafo – e só aí – é que o verdadeiro problema envolvendo o felino foi abordado. Confira:

“A hipótese mais provável é de que Franco (nome dado pelos moradores ao animal - informação do Fauna News) perambulava na área do Lago Azul, em busca de caça ou água, e subiu no eucalipto ao se assustar com o barulho de máquinas pesadas que faziam a terraplenagem de um futuro loteamento. No alto da árvore, ele foi visto por moradores. A onça-parda habita todo o continente americano. Bicho de hábitos solitários e noturnos, foge da presença humana e só ataca se estiver acuado. Ele sofre com o processo acelerado de urbanização, que acaba com as florestas e cursos de água, seu habitat natural.”

O hábitat de Franco está sendo transformado em loteamento
Foto: Marcelo Palhais/Diário SP

Até quando a perda de hábitat causada pela urbanização sem controle, pela construção de condomínios sem o menor critério (ou será que alguém verificou se o empreendimento iria causar algum tipo de impacto à fauna?), será tratada dessa forma pela imprensa? Já não basta o descaso do poder público e do mercado imobiliário?

O restante da matéria é aquele “show” narrativo sobre a captura da onça-parda que, se tudo der certo, deverá ser solta no Parque Estadual do Juquery. É esse o papel da imprensa ao tratar esses assuntos?

Com certeza não.



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Traficantes de animais atacam até os empalhados

Ontem, em “Rinocerontes: resolveram matar o paciente!”, escrevi sobre a decisão do governo da África do Sul em permitir que os chifres de rinocerontes fossem serrados como forma de parar a matança desses animais. Afinal, é mais fácil arrancar a valiosa parte do animal no mercado negro do que realizar uma fiscalização efetiva e eficiente.

Mas o assunto não foi esgotado. Ao menos para mim. Veja o porquê.

Um quilo de chifre de rinoceronte, em pó, vale cerca de US$ 97.500 no mercado negro. Mais que ouro, heroína ou cocaína. Valor tão alto é explicado pela grande demanda da China e dos países do sudeste asiático, onde o produto é considerado afrodisíaco ou remédio contra câncer, rente à pouca oferta – já que a caça do animal é ilegal e as populações das espécies estão em franco declínio.

Como está cada vez mais difícil conseguir na natureza, os traficantes de partes de animais agora estão atacando os espécimes empalhados de museus da África do Sul e da Europa. Uma das vítimas foi o Museu de Ipswich, no Reino Unido, em 28 de julho. Dois homens arrombaram o local e nem se interessaram, por exemplo, pela máscara mortuária egípcia folheada a ouro de 2 mil anos. A dupla quebrou o chifre do rinoceronte que está em exposição desde 1907.


Rinoceronte atacado do Museu de Ipswich
Foto: David Corio para The New York Times

Os ladrões, segundo matéria do The New York Times publicada em 26 de agosto de 2011, fariam parte de uma quadrilha conhecida como “viajantes irlandeses” (também envolvida com entorpecentes e lavagem de dinheiro) e que já atacou um castelo tcheco e museus e antiquários na Alemanha, França, Itália Portugal e Suécia.

O último caso aconteceu no Museu de Ciências Naturais, em Bruxelas, na Bélgica.

“A dupla entrou na galeria do museu e carregou até o banheiro a cabeça do rinoceronte, que pesa cerca de 30 kg. De lá, desceram a peça pela janela até uma van que aguardava no local.” – texto da matéria “Ladrões roubam museu de ciência e levam cabeça de rinoceronte” da Folha de S. Paulo de 1º de agosto de 2011

http://stoprhinopoaching.com/
“De acordo com o jornal britânico Guardian, nos últimos seis meses, museus europeus registraram cerca de 20 roubos desse tipo. Nos EUA, o Times diz que, neste ano, pelo menos 30 ocorrências desse tipo foram relatadas.” – texto da matéria “Ladrões roubam chifres de rinocerontes”, publicada pelo portal R7 em 30 de agostos de 2011 com a infeliz chamada “Esquisitices” e o primeiro parágrafo em tom de brincadeira mais infeliz ainda:

“Parece uma brincadeira besta, mas, se você estiver em um museu e reparar que há alguém ao seu lado rapelando o chifre de um rinoceronte empalhado, chame os seguranças imediatamente.”

- Leia a matéria do The New York Times (em inglês)
- Leia a matéria da Folha de S. Paulo
- Leia a matéria do portal R7
- Conheça o movimento “Stop Rhino Poaching” (pare com a caça ilegal de rioncerontes)
- Releia “Rinocerontes: resolveram matar o paciente!” publicada em 28 de setembro de 2011 pelo Fauna News

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rinocerontes: resolveram matar o paciente!

A incompetência na repressão da caça ilegal de rinocerontes da África do Sul foi finalmente admitida pelo governo daquele país: estão cortando os chifres dos animais para evitar que sejam mortos por traficantes desse material.

O sinal de que isso iria ocorrer já começou a ser divulgado pela mídia em maio de 2011. Na oportunidade, o Fauna News publicou “Reflexão para o fim de semana: legalizar o comércio de chifres para proteger os rinocerontes?!?” em que era comentado uma nota de O Estado de S. Paulo com a seguinte informação:

“A proposta teria o objetivo de frear a caça indiscriminada dos animais. Só no primeiro trimestre, 138 rinocerontes foram abatidos por caçadores ilegais. O chifre é valioso no mercado asiático, onde se acredita que ele seja afrodisíaco.”

Em 12 de setembro de 2011, o Fauna News publicou - a partir da matéria do blog Planeta Sustentável “África do Sul quer tirar chifres de rinocerontes para impedir caça”- que estavam pensando em matar o paciente já que não conseguiam curá-lo... Afinal, arrancar os chifres dos animais é mais fácil, e talvez barato, do que caçar os traficantes.

E foi isso que aconteceu.

Rinocerontes de Kruger Park, na África do Sul, com chifres serrados
Foto: Ilya Kachaev/REUTERS

O portal G1 publicou, em 21 de setembro de 2011, a matéria “Veterinários serram chifres de rinocerontes para evitar mortes”.

“Ver rinocerontes com chifres deformados virou uma cena comum no Parque Nacional Kruger, na África do Sul. A medida extrema foi uma decisão dos veterinários do parque para tentar salvar a espécie da extinção.

(...)Desde abril, os soldados do exército regular sul-africano estão mobilizados ao longo da fronteira com Moçambique para tentar salvar a espécie da extinção. Em março, mais de 40 rinocerontes foram mortos. Os caçadores abandonaram as táticas primitivas e passaram a invadir o parque com rifles militares e óculos de visão noturna.”
- texto do portal G1


Rinoceronte morto por causa do chifre
Foto: AFP

Os chifres abastecem o comércio de remédios tradicionais da China - que considera que essa parte do animal tem poder afrodisíaco - e do Vietnã (para a cura de câncer). Por sinal, no Vietnã o rionoceronte-de-java foi extinto em abril de 2010, data em que se encontrou o corpo do último animal da espécie.

- Leia a matéria completa do portal G1
Releia os posts do Fauna News sobre a caça de rinocerontes:
- "Começar a semana pensando...", de 12 de setembro de 2011
- "Reflexão para o fim de semana: legalizar o comércio de chifres para proteger os rinocerontes?!?", de 6 de maio de 2011
- "Depois dos rinocerontes, agora é a vez dos elefantes desaparecerem no Vietnã", de 4 de maio de 2011

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Começar a semana pensando...

...tanto quanto ele.
 
"Londres (Inglaterra) - Um macaco que reside em um parque na Indonésia fez uma pose inusitada para os fotógrafos que estavam no local. Com a mão no queixo, o animal lembrava a famosa estátua "O Pensador", do artista francês Auguste Rodin. A cena foi flagrada pelo fotógrafo Karsten Wrobel.

"Eu estava viajando pelo parque quando vi este macaco sentado perto da costa de um lago. Quando olhei, ele estava apoiando a cabeça no seu pé e parecia que estava pensando. Isso me lembrou da obra de Rodin, O Pensador", disse Wrobel ao Daily Mail.

Funcionários do parque acreditam que o animal adotou tal postura para se exibir para as fêmeas e conquistar a posição de macho alfa."
- texto da matéria "Macaco faz pose que lembra a obra 'O Pensador', de Rodin", publicada em 22 de setembro de 2011 em O Dia Online

Será que parece?

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: exploração animal para lazer humano

Em muitas cidades, principalmente as que têm no turismo como grande fonte de renda, a exploração de animais como entretenimento é comum.

“Ativistas dos direitos dos animais estão pedindo ao governo indonésio para proibir as atividades que forçam macacos a se apresentar nas ruas de Jakarta. De acordo com os militantes locais, existem aproximadamente 500 macacos na cidade.


Macaco em Jakarta, na Indonésia
Foto: bikyamasr

Benfika, um relações públicas da “Animal Aid Network”de Jakarta foi entrevistado pelo jornal “The Jakarta Globe”, dizendo que a prática conhecida como “topeng monyet”, na qual macacos são forçados a usar máscaras ou realizar truques com suas mãos, é uma violação ao bem-estar animal.

“Algumas pessoas podem pensar que é engraçado, mas elas não percebem que os macacos estão sofrendo”, ele disse no domingo, junto ao hotel Indonesia, próximo ao centro de Jakarta. “Nós esperamos que o governo aprove a proibição e livre a cidade deste tipo de prática”.
– texto da matéria “Ativistas dos direitos animais de Jakarta pedem o fim das atividades com macacos de rua”, publicada em 22 de setembro de 2011 pela Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA)

Se isso acontece no Brasil? Os circos, os rodeios, as rinhas de galos, canários e cães, em Genipabu (Natal – RN), pode-se tirar fotos com iguanas, e por aí vai... exemplos não faltam.

Não sou biólogo ou veterinário, mas, toda vez que vejo um realejo, não consigo achar bonitinho. Alguém já ficou o dia inteiro ouvindo aquela musiquinha e achou gostoso? Tenho a impressão que o periquito também não.


Foto: site Loctudo.com

- Leia a matéria completa da ANDA
- Releia “Reflexão para o fim de semana: quando o turista incentiva o abuso”, publicado pelo Fauna News em 1º de abril de 2011

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

22 de setembro: Dia Nacional de Defesa da Fauna

Arara-canindé / Foto: Marcelo Scaranari
No dia 21 de setembro de 2000, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o Decreto n° 3.607, que designou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) como autoridade administrativa para, efetivamente, implementar a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). Esse tratado internacional, também conhecido como Convenção de Washington, é de 3 de março de 1973 e tem o Brasil como seu signatário desde 1975 (Decreto n° 76.623 de 17 de novembro).

O Decreto foi publicado no Diário Oficial em 22 de setembro, data então do início de sua vigência. Daí o Dia Nacional de Defesa da Fauna.

Atualmente, os rinocetrontes estão entre os animais com maior
risco de extinção por causa do comércio de seus chifres
Foto: AFP

Mas o que é a CITES?
A CITES é um tratado que tem como objetivo controlar o comércio internacional de fauna e flora silvestres por meio de fiscalização ao comércio de espécies ameaçadas com base em um sistema de licenças e certificações. Ela tem força apenas no comércio internacional, não valendo para o mercado interno de cada país.

As espécies controladas pela CITES são definidas por acordos entre os países signatários e são listadas em três anexos, conforme o risco.

Anexo I - compreende todas as espécies ameaçadas de extinção que são ou poderiam ser afetadas pelo comércio. O comércio dos espécimes dessas espécies está sujeito a uma regulamentação particularmente restrita, a fim de não pôr ainda mais em perigo a sua sobrevivência, e deve ser autorizado apenas em circunstâncias excepcionais;

Anexo II – compreende todas as espécies que, apesar de atualmente não estarem necessariamente ameaçadas de extinção, poderão vir a estar se o comércio dos espécimes dessas espécies não estiver sujeito a uma regulamentação restrita que evite uma exploração incompatível com a sua sobrevivência;

Anexo III - compreende todas as espécies autóctones (originários do próprio território onde habitam) em relação às quais se considere necessário impedir ou restringir a sua exploração.

A CITES é a principal ferramenta de combate ao tráfico internacional de animais silvestres, que, de acordo com estimativas, é a terceira atividade ilegal mais lucrativa do mundo (atrás do tráfico de drogas e do contrabando de armas). Por ser uma atividade criminosa, a quantidade de dinheiro envolvida no tráfico de fauna que se divulga é bastante imprecisa, mas varia entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano. O Brasil seria responsável por uma fatia entre 5% e 15% do total.

Dentro do Brasil, o artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9.605/1998) é a principal ferramenta jurídica de proteção à fauna.

“Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida.
     Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.
     § 1º Incorre nas mesmas penas:
     I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida;
     II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural;
     III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente.”


Infelizmente, tráfico de fauna não é tipificado como um crime, com características próprias e que poderia diferenciar os que capturam e vendem espécimes incentivados pela pobreza, por exemplo, dos médios e grandes traficantes – que receberiam penas mais severas.

O crime previsto do inciso III do parágrafo 1º do artigo 29 é considerado de “menor potencial ofensivo”, portanto os condenados têm suas penas transformadas em trabalho comunitário ou cestas básicas - mesmo com as crueladades como a feita com a arara-azul-grande acima, que teve os olhos perfurados para parecer mansa durante a venda (Foto: Renctas).

- Leia o Decreto nº 3.607 de 21 de setembro de 2000
- Leia o texto da CITES (em espanhol)
- Conheça o site da CITES (em espanhol)
- Conheça as listas das espécies da CITES
- Conheça a Lei de Crimes Ambientais

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Começar a semana pensando...

"Começa a temporada infame

Alerta! É nessa época do ano que começa o tráfico de papagaios pelo país. Não compactue com esse crime!

Todo ano, entre o final de agosto e o início de novembro (no cerrado) e dezembro e março (na caatinga), a fauna silvestre brasileira sofre um terrível sequestro: a captura de filhotes de papagaios-verdadeiros para abastecer os centros consumidores, principalmente do Sudeste.  Os animais são tirados de seus ninhos e transportados por caminhões em situações deploráveis, em viagens que podem durar até três dias. Os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e norte do Paraná são as principais áreas de captura da espécie (Amazona aestiva).”
– texto do site da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal – ARCA

O texto acima não é novo. É de agosto de 2010. Mas a situação continua a mesma, portanto, ele está totalmente atual. Veja:

Filhotes de papagaio e arara apreendidos em Mato Grosso do Sul
Foto: Divulgação/PMA

“A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu na manhã desta quinta-feira (15), na BR-267, em Bataguassu, cidade a 335 quilômetros de Campo Grande, 306 filhotes de papagaio e um de arara. As aves estavam em caixas dentro de um carro que foi abandonado na estrada.

Os dois ocupantes do veículo tentaram fugir, mas foram presos e encaminhados para a Delegacia de Polícia Civil da cidade. Os suspeitos de trafico de animais também foram autuados pela Polícia Militar Ambiental (PMA) e multados em R$ 153,5 mil cada um.

Conforme a PMA, eles também vão responder a inquérito policial pelo crime ambiental, com pena prevista, em caso de condenação, de seis meses a um ano de prisão. Já os filhotes estão sendo transferidos para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande.” – texto da matéria “Polícia de MS apreende 306 filhotes de papagaio e um de arara em rodovia”
, publicada dia 15 de setembro de 2011 pelo porta G1

E sabe que a situação ainda pode piorar. Afinal, a dupla presa irá responder pelo crime em liberdade e, se condenada, pagara com serviço comunitário ou cestas básicas.

Vamos adiante: 10 de setembro de 2011:

 “O homem flagrado com 141 filhotes de papagaios foi multado em R$ 70.500 pela PMA (Polícia Militar Ambiental). As aves estavam no bagageiro do veículo Gol (placas CEM 6124, de São Paulo), que era conduzido por um jovem de 24 anos.

Ele contou que comprou os filhotes em Ivinhema, pagando R$ 30 por cada. As aves seriam revendidas na feira na cidade de Osasco, em São Paulo. A apreensão foi na MS-141. Os filhotes serão trazidos para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) em Campo Grande.”
– texto da matéria “Homem flagrado com 141 filhotes de papagaio é multado em R$ 70 mil” do site Campo Grande News

E até quando isso vai durar?

Até as pessoas pararem de compar.

- Leia o texto completo da ARCA
Leia as matérias:
- “Polícia de MS apreende 306 filhotes de papagaio e um de arara em rodovia”, do portal G1
- “Homem flagrado com 141 filhotes de papagaio é multado em R$ 70 mil” do site Campo Grande News
- Conheça a SOS Fauna
- Conheça a ARCA

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: campanha contra a caça

A Associação Mata Ciliar, ONG do interior paulista que, entre seus trabalhos, se destaca na reabilitação da fauna com o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres e na área de pesquisa com o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais, lançou uma campanha contra a caça.

Confira e participe!

Clique no banner! http://www.mataciliar.org.br/contracacailegal/

- Conheça a Associação Mata Ciliar
Releia:
- “Safari para caçar onças no Pantanal: um crime que poderá ter punição branda “, publicada em 10 de maio de 2011
- “Cabeça de onça: o troféu da crueldade”, publicada em 3 de agosto de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Fauna News entrevista: Raulff Lima, Coordenador Executivo da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas)

O biólogo Raulff Lima ajudou a criar e a fundar, em 1999, a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e, desde então, é seu Coordenador Executivo. Seu envolvimento em causas ambientais começou em 1992, motivado pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Rio 92. Com 17 anos filiou-se ao PV do Rio de Janeiro e participou da Assembléia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente (APEDEMA) daquele Estado, Em 1995 foi um dos fundadores da Sociedade Mata Viva, organização ambientalista do interior fluminense.

Em sua entrevista para o Fauna News, Raulff Lima faz um balanço dos trabalhos da Renctas, expõe como deveria ser a política pública para a gestão da fauna e, principalmente, destaca que a população brasileira tem consciência ser errado manter animais silvestres como bichos de estimação, mas não conhece o risco que corre com as zoonoses.

(...) quase 80% da população sabe que manter animais silvestres em cativeiro sem a permissão do órgão ambiental é crime e essa mesma porcentagem sabe que este hábito é errado.” - Raulff Lima

Boa leitura!

Fauna News - Qual a atual situação do tráfico de animais silvestres no mundo e no Brasil?
Raulff Lima - Essa atividade ainda é muito forte, visto que todos os dias são publicados artigos na imprensa, tanto estrangeira quanto brasileira, sobre as apreensões. O grande fato relevante é que nos últimos 10 anos isso deixou de ser um crime velado, sem importância, e hoje possui, por exemplo, uma divisão da Interpol especializada em combatê-lo.

Enquanto houver demanda por parte da sociedade, esse mercado ilícito continuará a sobreviver. É como as drogas e as armas. A única diferença é que cocaína e AK-47 podem ser produzidos aos milhões, já araras, macacos, sapos, peixes ornamentais e insetos estão ficando mais escassos a cada dia, pois as florestas, que são seus ambientes naturais, estão desaparecendo juntamente com a biodiversidade.

Fauna News - Entre os Estados brasileiros, quem se destaca como área de apanha e quem se destaca como área de "consumo"?
Raulff Lima - Os Estados fornecedores são clássicos e estão no Norte, Nordeste e Centro-oeste do país, pois são regiões que ainda possuem grande diversidade de espécies. Um fato importante que tem nos chamado a atenção é que muito dos animais encontrados no tráfico estão vindo de locais onde hoje estão ocorrendo os grandes projetos de desenvolvimento, tais como construção de barragens, rodovias e expansão das fronteiras agropastoris.

Nos parece lógico, pois nesses locais está ocorrendo grande parte dos desmatamentos. Os traficantes aproveitam dessa situação para realizar a captura nessas áreas e também porque já contam com certa estrutura para retirar os animais, que são enviados aos grandes centros urbanos nas regiões Sul e Sudeste.

Fauna News - Existe uma política pública para combater o tráfico de animais? Se existe, qual a sua avaliação?
Raulff Lima - Infelizmente não existe uma política pública no Brasil para o combate ao tráfico. Existem sim ações dos órgãos de repressão à essa atividade. Temos acompanhado de perto a evolução dessas ações e percebemos que a Polícia Federal, através das DELEMAPHs (Delegacias Especializadas no Combate aos Crimes Ambientais e ao Patrimônio Histórico), tem se destacado nesse trabalho. As polícias florestais estaduais também têm feito um bom trabalho, apesar das limitações dos interesses dos governadores.

Já o Ibama, infelizmente, está totalmente apagado e com ações muito esporádicas e sem efeito. Reflexo possivelmente da falta de política pública e de um projeto para a gestão da fauna por parte do Ministério do Meio Ambiente.

Fauna News - Como deveria ser estruturado o combate ao tráfico de animais?
Raulff Lima - Começando pela criação de uma política pública para gestão da fauna como um todo. Não se pode discutir combate ao tráfico se não pensar em todas as vertentes. Tal trabalho passaria por campanhas de conscientização e sensibilização da sociedade, principalmente nas escolas (o que deveria ser objeto de cooperação entre o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Educação), e a criação de uma legislação específica para diferenciar o cidadão que ainda possui a fauna silvestre como animal de estimação do grande traficante ou do traficante internacional, pois esses sim são danosos para a manutenção da biodiversidade (aqui entraria um trabalho no Congresso Nacional).

Também deve ser exigida uma seriedade ambiental por parte das empresas que exploram os recursos ambientais, onde a fauna seja realmente contemplada e não sejam realizados trabalhos de resgate de animais fictícios ou pirotécnicos. Tudo com fiscalização pesada do Ibama, sem intervenções políticas.

Tem de ser realizado o controle dos criadouros comerciais e conservacionistas, com regras claras e treinamentos específicos tanto para os proprietários como também para os técnicos do Ibama  nos Estados, de forma que todos possam conversar na mesma língua. Também devem ser criadas normativas objetivas, sem erros de interpretação, trabalho esse a ser desempenhado pelo Ibama e pelo Ministério do Meio Ambiente.

Maior controle nos aeroportos tanto para a saída quanto para a entrada da fauna, com a participação da Polícia Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, a partir de um plano estratégico desenvolvido em parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o  Ministério da Justiça, o Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura. Melhor estrutura para as polícias florestais nos Estados e para os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).

Além é claro de incentivos científicos para os estudos de conservação, manejo e reintrodução da fauna apreendida. Desta forma podemos sim falar que temos uma política pública para gestão da fauna neste país. Do contrário, é só showzinho barato e pirotecnia de terceira.

Fauna News - A Renctas, por meio do 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, de 2001, estimou que 38 milhões de animais são retirados da natureza por ano no Brasil para abastecer o mercado do tráfico e do comércio de partes de animais. Esse quadro, com esse número, ainda persiste? Há dados mais atualizados?
Raulff Lima - O objetivo do relatório foi chamar a atenção do Ministério do Meio Ambiente, da mídia, da sociedade e da classe política para a realidade do tráfico. Na época os dados se concentraram apenas nas classes de aves, mamíferos e répteis. Dessa forma, peixes ornamentais, anfíbios e insetos ficaram de fora do estudo, até porque os órgãos ambientais consultados não possuíam estes dados.

Nós sabíamos que o número de 38 milhões era muito aquém da realidade, mas era o número que poderíamos sustentar e justificar. O mais importante é que o objetivo foi alcançado, pois conseguimos convencer as pessoas que o tráfico de animais era muito maior do que se pensava e movimentava o equivalente a 1% do PIB nacional, além de contribuir com a perda da nossa biodiversidade para a biopirataria.

Estamos estudando um novo relatório, mas não com o foco em números, em se aumentou ou diminuiu. Não queremos cair na mesmice dos relatórios sobre a Mata Atlântica, o Cerrado e a Amazônia, que todos os anos só informam que os biomas diminuem. Isto é trabalho dos órgãos públicos.

A nossa intenção com esse próximo trabalho é associar o tráfico de animais com a disseminação de doenças, as conhecidas zoonoses. Um estudo do Ministério da Saúde apontou que a rota da febre amarela no país é exatamente a mesma utilizada pelo tráfico, de forma que podemos concluir que o transporte clandestino de animais está contribuindo com a proliferação desta doença.

Fauna News - Qual a sua visão para o futuro sobre o tráfico de animais?
Raulff Lima - Estamos trabalhando para erradicar este hábito cultural do brasileiro e estamos conseguindo, pois em 2005 fizemos uma pesquisa com o Ibope e esse trabalho nos mostrou que quase 80% da população sabe que manter animais silvestres em cativeiro sem a permissão do órgão ambiental é crime e essa mesma porcentagem sabe que este hábito é errado.

É importante que nessa mesma mão, a conservação dos ambientes naturais seja uma prioridade, pois em pouco tempo a fauna, além de ter a sua liberdade roubada, também não terá mais casa para voltar.

Fauna News - Como é o trabalho da Renctas? Como é possível ajudar?
Raulff Lima - Trabalhamos em quatro frentes: informação e educação ambiental, apoio à conservação e manejo da fauna, treinamento e capacitação de agentes ambientais e apoio a criação de políticas públicas.

O cidadão pode ajudar o nosso trabalho, primeiramente não comprando animais silvestres de origem ilegal, denunciando casos de comércio ilegal e divulgando o nosso trabalho, que pode ser conhecido pelo website www.renctas.org.br . Como nenhuma das atividades educativas da Renctas é cobrada, a doação ou a aquisição de nossos produtos são bem-vindas.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Será que as coisas começam a mudar? Traficante de animais é condenado

Juro que eu quero estar errado, mas creio que o tcheco preso na Operação Oxossi contra o tráfico de animais, em 2009, foi o primeiro condenado por esse crime no Brasil. O julgamento aconteceu em 31 de agosto de 2011. Finalmente uma boa notícia nesse universo de tragédias, descaso do poder público e esforços de uns poucos no combate ao comércio ilegal de fauna.
“Após denúncia do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (MPF/RJ), a 4ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro condenou o tcheco Tomas Novotny a dez anos de prisão pelos crimes de receptação e contrabando de animais silvestres e formação de quadrilha. Novotny, um ex-policial na República Tcheca, foi um dos denunciados presos preventivamente na Operação Oxossi, em 2009 (imagem da Operação Oxossi/ Foto: Gabriel de Paiva).

A denúncia, oferecida pelos procuradores da República Renato Machado e Maurício Manso, pedia a prisão de Novotny por seu envolvimento em um esquema de receptação e exportação de aves silvestres, vendidas no exterior. O tcheco intermediava, mediante pagamento, as negociações entre os caçadores e estrangeiros, aproveitando-se de sua fluência no idioma português para facilitar a comunicação entre as partes. A participação de Novotny na quadrilha foi comprovada através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça que revelaram seus contatos com outros acusados.”
– texto da matéria  “Traficante internacional de animais é condenado a 10 anos de prisão”, publicada em 2 de setembro de 2011 pelo site Observatório Eco (com informações da assessoria de imprensa do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro)

De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), 38 milhões de animais silvestres são vítimas do tráfico por ano no Brasil. Estima-se que, em território nacional, entre dois milhões e quatro milhões de bichos silvestres vivam em cativeiros particulares. De acordo com a fonte consultada, esse número pode ser ainda maior, pois cerca de 60 milhões de brasileiros possuem espécimes silvestres em suas residências.

Pesquisas indicam que 82% das apreensões em território nacional de animais ilegais retirados da natureza são de aves.

Saiba que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil deve ser ilegal e entre 60% e 70% desse tráfico é voltado para abastecer o mercado interno.

O comércio criminoso de fauna é a segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de hábitat).

“A sentença proferida é importantíssima, pois confere ao tráfico internacional de animais silvestres um tratamento compatível com sua gravidade, protegendo assim a biodiversidade brasileira”, diz o procurador Renato Machado.” – texto da matéria do site Observatório Eco

O tráfico de animais é a terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total.

"A Operação Oxossi, que prendeu Novotny, foi feita em conjunto pelo MPF com a Polícia Federal em março de 2009. Na ocasião, o MPF ofereceu três denúncias contra 69 integrantes de quadrilhas de contrabando de animais que atuavam no Brasil e no exterior, pelos crimes de formação de quadrilha, receptação, caça a fauna silvestre, abuso e maus-tratos a animais silvestres." – texto da matéria do site Observatório Eco

- Leia a matéria “Traficante internacional de animais é condenado a 10 anos de prisão”, publicada em 2 de setembro de 2011 pelo site Observatório Eco
- VÍDEO: assista à matéria da prisão de Tomas Novotny, em 2009
- Conheça a Renctas

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Começar a semana pensando...

...se não pode curar a doença, então que mate o paciente!

"África do Sul quer tirar chifres de rinocerontes para impedir caça

A situação dos rinocerontes da África do Sul está crítica. O animal sofre ameaça de extinção, mas pode ser caçado legalmente em algumas regiões do país com uma licença que equivale a, apenas, R$ 11. Sem falar na caça ilegal, que vem se intensificando e aprimorando com o passar dos anos – e o aumento do preço do chifre do animal no mercado negro.

Para combater a prática, o governo sul-africano chegou a mobilizar seu exército, no final de abril, para proteger os rinocerontes do Parque Nacional Kruger, que fica no nordeste do país, na fronteira com Moçambique. Apesar de a medida ter freado a morte dos animais, o governo considera tomar uma ação um tanto quanto polêmica: retirar os chifres de todos rinocerontes – essa parte do corpo do animal é o principal alvo das caças.(...)


Assim, arrancar o chifre dos animais seria uma forma de repelir os caçadores. O governo sul-africano diz que consultará veterinários e especialistas antes de tomar essa decisão, para saber se causaria mudanças negativas nas populações de rinocerontes, como uma alteração no comportamento.(...)" - texto da matéria de Marina Franco publicada em 31 de agosto de 2011 no blog Planeta Sustentável

- Leia a matéria na íntegra.

Foto: Pedro Rubens

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Fauna News entrevista: o biólogo-espião Rodrigo Regueira


O biólogo Rodrigo Regueira é autor de "Caracterização Do Comércio Ilegal De Animais Silvestres Em Dez Feiras Livres Da Região Metropolitana Do Recife, Pernambuco, Brasil.", seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal de Pernambuco, em que foi orientado pelo professor do Departamento de Zoologia da UFPE, Enrico Bernard. E para obter as informações que precisava, fingiu ser comprador de aves e, com uma câmera de vídeo com formato de caneta, filmou o tráfico de fauna. Formado este ano e , o biólogo-espião chegou a conclusões bastante importantes sobre o tráfico de aves na região metropolitana de Recife. Entre elas, o Fauna News destaca:
- para cada animal colocado à venda, outros três morrem ao longo do processo;
- estima-se que, nas  feiras, os traficantes movimentem cerca de R$ 1 milhão por ano;
- a maioria dos compradores são pessoas simples do nosso cotidiano; pessoas que possuem a cultura, herdada do pai ou do avô, de criar passarinho.

Fauna News - O que te levou a escolher o tráfico de animais silvestres como trabalho de conclusão do curso de Biologia?
Rodrigo Regueira - O comércio ilegal de animais silvestres é uma prática muito comum e cultural. A escassez de informações que detalhe, caracterize, quantifique e identifique esses pontos de comércio ilegal e o impacto que essa prática causa na natureza foi o agente propulsor para a elaboração desse projeto de pesquisa como trabalho de conclusão de curso.

Fauna News - Conte um pouco da experiência de entrar nas feiras para registrar em vídeo e contabilizar os animais? Foi difícil? Como você se preparou para isso?
Rodrigo Regueira - O ambiente das feiras varia de uma para outra. Em algumas, o ambiente é bastante aberto e desinibido, são feiras onde você encontra homens, mulheres e crianças. Já em outras feiras, o ambiente é mais desconfiado e com um público específico, predominantemente vendedor-comprador.

Por se tratar de uma atividade ilegal, visitei as feiras de forma discreta, me passando por comprador. Fui com uma câmera escondida em forma de caneta, colocada na gola da camisa, para filmar a atividade (OBS: no final da entrevista há um link para a matéria  “Reflexão para o fim de semana: flagrantes do tráfico de animais em Pernambuco” com algumas imagens gravadas pelo biólogo) e posteriormente identificar e caracterizar as espécies, e com um bloco de notas para anotar as características dos animais e das feiras. A dificuldade de acompanhar essa prática é o horário das feiras, que acontecem nas primeiras horas da manhã, e a desconfiança dos vendedores.

Fauna News - Quais as principais conclusões resultaram desse trabalho?
Rodrigo Regueira - O comércio de animais em feiras livres é tendencioso para aves canoras, principalmente machos adultos. A motivação que leva uma pessoa a comprar um pássaro e o fator que determina o preço das aves é, predominantemente, a beleza do canto desses animais.

A oferta é diversificada e abundante (55 espécies de aves e um jabuti), porém há uma grande pressão nas populações das espécies mais comercializadas (cinco espécies responsáveis por 67% do total de indivíduos ofertados), devido à grande quantidade de animais ofertados.

É uma atividade bilionária no Brasil. Apenas nas oito feiras estudadas, projeções indicam que essas feiras podem movimentar mais de R$ 1 milhão por ano. Sem dúvidas, o principal problema causado pelo esse comércio ilegal é a grande retirada de indivíduos da natureza. Essa pesquisa projetou que entre 33 a 52 mil indivíduos sejam ofertados nessas oito feiras abordadas por ano.

Porém, estima-se que para cada animal comercializado vivo, outros três morreram antes de chegar ao comércio (valor baseado em REDFORD, K. H. (1992). The empty forest. BioScience, v. 42, p. 412-422.). Sendo assim, para 52 mil indivíduos serem comercializados, outros 156 mil morreram no processo antes de chegar aos pontos de venda, um número assustador e que acarreta grandes consequências para as populações naturais dessas espécies.


Papa-capim: a espécie mais traficada
Foto: Carlos Dias Timm

Fauna News - Qual é o perfil das pessoas que compram esses animais? Quais são as suas características sociais?
Rodrigo Regueira - Apesar de não termos dados oficiais sobre o perfil dos compradores, o público é variado. Vai de pessoas muito simples a pessoas com boas condições de vida, sendo quase a totalidade de homens de idade variada. Porém, no ambiente de feira livre, observei que a maioria dos compradores são pessoas simples do nosso cotidiano, (meu vizinho, seu vizinho, o fulano da padaria, o pai do seu amigo, etc.), pessoas que possuem a cultura, herdada do pai ou do avô, de criar passarinho.

Fauna News - É possível perceber uma organização para cometer esse tipo de crime ou o fenômeno é tão comum que se torna uma teia com muitas ramificações, algo pulverizado?
Rodrigo Regueira - Nas feiras livres existe os dois tipos. De um lado há um sistema organizado para essa prática. Os animais são recolhidos da natureza (geralmente por pessoas muito pobres, que buscam na fauna uma forma de aumentar sua renda familiar), são repassados para os traficantes (que se dividem em grandes e médios) e, por fim, chegam aos compradores (alvo final). Por outro lado também existe aqueles vendedores que tomam a feira como referência para vender ou trocar seus pássaros já aclimatizados com o ambiente doméstico.

Fauna News - Quais as consequências para os ecossistemas causados por tão intensa exploração da fauna?
Rodrigo Regeuira - Essa atividade traz grande consequências para os ecossistemas naturais, como o desequilíbrio populacional (já que milhões de animais são retirados das nossas florestas para sustentar esse mercado ilegal) e o sério comprometimento dos serviços ambientais (a maioria dos animais comercializados são grande polinizadores e dispersores de sementes).

Mas a principal consequência é a extinção de espécies. Desconhece-se o real impacto da retirada desses animais de seus hábitats naturais e suas consequências nas populações naturais destas espécies. Porém, a superexploração de espécies é uma das cinco principais ameaças à conservação da biodiversidade.

Fauna News - Você viu algum tipo de fiscalização no combate ao tráfico de animais durante sua pesquisa?
Rodrigo Regueira - Em 28 visitas, vi apenas uma ação da fiscalização em uma das oito feiras visitadas. Constata-se que os vendedores possuem uma capacidade muito maior de encontrar formas de permanecer com a atividade ilegal, do que a fiscalização de elaborar maneiras de reprimir e acabar com o tráfico e comércio ilegal de animais na região. Por esta razão, a atividade ainda persiste nos dias de hoje.

Fauna News - Como você acha que o tráfico de animais tem de ser combatido/desestimulado?
Rodrigo Regueira - É preciso educar as pessoas sobre as consequências maléficas que essa atividade traz ao meio ambiente. A legislação brasileira, em relação às leis que protegem a fauna, é muito bem elaborada; porém, é necessário levar essas leis a sério. Outro ponto, bastante polêmico, que deve ser seriamente discutido, é a legalização, devidamente estudada e controlada, da criação desses animais.

Assim o número de animais retirados da natureza reduziria muito. Existiria o controle dessa retirada, não mais teria essa estatística de que três em cada quatro animais morrem antes de chegar ao comércio, o que,em minha opinião, é o grande problema do comércio ilegal.

Fauna News - Qual a sua expectativa sobre o futuro do tráfico de animais? Tende a aumentar ou diminuir?
Rodrigo Regueira - O comércio ilegal de animais silvestres traz dados preocupantes para o futuro. Se não houver, nos próximos anos, um grande comprometimento por parte do governo e da sociedade para elaborar formas de acabar ou diminuir essa atividade, o futuro de nossas espécies, principalmente de aves, será a extinção.

Fauna News - Você é otimista? Pretende continuar a pesquisar e trabalhar com assuntos ligados ao tráfico de animais?
Rodrigo Regueira - Procuro sempre acreditar que tudo é possível, bastando ter comprometimento e seriedade. Se abraçarmos a causa contra o tráfico de animais, é certo que conseguiremos acabar com essa prática. O comércio ilegal de animais silvestres é um tema que sempre me chamou a atenção. Acabei de me formar em bacharelado em Ciências Biológicas com ênfase em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Pernambuco e gostaria muito de trabalhar nessa área. Estou aberto às oportunidades que aparecerem.

Releia as matérias que o Fauna News fez com base em dados do trabalho de Rodrigo Regueira:
- “No Brasil, o tráfico de animais enche gaiolas”, de 12 de agosto de 2011
- “1.039 é o número para Pernambuco”, de 1º de setembro de 2011
- “Reflexão para o fim de semana: flagrantes do tráfico de animais em Pernambuco”, de 2 de setembro de 2011 (vídeo com as imagens gravadas pelo biólogo nas feiras)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Começar a semana pensando...

...é para isso que se coloca em risco a biodiversidade???

“Florestas da Indonésia estão virando papel higiênico

Um alerta lançado ontem pela WWF, Greenpeace e o Partido Verde da Nova Zelândia revelou que uma das maiores produtoras de polpa de celulose da Ásia está fabricando papel higiênico com árvores tiradas de florestas tropicais da Indonésia - lar do tigre-de-Sumatra (foto), que corre alto risco de extinção.(...)”
– parte de matéria publicada em 23 de agosto de 2011 em O Estado de S. Paulo


Tigre-de-sumatra (Panthera tigris sumatrae)
Foto: Brian Scott

Ia me esquecendo: a empresa acusada é a Cottonsoft.

- Releia a matéria completa.
- Releia "Tigres: muito perto da extinção", publicado no Fauna News em 26 de janeiro de 2011.
- Saiba mais sobre tigres.
- Conheça a Cottonsoft.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: flagrantes do tráfico de animais em Pernambuco

Em 12 de agosto de 2011, o Fauna News publicou “No Brasil, o tráfico de animais enche gaiolas”. Esse post começa assim:
Papa-capim
Foto: Carlos Dias Timm
"Criar passarinhos cantadores em gaiolas é comum de Norte a Sul do país. Pesquisa realizada pelo biólogo Rodrigo Regueira chegou a dados impressionantes. Depois de identificar e quantificar as espécies comercializadas em oito diferentes feiras livres da região metropolitana do Recife, calculou que por ano as nossas matas perdem só de papa-capim (Sporophila nigricollis) 72 mil aves, para citarmos apenas a espécie mais vendida nos locais pesquisados.”

E uma das principais conclusões de Regueira foi que, para cada animal colocado à venda, outros três morreram ao longo do processo (captura, transporte a armazenamento). Para fazer esse trabalho, o biólogo utilizou uma caneta-espirão (equipamento que possui uma câmera de vídeo digital) e gravou cenas do comércio ilegal de passarinhos em oito das dez feiras que vistou.

Agora assista parte das imagens gravadas por Regueira (3 min):


- Releia o posto do Fauna News “No Brasil, o tráfico de animais enche gaiolas”.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

1.039 é o número para Pernambuco

Foi publicado no site O Eco, em 30 de agosto de 2011:

“Há quadros que parecem ruins, mas que novas informações mostram que são ainda piores. Denúncias de prática de comércio de aves silvestres são comuns em grandes centros brasileiros. Em Pernambuco, a pesquisa do biólogo Rodrigo Regueira utilizou câmeras ocultas para identificar e quantificar as espécies de passarinhos comercializados em oito feiras livres no Grande Recife. A partir do que era visto em exposição, na feira, chegou a conclusão que cerca de 72 mil passarinhos da espécie papa-capim (Sporophila nigricollis) são retirados da natureza pelo tráfico ilegal de animais. No domingo (28 de agosto), uma grande operação da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) da Polícia Militar de Pernambuco descobriu que os números do desastre ambiental podem ser maiores, uma vez que nem todos os animais comercializados estão à vista.” – texto da matéria “Recife: Mais de mil aves silvestres apreendidas”, do jornalista  Celso Calheiros para o site O Eco

Foto: Divulgação / Polícia Militar de Pernambuco

1.039 é o número de animais apreendidos na capital pernambucana em uma casa (que servia como depósito) com três homens. Entre as aves apreendidas havia canários-da-terra (Sicalis flaveola), papa-capim, galo-de-campina (Paroaria dominicana), concri (Icterus jamacaii), sanhaço (Thraupis palmarum), patativa (Sporophila albogulares), pintor-verdadeiro (Tangara fastuosa), azulão (Cyanocompsa brissonii) e outros em menor número.

Maus-tratos e morte
“O gestor do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama, Edson Lima, disse que esses animais são os preferidos pelos criminosos. “O canto e a beleza dessas aves colocam elas na mira dos traficantes”. Dos 1.039 animais recolhidos no bairro do Cordeiro, 185 morreram antes de chegar à sede do Ibama. Os maus-tratos anotados eram graves. “Em uma gaiola de 50 centímetros, estavam confinados 159 passarinhos”, exemplificou.” – texto do site O Eco

“Três homens foram presos em flagrante por tráfico de aves: Roberto José dos Santos, de 41 anos; José Roberto da Silva, de 49 anos (reincidente pelo mesmo crime) e Fábio Nascimento de Souza, de 31, são apontados como fornecedores dos animais, que deveriam ser repassados a comerciantes principalmente das feiras dos bairros da Madalena e do Cordeiro. Com o trio, foi apreendido também um carro, uma moto, celulares e R$ 1.450 em dinheiro, provavelmente, fruto da venda de outras aves. O material e os três homens foram encaminhados à sede da Polícia Federal e seguirão para o Cotel (Centro de Observação Criminológica e Triagem) ainda hoje.” – texto da matéria “Duas mil aves silvestres são apreendidas e três homens são presos no Cordeiro”, publicada em 28 de agosto de 2011 no site do Diario de Pernambuco

Agora vamos ao velho absurdo de sempre: lei fraca. Veja:

“A comandante da Cipoma, major Érika Melcop, disse que os suspeitos podem ficar até 4 anos reclusos, se condenados pela Justiça. “O crime é considerado de potencial grave, mas na legislação é classificado com pouco potencial ofensivo”, explicou. Os suspeitos também devem pagar multa no valor de R$ 400 por animal.” – texto do site O Eco

- Leia a matéria completa de O Eco.
- Leia o texto de divulgação da PM de Pernambuco.
- Leia a matéria do site do Diario de Pernambuco.
- Releia a matéria do Fauna News sobre a pesquisa do biólogo Rodrigo Regueira: “No Brasil, o tráfico de animais enche gaiolas”.

Assista à reportagem do site TVJornal: