sexta-feira, 29 de julho de 2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O encontro com animais silvestres e a falta de estrutura do poder público

O aparecimento de um tamanduá-bandeira, um bicho-preguiça e uma arara-canindé nas áreas urbanas de Botucatu e Mogi das Cruzes (municípios paulistas) foram alvo de matéria veiculada em 28 de julho de 2011 pelo Bom Dia São Paulo da Rede Globo.

Em Botucatu, o tamanduá foi atacado e ferido por cachorros. Já a arara é dócil, não estrenha a presença humana e estava anilhada – o animal pode ter fugido de seu criador. “Uma equipe da Guarda Municipal de Botucatu resgatou os bichos, que foram levados para o Centro de Medicina e Pesquisa de Animais Silvestres da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).” – texto da matéria “Tamanduá-bandeira e bicho-preguiça aparecem em casas em SP” publicada pelo portal G1 da Globo

Em Mogi das Cruzes, onde um bicho-preguiça apareceu no quintal de uma casa na quarta-feira, “os moradores foram orientados a soltar o bicho no mato novamente porque a Polícia Ambiental atendia outra ocorrência na região, e não poderia mandar uma equipe para o local.” – texto da matéria do G1 e do Bom Dia São Paulo

Duas considerações:
- o avanço da ocupação humana nos hábitats da fauna silvestre fará com que casos como os acima noticiados sejam cada vez mais comuns;

- exatamente por causa dessas ocorrências se tornarem freqüentes, o poder público tem obrigação de ter infraestrutura adequada para atendimento e orientação à população. Mandar pessoas leigas manejar o bicho-preguiça (que poderia estar doente e necessitando de cuidados, além do risco de causar ferimentos nas pessoas e transmitir alguma zoonose), soltá-lo na mata (será que o local de soltura a ser escolhido será o adequado?) foi o correto?

Com certeza não.

E olha que não estou entrando na questão do quanto a ocupação humana está destruindo os hábitats dos animais silvestres – principal causa da extinção de espécies.

- Leia a matéria do portal G1“Tamanduá-bandeira e bicho-preguiça aparecem em casas em SP”.

Assista à matéria do Bom Dia São Paulo da TV Globo:

quarta-feira, 27 de julho de 2011

No Vale do Paraíba (SP), a luta pela sobrevivéncia de uma espécie

Outro dia, conversando com amigos, me disseram que o Fauna News é “um pouco pesado”. Parei, pensei e concordei. Até achei que suavizaram o comentário quando usaram a expressão “um pouco”. Tento me policiar para não dar destaque apenas às notícias ruins, apesar de ser bastante difícil quando o assunto é, por exemplo, tráfico de fauna ou o trato que muitas pessoas dão para animais silvestres que são capturados para “virarem” pets.

Acho impossível ignorar isto:

“- Outro dia soube que um vizinho pegou um macaco e colocou numa gaiola. Eu fui lá tirar satisfações, mostrar quem é que manda aqui. Mas cheguei tarde, o saguizinho já estava sem dentes.”

Essa fala é de Jairo Santos, de 62 anos, morador de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista e está na matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos”, publicada em 27 de julho de 2011 pelo site O Eco. O homem ajuda a cuidar de um trecho de Mata Atlântica de 5,5 hectares, onde vive uma população de sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita) também chamado de sagüi do Vale do Paraíba - espécie nativa ameaçada de extinção por perda de hábitat.


Pela perda de hábitat, o sagui está ameaçado de extinção
Foto: Victor Moriyama

“- Dou banana para eles duas vezes ao dia há mais de 10 anos, conheço todos os macaquinhos que vivem aqui, e eles me conhecem, se comunicam comigo quando chega a hora da refeição.

Apesar das boas intenções, essa aproximação não é boa para os animais, pois tende a fragilizar sua capacidade de obter alimentos por si próprios. Mesmo imperfeita, a atuação de Jairo é importante para a preservação da área. Ele trabalha dia e noite como guardião da sua integridade.”
– texto da matéria de O Eco

A parte boa é que a Petrobrás, que tem dutos enterrados no local, irá reflorestar a área e reconectá-la com o corredor de mata que segue até Paraibuna (já na Serra do Mar).

Xerimbabos
O ato do vizinho de Jairo, que aprisionou o sagui, é uma herança que tem de ser mudada.

O costume de manter animais silvestres como bichos de estimação não é um fenômeno recente. Já na Idade Média, entre os europeus era possível encontrar macacos, papagaios, esquilos e doninhas no interior das residências, praticamente dividindo o mesmo espaço com seus proprietários. Para os camponeses, dependendo da espécie, o costume garantia uma fonte de alimento, enquanto para as classes mais altas, manter animal em casa era considerado artigo de luxo, símbolo de riqueza, poder e nobreza.

Mas esse hábito não era exclusividade dos europeus. Indígenas brasileiros também criavam animais silvestres como bichos de estimação, tanto que os falantes da língua tupi tinham um termo específico para seus “pets”: xerimbabos (“coisa muito querida”). A mistura desses elementos formou parte da cultura nacional.

Dos pequenos municípios das regiões mais isoladas do país até grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro é fácil encontrar animais nas residências. Dos domesticados cães e gatos, passando pelos tradicionais pássaros, até os silvestres, os brasileiros cultivam fortemente esse costume. Calcula-se que até 70% do comércio ilegal de silvestres no Brasil seja voltado para o mercado interno.

Estima-se que entre dois e quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares. De acordo com a fonte consultada, esse número pode ser ainda maior. Para dimensionar o quanto os ecossistemas brasileiros sofrem por causa dessa demanda, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirma que 12 milhões de animais são retirados da natureza por ano no Brasil. Para a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), esse número é de 38 milhões.

O tráfico da fauna é apontado como a segunda causa da perda da biodiversidade no mundo e a terceira atividade ilegal mais lucrativa (atrás dos tráficos de drogas e de armas).

- Leia a matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos” de O Eco.
- Conheça a Renctas.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Começar a semana pensando...

"O lóris lento, pequeno primata do sudeste asiático, tem no YouTube um de seus principais adversários. Por conta do sucesso na rede, a venda ilegal de animais desta espécie - ameaçada de extinção - disparou, segundo reportagem do jornal britânico "The Independent"." - texto da matéria "Sucesso no YouTube aumenta comércio ilegal de animal ameaçado", publicada em 30 de março de 2011 pelo portal G1.

O vídeo está com quase 7,5 milhões de exibições (desde 30 de junho de 2009). Outro vídeo, com o lóris segurando um pequeno guarda-chuva, também estaria contribuindo com o tráfico da espécie."O principal ponto de origem dos animais contrabandeados é a Tailândia, onde traficantes pagam o equivalente a menos de R$ 50 por filhote. No Japão, cada bicho chega a ser vendido por R$ 10 mil." - texto do G1

A demanda por lóris tem crescido principalmente entre crianças no Reino Unido, nos Estados Unidos, na Rússia e na Polônia. Momento para pensar o quanto ações aparentemente inofgensivas - como publicar um vídeo no You Tube - podem impulsionar atitudes criminosas e crueis. Afinal, o lugar do lóris não é no meio de almofadas e edredons, correndo o risco de não ser alimentado corretamente, pegar (e transmitir) doenças e, por fim, não cumprindo sua função ecológica em seu hábitat.

- Leia a matéria do portal G1 "Sucesso no YouTube aumenta comércio ilegal de animal ameaçado".

Assita ao vídeo do lóris (quase 7,5 milhões de exibições):


Assita ao vídeo do lóris com guarda-chuva (2,8 milhões de exibições):

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Reflexão para o fim de semana: a emoção do reencontro com a liberdade

Em 11 de outubro de 2009, na Pousada Araras Eco Lodge, no km 32 da Rodovia Transpantaneira, em Poconé (MT), foram devolvidas à natureza 02 iraúnas, 24 papagaios e 23 araras-canindé. Os animais vieram da Associação Bichos da Mata, em Itanhaém (SP), e foram transportadas pela TAM Linhas Aéreas até Cuiabá, de onde seguiram para a área de soltura. As aves ficaram uma semana em aclimatação, sendo finalmente devolvidas à liberdade.

- Conheça a Associação Bichos da Mata.

Assista ao vídeo, são apenas 6 min e 49 seg. Vela a pena!!!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A catastrófica “cascata trófica”

“De modo geral, o colapso dos ecossistemas atingiu um ponto em que isso não afeta apenas animais como lobos, o desflorestamento, o solo e a água. Esses predadores, em última análise, protegem os homens. Isso não é apenas algo sobre eles, mas sobre nós”.

Essa é uma das declarações de William Ripple, da Universidade Estadual do Oregon, um dos autores de estudo que afirma ser a perda de espécies no topo da cadeia alimentar pode representar um dos maiores impactos da ação humana nos ecossistemas terrestres. O trabalho está resumido no artigo “Trophic Downgrading of Planet Earth” publicado na edião de 15 de julho de 2011 da revista Science.

A afirmação de Ripple está publicada na matéria “A falta dos grandes predadores”, da Agência Fapesp, de 17 de julho de 2011. A pesquisa, que envolveu pesquisadores de 22 instituições de seis países, aponta que o declínio nas populações dos grandes predadores “afeta muitos outros processos ecológicos em um efeito que os cientistas chamam de cascata trófica, no qual a perda no topo da cadeia alimentar impacta enormemente muitas outras espécies de animais e de plantas.” – texto da Agência Fapesp

Além dos efeitos diretos sobre a biodiversidade, os autores do estudo afirmam que esse declínio afeta os mais variados aspectos do ecossistema global, como o clima, a perda de hábitats, poluição, sequestro de carbono e até mesmo a propagação de doenças. Enfim, o homem acaba sendo vítima de suas próprias ações, afinal, o Homo sapiens é parte sim da natureza.


Puma em Utah (EUA)
Foto: Joe and Mary Ann McDonald's Wildlife Photography

Um dos exemplos do estudo citados pela matéria da Agência Fapesp é a redução na população de grandes felinos no Utah (EUA), que levou ao aumento na população de cervídeos, à perda na vegetação, à alteração no fluxo de canais de água e ao declínio da biodiversidade. Efeito dominó; ou “cascata trófica”.
- Leia a matéria completa da Agência Fapesp.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O tráfico de animais para abastecer a pesquisa científica

A edição 27 da revista GEO, que está nas bancas, traz como seu principal destaque a “Máfia dos Tigres”.  A publicação preparou duas matérias que abordam o tráfico de animais silvestres na Ásia, destacando o comércio ilegal de tigres. Mas resolvi destacar a reportagem sobre a demanda de primatas para experimentos por laboratórios da Europa, EUA e Japão. Os números causam espanto...

O Centro de Primatas Alemão (DPZ), responsável por fornecer macacos para instituições de pesquisa, destina anualmente 10.000 animais para experimentos em laboratórios. “Na Alemanha são “gastos” anualmente entre 2.200 e 2.500 macacos”. – texto da revista GEO


Foto: Revista Galileu

“Em 2009, os Estados Unidos importaram 22.098 macacos. À exceção de alguns poucos animais adquiridos por zoológicos, todos os outros se destinavam a laboratórios e quase todos – pelo menos com seus respectivos documentos – provinham de criações. Segundo Dean (Erin Dean, inspetora do Serviço de Peixes e Vida Selvagem dos EUA), um avião da Air China pousa em Los Angeles várias vezes por semana, com 150, 200 primatas a bordo.” – texto da revista GEO

Os jornalistas Anke Sparmann e Patrik Brown, não se aprofundaram na discussão ética sobre a utilização de animais em experimentos, e sim tentaram rastrear a origem desses animais. De acordo com a matéria, há fortes indícios de que boa parte dos macacos não são originários de fazendas de criação, mas sim capturados na natureza (das florestas do Laos, Camboja, Indonésia e Vietnã, para intermediários chineses, que exportam para os laboratórios).

“A pergunta se esse “C” (sigla que significa “criado em cativeiro”) de fato corrresponde à verdade, ou se muitos dos 100.000 macacos comercializados anualmente na realidade são animais selvagens, capturados na natureza, é algo que está sendo apurado atualmente pelos departamentos norte-amercianos de investigações criminais.” – texto da revista GEO


Além de ilegal e com consequências extremamente danosas aos ecossistemas e às espécies vítimas, o resultado de pesquisas farmacêuticas com animais vindos diretamente da natureza (que podem portar inúmeros parasitas desconhecidos) fica totalmente comprometido.

Para se ter uma idéia do lucro, o caçador recebe US$  50 por um macaco, que chega para os laboratórios custando US$ 1.500.

- Leia matéria da revista Galileu sobre o uso de animais em experiências.

Começar a semana pensando...

"Por iniciativa de la organización Venezuela Verde, respaldada por varias ONG y 3.450 personas, mercadolibre.com decidió suspender los anuncios de venta de fauna silvestre desde este mes. Esta decisión ayudará a frenar el tráfico ilegal de especies silvestres." - texto da matéria "Mercado Libre suspende venta de Fauna Silvestre en Venezuela" do site venezuelano Canal Azul 24

Saiba que:

“Em pesquisa realizada pela Renctas em 1999, foram encontrados 4.892 anúncios em sites nacionais e internacionais, contendo a compra, venda ou troca ilegal de animais silvestres fa fauna brasileira. Desse total, a grande maioria anunciava répteis e aves, mas também foram encontrados diversos outros animais como mamíferos (com destaque para os primatas, felinos e pequenos marsupiais), anfíbios (principalmente sapos amazônicos) e peixes ornamentais.” – texto da Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres)

- Leia a matéria "Mercado Libre suspende venta de Fauna Silvestre en Venezuela" do site venezuelano Canal Azul 24.
- Conheça o trabalho da Renctas.
Releia as matérias do Fauna News sobre tráfico de animais e internet:
- "Bichos encomendados pela internet e despachados via correio: suspeito é preso no RN" - 8 de julho de 2011.
- "O tráfico de animais também acontece pela internet" - de 13 de naio de 2011.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Reflexão para o fim de semana: é zoológico ou mercado???

“O Zoológico de Niterói pode ter servido de ponte para o tráfico de animais, segundo investigação do Ibama.
Ontem, o órgão autuou o zoo em R$ 1,032 milhão pelo sumiço de 490 bichos deixados no local por agentes da polícia florestal da PM.

O zoológico não tinha autorização para recolhê-los nem para cedê-los a terceiros, como o Ibama afirma ter ocorrido.(...)

A Fundação Zoonit também foi autuada em R$ 9 mil por maus-tratos a animais. O zoológico deve ser esvaziado até agosto, seguindo determinação da Justiça Federal.

As autuações serão comunicadas ao Ministério Público e à Polícia Federal, que agora vai investigar o sumiço dos animais. À PF caberá apurar se houve tráfico”.
– texto de matéria da Folha de S. Paulo, publicada em 14 de julho de 2011.


Leão sendo retirado do Zoológico de Niterói
Foto: Bruno Eduardo Alves/A Tribuna

“Uma única pessoa teria recebido 175 aves pixoxós— espécie em extinção.” – texto do jornal O Dia

Não dá para deixar de lembrar que, em 2004, 73 animais morreram envenenados no Zoológico de São Paulo. Nesse caso a Polícia investigava uma possível retaliação contra a administração da entidade por funcionários que estariam envolvidos com a venda clandestina de animais. Na época, haviam sido implantados sistemas mais rígidos de controle exatamente para evitar tráfico de fauna – crimes lembrados na matéria da Folha de S. Paulo de 13 de julho de 2011 sobre as mortes de uma girafa e de um leão no Zoológico de São Paulo.

Só para lembrar: até hoje ninguém foi preso sobre a matança de animais de 2004. As investigações e o processo passaram a ser sigilosos e a população está sem esclarecimentos...

- Leia a matéria "Zoológico é suspeito de servir de ponte a tráfico de animais", da Folha de S. Paulo de 14 de julho.
- Leia a matéria "Ibama retira animais do zoológico de Niterói " do jornal O Dia.
- Fique por dentro também das mortes da girafa e do leão no Zoológico de São Paulo - matéria da Folha de S. Paulo.
- Folha de S. Paulo lembra a relação entre a morte de animais e o tráfico de fauna no Zoológico de São Paulo em 2004.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A dolorosa morte de animais pelo fogo agrícola... e o fim das queimadas nos canaviais paulistas só ocorrerá em 2017

Matérias feitas pela TV Record e pela TV Globo salientaram o drama vivido por animais silvestres vítimas de queimadas promovidas pelo homem, principalmente para a colheita da cana-de-açúcar no território paulista. Em abordagens diferentes – a da Record, mais positiva, e a da Globo, mais crítica -, o trabalho das emissoras aponta para o descaso no trato com a vida animal já que, com certeza, há falhas nos procedimentos de queimadas controladas.

Na matéria da Record, veiculada em 1º de julho de 2011, o trabalho do hospital veterinário do campus de Jaboticabal da Universidade Estadual Paulista (Unesp) é o foco. De acordo com a matéria, Em 15 anos, o número de atendidos saltou de 40 a 300 por ano, sendo as queimadas (tanto em canaviais como em mata nativa) a principal causa.


Onça-parda c quemada em canavial na região de Assis (SP), em 2009

Apesar da tragédia, a boa notícia é que 80% dos bichos atendidos se recuperam. Mas, a grande falha na apuração está em não levantar a quantidade desses animais que volta à natureza e a cumprir sua função biológica. Afinal, animal em cativeiro está morto para seu ecossistema...

A matéria da TV Globo, veiculada pelo Jornal Hoje de 08 de julho de 2011, foi mais crítica e mostrou, com imagens fortes, o sofrimento dos animais queimados em canaviais do interior paulista e da falta do cumprimento de procedimentos no trabalho com fogo controlado em agricultura.

“No ano passado, uma associação que cuida de animais selvagens recebeu mais de 150 vítimas de incêndios. Só 45 sobreviveram. Muitos viviam em reservas de preservação ambiental, destruídas por queimadas feitas em canaviais vizinhos.” – texto da matéria da Globo

Filhote de onça-parda queimado em canavial citado pela Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

E a consequência da queimadas não está apenas nas vítimas diretas do contato com o fogo (que chega a elevar a temperatura para até 800° C).

“Para se proteger do fogo, as aves estão mudando de comportamento. Segundo os biólogos, algumas espécies conseguiram até antecipar em três, quatro meses o ciclo de reprodução. “Elas já estão fazendo ninho e começando a colocar os ovos agora no inverno, antes da entrada da primavera”, explica o biólogo  Aguinaldo Marinho.

Mas nem todos conseguem se adaptar. Alguns pássaros, como a siriema e o gavião nem tentam mais procriar. “Às vezes, elas passam um, dois anos, sem fazer a postura e chocagem de ovos, porque sabem que se continuar assim, se um filhote nascer, não vai sobreviver", relata.

Muitos bichos fogem para as cidades, onde são atacados por cachorros ou moradores. Afinal alguns são perigosos. Segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, os ataques de cobras, aranhas e escorpiões mais que dobraram na última década. Em 2000 foram sete mil ataques. Em 2010 o número saltou para 14 mil.”
– texto da Globo


Canavial em chamas: temperatura chega a 800°C

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo lançou este ano a Operação Corta Fogo, que “tem por objetivo proteger as áreas de cobertura vegetal contra incêndios, proteger os recursos naturais, desenvolver alternativas seguras ao uso do fogo, quando legalmente autorizado.(...) A operação prevê a integração das ações de prevenção, monitoramento, controle e combate a incêndios florestais, que serão coordenadas pela Secretaria de Meio Ambiente em conjunto com Corpo de Bombeiros, Polícia Militar Ambiental, Municípios e Casa Militar.”

Espera-se que a ação do governo paulista atente também para a fauna silvestre (que em grande número invade áreas plantadas) e não apenas parra a perda de vegetação nativa ou a emissão de poluentes na atmosfera. O fim total da queima da cana-de-açúcar em São Paulo está previsto só para 2017 – apesar de que a Lei Estadual 11.241 de 2002 determinava o término apenas para 2031.

“As usinas, pelo acordo assinado com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SMA e Secretaria de Agricultura e Abastecimento – SAA, tinham que mecanizar 70% das áreas próprias colhidas de cana-de-açúcar. Já os fornecedores deveriam alcançar a marca de 20%, para o mesmo período. De acordo com o balanço da safra 2010/2011, as usinas mecanizaram 70,3% e os fornecedores 21,1% das suas áreas colhidas. Os terceirizados representam 30% da área cultivada no Estado.

O balanço apontou que dos 4.728.133 hectares de cana, 2.627.023 ha foram colhidos por máquinas. Pelo protocolo, a partir de 2014 as áreas mecanizáveis não poderão mais utilizar a queima. Em 2017, não haverá em nenhuma área.”
– matéria do site da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo

- Leia a matéria do portal R7 sobre a matéria da TV Record.
- Leia a matéria da TV Globo.
- Informe-se sobe a Operação Corta Fogo da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
- Saiba mais sobre o fim da queima da cana-de-açúcar em território paulista – site da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

- Assista à materia da TV Record:




- Assista à matéria da TV Globo:

terça-feira, 12 de julho de 2011

Está chovendo veneno na Amazônia

Há pouco tempo, li na edição do dia 28 de junho de 2011 da Folha de S. Paulo uma matéria sobre a apreensão, pelo Ibama, de 4 toneladas de herbicidas no Amazonas. O veneno seria utilizado para desmatar 3 mil hectares de floresta nativa da União no município Novo Aripuanã. Um fazendeiro, que já foi multado em outra ocasião também por desmatamento, está sendo investigado.

“Pulverizados sobre a floresta, os agrotóxicos têm o poder de desfolhar as árvores.

"A floresta vira um grande paliteiro, facilitando o desmatamento. É o mesmo processo usado pelo Exército norte-americano para encontrar os vietnamitas na Guerra do Vietnã", disse o superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis. (...)

Ainda de acordo com o superintendente, após a pulverização as árvores que têm valor comercial são derrubadas com motosserras. "Depois, eles fazem queimadas para limpar o terreno. No lugar da floresta, o fazendeiro iria criar um grande pasto."
– texto da Folha de S. Paulo


Fiscal do Ibama durante apreensão de agrotóxicos no Amazonas
Foto: Ibama/Divulgação

Na sequência dessa matéria, a própria Folha de S. Paulo publicou, em 1º de julho de 2011. “Ibama flagra desmate feito com aviões”.

“O Ibama identificou uma área de floresta amazônica, do tamanho de 180 campos de futebol, destruída pela ação de herbicidas.

A terra, que pertence à União, fica ao sul do município amazonense de Canutama, na divisa com Rondônia. O responsável pelo crime ambiental ainda não foi identificado pelo órgão.”
– texto da Folha de S. Paulo

Em ambas as matérias, feitas pela repórter Kátia Brasil, afirma-se que especialistas “dizem que os agrotóxicos, pulverizados de avião sobre as florestas nativas, matam as árvores de imediato, contaminam solo, lençóis freáticos, animais e pessoas.”

Quando essas matérias são lidas, baseadas em quantidade de área atingida, pouco se mensura o impacto na fauna. O estrago não fica restrito às arvores, mas todo o ecossistema. Os espécimes que não forem contaminados pelo contato direto com a chuva de veneno, ainda poderão ser ao beber água com herbicidas, alimentar-se de folhas, sementes e furtos de plantas com tais substâncias, além de comerem outros animais já contaminados. Enfim, um efeito dominó gigantesco.

Até agora, essa forma de desmatamento havia sido registrada no Amazonas em 1999 e em Rondônia há três anos. Tomara que a fiscalização do IBAMA e dos órgãos ambientais estaduais e municipais funcione, porque se virar moda...

- Leia a matéria "Ibama flagra desmatamento com agrotóxico no Amazonas", de 28 de junho.
- Leia a matéria “Ibama flagra desmate feito com aviões”, de 1º de julho.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Bichos encomendados pela internet e despachados via correio: suspeito é preso no RN

Em 18 de abril, escrevi “Iguanas via Sedex: tá virando mania”. O texto começava assim:

“Sábado, 16 de abril de 2001, 13 horas. Durante a preparação para entrega de Sedex, funcionários dos Correios de São José do Rio Preto (SP) percebem algo estranho em uma pequena caixa. Ao verificarem por raios-X o conteúdo da encomenda que acabara de chegar de Currais Novos, no Rio Grande do Norte, eles encontraram um filhote de iguana. Inusitado, mas não incomum.” 


Iguana apreendida em São José do Rio Preto (SP) em abril de 2011
Imagem: Reprodução TV TEM

Pois hoje, lendo o noticiário do dia, encontrei a excelente notícia: fiscais do Ibama do Rio Grande do Norte, prenderam, em Currais Novos (mesma cidade em que o filhote de iguana foi despachado pelos Correios em abril), Rafael Denne Gomes de Medeiros, 22. O rapaz é acusado de traficar animais por meio de encomendas que recebia via Orkut. Na casa dele dez animais foram encontrados, sete deles da fauna brasileira (três jiboias, um macaco-prego, um jabuti, uma iguana e uma salamandra) e três exóticos (duas cobras, uma de origem africana e outra norte-americana, e um Tigre D'água Americano, também dos Estados Unidos).

Além de Rafael, também foi preso o moto-taxista José Anselmo de Souza Júnior, acusado de realizar o transporte dos bichos. Não tenho a informação do envolvimento de Rafael no caso do iguana apreendido no interior de São Paulo, mas a coincidência da origem do animal (Currais Novos) com a cidade do acusado é grande.

“De acordo com as investigações realizadas pelo Ibama, Rafael Denne escolhia aleatoriamente, na internet, nomes de pessoas físicas para colocar nos remetentes das correspondências, com endereços também aleatórios. Depois ele enviava os animais em caixas revestidas por dentro com CD's, para evitar a detecção dos bichos nos aparelhos de raio x. Inicialmente, o acusado negou a participação do tráfico, mas depois acabou confessando, e afirmou que conseguia obter cerca de R$ 1.500 por mês com a prática.” – texto do jornal Tribuna do Norte, do Rio Grande do Norte sobre a prisão de Rafael.


Iguana que teria sido enviada por Rafael pelos Correios
Foto: Divulgação Ibama/RN

Em “Iguana via Sedex: tá virando mania”, foram citados vários outros casos envolvendo o tráfico de animais pelos Correios. No dia 4 de junho de 2011, publiquei “Ursinhos de pelúcia no tráfico de animais via correio”, em que escrevi sobre um caso ocorrido na Austrália:

”Na noite de 29 de junho, um casal de chineses foi preso acusado de traficar lagartos-de-lígua-azul  (bobtail) dentro de bichos de pelúcia para fora da Austrália. As remessas desses animais já estavam sendo investigadas pelo Departamento do Meio Ambiente e Conservação de Western Australia, o que motivou a Justiça a emitir um mandado de busca na residência dos então suspeitos.

Mesmo com toda a criatividade no usar brinquedos para traficar animais, nas últimas 12 semanas, um total de seis pacotes foram interceptados com répteis em bichos de pelúcia pelas equipes da Alfândega e Proteção de Fronteiras, na central do correio de Perth. Na casa dos chineses, foram encontrados 12 lagartos, vários brinquedos de pelúcia e material postal para despachar os animais.”


Sobre o tráfico de animais pela internet, em 13 de maio de 2011, escrevi “O tráfico de animais também acontece pela internet”:

“No 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, da ONG Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), publicado em 2001, consta:

“Em pesquisa realizada pela Renctas em 1999, foram encontrados 4.892 anúncios em sites nacionais e internacionais, contendo a compra, venda ou troca ilegal de animais silvestres fa fauna brasileira. Desse total, a grande maioria anunciava répteis e aves, mas também foram encontrados diversos outros animais como mamíferos (com destaque para os primatas, felinos e pequenos marsupiais), anfíbios (principalmente sapos amazônicos) e peixes ornamentais.”
– texto da Renctas

Esse texto foi motivado pela prisão de José Ricardo da Silva Júnior, de 35 anos, em sua casa, em Ermelino Matarazzo – zona leste da capital paulista –, onde foram encontrados 68 animais, entre répteis, anfíbios e insetos (aranhas e escorpiões). Ele é acusado de comercializar pela internet animais da fauna brasileira e exóticos (vindo de outros países).

- Leia a matéria do jornal "Ibama prende suspeitos de traficar animais silvestres" do jornal Tribuna do Norte.
- Leia a matéria "No RN, jovem comercializava animais ilegalmente pela internet" do portal G1.
- Leia a matéria"Preso jovem que vendia animais pelo orkut" do jornal O Estado de S. Paulo.
- Releia "Iguana via Sedex: tá virando mania" do Fauna News.

- Releia "Ursinhos de pelúcia no tráfico de animais via correio" do Fauna News.

- Releia “O tráfico de animais também acontece pela internet” do Fauna News.

Reflexão para o fim de semana: o vídeo é colombiano, mas poderia ser brasileiro

O vídeo, de apenas 34 segundos, foi feito pela Polícia Nacional da Colômbia e pelo Ministerio de Ambiente, Vivienda y Desarrollo Territorial daquele país. O trabalho aborda, de forma sintética, a venda de animais silvestres, principalmente nas rodovias - fato bastante comum também no Brasil.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não bastasse a crueldade do cativeiro, o tráfico de animais silvestres também promove a disseminação de doenças

Matéria de O Estado de S. Paulo “Animal atropelado ajuda pesquisa”, publicada em 4 de julho de 2011, trouxe a seguinte informação:

“Um estudo sobre os animais silvestres que morrem atropelados nas estradas de São Paulo vem permitindo a pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Botucatu, entender as formas de transmissão de importantes zoonoses para a saúde humana, como a doença de Chagas e a leishmaniose. (...)
 

Os pesquisadores coletaram tecidos (pulmões, fígados, baços, rins e corações) de tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, onça-parda, tatu-mão-pelada, cachorro-do-mato, gato-do-mato, sagui, preá, furão, ouriço-cacheiro, cuíca, capivara, gambá e irara, entre outros.” – texto original da matéria


Tamanduá-bandeira atropelado
Foto: Alessandra de Souza

O trabalho dos pesquisadores da Unesp só reforça os riscos que o consumo de carne de animais silvestres e a manutenção desses animais como bichos de estimação oferecem para o ser humano. Nesse ponto, não estou nem levantando as questões éticas sobre o hábito de criar exemplares da fauna silvestre como pets e o direito do homem em acabar com a liberdade dos animais e com a função ecológica deles em seus ecossistemas.

Na matéria do jornalista José Maria Tomazzela, a pesquisadora Virgínia Bodelão Richini Pereira, do Núcleo de Pesquisa em Zoonoses da Unesp em Botucatu, que conduz o estudo, afirma:

“Os locais onde esses animais vivem são comuns aos homens. No caso do tatu, muitas pessoas o usam na alimentação e, se a carne não for bem cozida, a pessoa pode se infectar". Ao ler esse trecho da matéria, pensei: no Estado de São Paulo ainda é preciso caçar animais para saciar a fome?

Para dimensionar um pouco o perigo das zoonoses (doenças) que podem atacar os homens, vale destacar que mais de 180 doenças já foram descritas, sendo as mais comuns (dados do livro União pela Fauna da Mata Atlântica, das ONGs Fundação SOS Mata Atlântica e Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres - Renctas):

- macacos e micos: raiva, febre amarela, hepatite, herpes simples e tuberculose;
- jabutis e lagartos: salmonelose, verminoses e micos;
- papagaios e passarinhos: ornitose (febre do papagaio) e toxicoplasmose.

“A situação de estresse que esses animais passam durante a comercialização pode levar à queda de resistência imunológica e desenvolvimento de doenças transmitidas por estes animais, tornando-os portadores de agentes infecciosos dentro das residências” – texto do 1º relatório nacional sobre o tráfico de fauna silvestre, de 2001, da Renctas.

O problema não deve ser desconsiderado. Em 2007, no município de Pântano Grande, no Rio Grande do Sul, 477 aves (entre elas filhotes de caturritas e de cardeais) foram apreendidas com traficantes de animais e causaram a contaminação de 18 pessoas (veterinários e policiais ambientais que atenderam o caso) por ornitose.

- Leia a matéria “Animal atropelado ajuda pesquisa”.
- Releia as matérias do Fauna News sobre atropelamentos de animais silvestres no Brasil:
"Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas";
"Não bastasse a onça-parda, cervo de 250 quilos também é vítima de atropelamento";
- Conheça o trabalho da Rede Nacional de Combate ao tráfico de Animais Silvestres (Renctas).

- Conheça a Fundação SOS Mata Atlântica.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Aves e conservação na literatura de cordel

Em 20 de maio de 2011, estive no Viva a Mata, evento organizado anualmente pela Fundação SOS Mata Atlântica para comemorar o Dia Nacional da Mata Atlântica (27 de maio). Circulava pelos estandes de ONGs quando fui abordado pela bióloga Karina Linhares, que trabalha no Projeto Soldadinho-do-araripe. Enquanto ela me apresentava as atividades para a preservação daquela ave (Antilophia bokermanni)e seu ecossistema, conheci também o coordenador do projeto, Weber Girão (foto abaixo) – que, em 1996, com o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Galileu Coelho, descobriu a espécie.

 
Foto: Alberto Campos

Nesse contato, fui surpreendido, entre outras coisas, pelo inusitado uso da literatura de cordel como ferramenta de educação ambiental. Não resisti e pedi para Weber escrever sobre a experiência. Pois aí está... Boa leitura!

Aves e conservação na literatura de cordel 
Por Weber Girão

A literatura de cordel não nasceu da escrita. Seu berço é a tradição oral, cuja origem não é possível precisar. Ainda hoje, alguns dos maiores expoentes desta arte são analfabetos. O advento da imprensa e sua popularização permitiram não só a preservação dos versos, mas também o aprimoramento da publicação, pois as xilogravuras que servem de capa são um atrativo à parte. Desde a chegada ao Brasil, com os portugueses, esta literatura se mantém mais forte na Região Nordeste.

O cordel é antigo, mas seus motes permanecem atuais. Além dos temas atemporais, como o amor, a morte do terrorista Osama Bin Laden consta entre os assuntos mais recentes. A problemática ambiental, cada vez mais popular, também é pauta frequentemente abordada. Entretanto, enaltecer a natureza não é novidade entre os poetas populares. O próprio nome de grandes mestres já fazia tais homenagens, como no caso de Antônio Gonçalves da Silva, o Patativa do Assaré, alcunha que compara o poeta cearense ao pássaro de belo canto.

As aves estão presentes em cordéis famosos, como no Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Rezende, mas um pássaro não menos encantado também tem aparecido em versos de cordel - o soldadinho-do-araripe. Ele é uma espécie ameaçada de extinção e simboliza a conservação da natureza no sul do Ceará, região de onde é endêmico. Sua sobrevivência depende da conservação das águas e das matas, sendo estes os elementos que garantem a qualidade de vida do povo local no meio do sertão árido, tal como um oásis no deserto.

Conheço três cordéis dedicados ao pássaro, mas seu nome é citado em diversos outros. Por trabalhar diretamente com a conservação dessa espécie, e também por admirar a arte popular, resolvi me aventurar neste campo e escrever meu próprio cordel.

Li o que pude para me inspirar e estudei a métrica, mas logo antes e depois do sono é que vinham as melhores passagens. Provavelmente o raciocínio não atrapalhava nessas horas! Meu respeito por quem faz versos de improviso aumentou, mas muito mais pelos poetas que não tiveram a oportunidade do estudo.

Gostei do resultado, mas minha opinião não vale. Adotei um pseudônimo para receber críticas sinceras e já fiz mais outros dois cordéis. Descobri que eles podem ser um meio excelente de sensibilizar as pessoas para a conservação. Ultimamente parei de escrever por medo, pois notei que estava começando a pensar em verso! Ainda bem que próximo ao escritório do Projeto Soldadinho-do-araripe existe uma Associação de Cordelistas.

Pura obra do acaso!
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O cordel...

Soldadinho-do-araripe
Procure no mundo afora
e ainda assim não vai ver
o bicho que vejo agora,
seu canto vai lhe dizer
que só tem no Cariri
e tinha de ser aqui,
um bom lugar de viver
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Nativo lá da nascente,
a água que vem buscar
reparte com toda gente
se for beber ou banhar,
mas vindo pra poluir,
botar cano e destruir,
as fontes só vão secar.
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E sendo ave do mato
estava quieta em seu canto,
viu sujo lá no regato
mas não ficou só no pranto,
sentida, foi protestar,
falava ao assobiar.
Jamais ela cantou tanto.
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Escute o seu “socorro!”
O povo já está ouvindo:
“tu sofre, mas eu que morro
com a água se exaurindo.
Zelando a fauna e a flora
a vida não vai embora,
deixando o mundo bem lindo”.
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Seu nome e “soldadinho”
trazendo “araripe” ao fim.
Além de ser bonitinho
e branco, preto e carmim.
Defende essa bicharada
que nunca foi respeitada,
também lidera motim.
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Então vamos celebrar,
recado desse profeta,
que veio foi pra falar
notícia clara e correta.
É mais que um passarinho,
e disse foi com carinho
ao povo de mente aberta.

O Projeto Soldadinho-do-araripe
A região do Cariri é conhecida por sua rica cultura e também pela Chapada do Araripe, situada entre os estados brasileiros do Ceará, Pernambuco e Piauí. Este imponente marco geográfico concentra um patrimônio natural reconhecido internacionalmente, sobretudo pelos seus fósseis e pelo soldadinho-do-araripe, um pássaro que simboliza a região e que se encontra ameaçado de extinção global devido ao uso insustentável das águas e devastação florestal.

A Chapada do Araripe é encravada na região mais seca do Brasil, entretanto, sua conformação geológica possibilitou a manutenção de um verdadeiro oásis, composto por floresta e oásis que são o hábitat do pássaro e que beneficiam milhares de pessoas.

Desde sua descoberta, em 1996, o soldadodinho-do-araripe é avaliado em estudos que resultam em ações para sua proteção e do ambiente que ele simboliza. No ano 2000 o pássaro foi mundialmente reconhecido como uma espécie ameaçada de extinção, segundo a entidade BirdLife International. Em 2003 o governo brasileiro também reconheceu a gravidade de sua situação. Desde então, o impacto de sua descoberta para o meio científico passou a ser acompanhado por toda sociedade.

Em 2004 a Organização Não Governamental Aquasis começou a atuar na região do Cariri, incluindo membros que pesquisavam o pássaro desde sua descoberta. Após relevantes avanços na conservação do soldadinho-do-araripe, a Aquasis recebeu a chancela de guardião do pássaro, conferida pela BirdLife International. Em 2009 foi criado um posto avançado na região, nomeado Projeto Soldadinho-do-araripe.

- Fique informado sobre as atividades do Projeto Soldadinho-do-araripe.
- Saiba mais sobre o Soldadinho-do-araripe (site da Save Brasil).
- Conheça a Save Brasil, representante da BirdLife International no Brasil.
- Conheça a BirdLife International.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ursinhos de pelúcia no tráfico de animais via correio

Depois de me deparar com vários casos de animais silvestres sendo traficados no Brasil pelos Correios, em 18 de abril de 2011 escrevi “Iguanas via Sedex: tá virando mania”. Relatei alguns casos de répteis encontrados por funcionários dos Correios durante o processo de entrega de encomendas. Dei destaque especial para a apreensão de um filhote de iguana que viajara 2,7 mil quilômetros em uma caixinha de papelão – do Rio Grande do Norte até o interior do Estado de São Paulo.

Agora me deparo com uma situação parecida, mas desta vez na cidade de Perth, na Austrália. Na noite de 29 de junho, um casal de chineses foi preso acusado de traficar lagartos-de-lígua-azul  (bobtail) dentro de bichos de pelúcia para fora da Austrália. As remessas desses animais já estavam sendo investigadas pelo Departamento do Meio Ambiente e Conservação de Western Australia, o que motivou a Justiça a emitir um mandado de busca na residência dos então suspeitos.


Lagartos ficavam dentro de bichos de pelúcia
Foto: AFP

Mesmo com toda a criatividade no usar brinquedos para traficar animais, nas últimas 12 semanas, um total de seis pacotes foram interceptados com répteis em bichos de pelúcia pelas equipes da Alfândega e Proteção de Fronteiras, na central do correio de Perth. Na casa dos chineses, foram encontrados 12 lagartos, vários brinquedos de pelúcia e material postal para despachar os animais.

Lagartos bobtail são comuns na Austrália
Foto: AFP

Comuns na Austrália, os lagartos bobtail valem até US$ 8 mil no mercado negro asiático.

Lagartos são imobilizados antes de serem confinados nos brinquedos
Foto: AFP

Apesar de a situação ser semelhante aos fatos que ocorrem no Brasil (apesar do inusitado uso de ursinhos de pelúcia) , vamos à grande, na verdade, imensa diferença: a punição.

Enquanto o tráfico de animais no Brasil é considerado crime de menor potencial ofensivo, com pena prevista de 6 meses a um ano de cadeia – que normalmente é convertida em prestação de serviços comunitários ou cestas-básicas -, na Austrália o casal chinês preso poderá ser condenado a até 10 anos de cadeia – além da multa de US$ 120 mil.

Agora fiquei com inveja!

- Leia a matéria do site Sino Daily, que reproduziu o material da agência AFP.
- Releia o texto do Fauna News “Iguanas via Sedex: tá virando mania”.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Reflexão para o fim de semana: quando a natureza vence a guerra

"Apesar de anos de caça desregulamentada e perda de habitat devido a conflitos de guerra no Afeganistão, grandes mamíferos, como ursos-negros asiáticos, lobos-cinzentos e leopardos estão conseguindo sobreviver em partes da região", texto de matéria veiculada em 27 de junho pelo site LiveScience.

Urso-negro asiático no Afeganistão
Foto: Wildlife Conservation Society

- Leia a matéria completa.
- Veja fotos dos animais do Afeganistão.

O que entorpecentes e animais silvestres têm em comum?

O que entorpecentes e animais silvestres têm em comum? No universo dos crimes, os dois são mercadorias que, muitas vezes, são traficadas por uma mesma quadrilha. A informação não é nova, pois há bastante tempo polícia e agentes de fiscalização sabem que para os traficantes não importa o produto: tanto faz ser  a fauna ou a droga, o negócio é não perder oportunidades de obter lucro no mercado negro.

Já em 2001, a ONG Rede Nacional de Combate ao Trafico de Animais Silvestres (Renctas), publicou no 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico da Fauna Silvestre, em que há um capítulo específico para o tema – “Ligação com Outras Atividades Ilegais”.

“O comércio ilegal de animais silvestres está ligado a outros tipos de atividades ilegais, tais como drogas, armas, álcool e pedras precisas. Na América do Sul, os cartéis de drogas têm grande envolvimento com o comércio ilegal de fauna silvestre, muitas vezes se utilizam da fauna para transportarem seus produtos. Frequentemente são encontradas drogas dentro de animais vivos ou em suas peles.” - texto do Relatório


Pássaros silvestres, drogas e armas apreendidos pela Polícia de Santa Catarina em 2010
Fonte: Polícia Civil SC

Como os métodos para traficar drogas e animais são semelhantes e as rotas coincidem, há muitas quadrilhas que atuam nos dois ramos do crime. De acordo com a Renctas, em 2001 havia entre 350 e 400 quadrilhas organizadas no comércio ilegal de fauna silvestre, sendo que, desse total, cerca de 40% possuem ligação com outras atividades ilegais.

Para não ficar apenas em estatísticas e pesquisas, vamos aos fatos: “PM apreende 150 quilos de maconha e mais de 100 animais silvestres” – site do jornal O Dia, 28 de junho de 2011.

“Cerca de 150 quilos de maconha e mais de 100 aves silvestres foram apreendidos por policiais militares do 3º BPM (Méier) durante operação nas favelas Boca do Mato e Morro do Amor, no Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio, na manhã desta terça-feira. Não houve troca de tiros com traficantes.” – texto de O Dia

A mesma notícia também foi pauta da TV Record e do site do grupo, o R7.

“Os agentes estavam em busca de traficantes,quando se depararam com um sítio, onde foram encontrados gansos, galinhas, cavalos e coelhos, entre outros animais.

Os policiais ainda acharam um viveiro com cerca de cem pássaros silvestres, entre eles tucanos e um conhecido como bico-de-pimenta.

Todos os animais foram recolhidos e levados para a delegacia. De lá, serão transferidos para o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Seropédica, na Baixada Fluminense.”
– texto do site R7

Após serem entregues no centro de Seropédica, uma nova epopeia ocorrerá para, com muita sorte, parte dessas aves voltar para a natureza. Esses animais, já tão sofridos pela forma com que são capturados em seus hábitats, transportados em péssimas condições, alimentados (quando o são) inadequadamente e pouco hidratados, passarão – caso sobrevivam ao rotineiro manejo inadequado no período imediatamente após a apreensão - por uma nova longa jornada até a liberdade... ou a vida inteira em cativeiro.

- Leia a matéria do site de O Dia.
- Leia a matéria do portal R7, da Record.
- Conheça o trabalho da Renctas.

- Assista à matéria sobre a apreensão da TV Record: