quarta-feira, 30 de novembro de 2011

São Paulo: gestão de fauna ruim

Em 25 de novembro de 2011, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo divulgou o relatório Painel da Qualidade Ambiental 2011. Entre os 21 indicadores básicos que compõem o documento, dois foram classificados com ruins. Um deles é o de “fauna silvestre”.

“Em relação à fauna silvestre, o relatório aponta que em uma década, entre 2000 e 2010, houve um aumento de 64% no número de espécies animais ameaçadas de extinção no estado – passou de 267 para 438. No mesmo período, o número de espécies conhecidas aumentou 21,2% - de 2.071 para 2.510. O índice de espécies ameaçadas (que relaciona o total de espécies conhecidas com o número que corre risco) passou de 12,9% para 17,5%.

Segundo a bióloga Claudia Terdimann Schaalmann, diretora do Centro de Fauna Silvestre da secretaria, o grande crescimento no número de animais ameaçados se deve, além da evolução real do indicador, da mudança na metodologia utilizada para o levantamento. Entretanto, a ameaça é real. “A gente pode ter vários motivos para isso. Uma é o crescimento urbano, que a gente não pode segurar, e a secretaria na questão de licenciamentos sempre foi muito rigorosa”, afirmou.”
– texto da matéria “Saneamento ambiental em SP está abaixo do adequado, aponta relatório” publicada dia 25 de novembro de 2011 pelo portal G1

Bruno Covas / Foto: João França
Na mesma matéria, há as seguintes declarações do secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Bruno Covas:

“Nós tivemos inclusive uma estadualização este ano da gestão da fauna silvestre para que aquilo que era de responsabilidade do Ibama passe a ser da secretaria, porque a gente tem muito mais capacidade de ajudar nesse tema”, disse o secretário Covas. ”Estamos preocupados com os centros de triagem, os centros de soltura, e com a melhoria da fiscalização para que a gente possa diminuir a quantidade de animais que são vendidos e traficados no estado de São Paulo.”

Desde maio de 2011, o Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e o Ibama já possuem um cronograma definido para a transferência da gestão da fauna silvestre do órgão federal para o estadual. Veja o cronograma (material do site da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo):

“As atividades assumidas pela SMA estão previstas para os seguintes meses:

1) Zoológicos e Aquários – Julho de 2011
2) Autorizações para manejo de fauna em vida livre – Agosto de 2011
3) Criadouros Conservacionistas/Mantenedores – Fevereiro de 2012
4) CETAS/ CRAS e destinação de fauna silvestre – Março de 2012
5) Criadouros Científicos – Maio de 2012
6) Estabelecimentos comerciais, abatedouros, frigoríficos – Setembro de 2012
7) Criadouros Comerciais – Abril de 2013
8) Criadores Amadoristas de Passeriformes – Maio de 2013

Além destas atribuições previstas no Acordo de Cooperação Técnica Termo, em 12 de julho de 2010 o CFS (Centro de Fauna Silvestre) assumiu a análise e emissão de autorizações de manejo de fauna silvestre para processos de licenciamento ambiental estadual.”


Espera-se que, a partir de agora, o governo paulista faça um trabalho competente, pois o que foi visto até o momento, o Ibama mostrou-se incompetente pelo total desaparelhamento do órgão do Ministério do Meio Ambiente.

Outra coisa: para quem acompanha o drama vividos pelos animais e pelos órgãos de fiscalização (polícias, guardas municipais e o próprio Ibama) nos momentos pós-apreensão, torço para que a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo não repita o fiasco da implantação de centros de recebimento de animais silvestres (CETAS/CRAS) que protagonizou em 2000 – quando lançou um plano para a implantação de 18 centros de manejo de animais silvestres e que culminou na inauguração do já fechado CEMAS (Centro de Estudos e Manejo de Animais Silvestres) no Parque Estadual Alberto Löfgren, na zona note da cidade de São Paulo.
Algumas instalações do antigo CEMAS
Foto: José Jorge Neto/SMA (12.09.2002)

O tal CEMAS, hoje totalmente abandonado, foi inaugurado em 2002 e desativado em meio a um turbilhão de denúncias de envolvimento de funcionários e colaboradores com tráfico de fauna (o desaparecimento de 101 animais e a existência de 72 bichos sem registro).
“Dos 1.490,33 m² de área construída, 354 m² são de área hospitalar, 172 m² de quarentenário, 160 m² de internação médica e 206 m² do setor nutrição, havendo ainda um projeto que prevê, também, áreas de reabilitação e adaptação. A instalação tem capacidade para atender a cerca de 4.600 animais por ano. O centro de treinamento, com 257 m², tem condições de oferecer treinamento para 50 pessoas, por meio de cursos, eventos e palestras.

O custo das edificações que compõem o CEMAS foi de R$ 1.281.486,94. Esse recurso se originou de compensações ambientais de empreendimentos da Ecovias e da Companhioa Paulista de Força e Luz - CPFL, além de uma parceria com a Petrobras.”
- texto da matéria de divulgação da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo

Dinheiro jogado fora!

- Leia a matéria completa "Saneamentoambiental em SP está abaixo do adequado, aponta relatório” do portal G1
- Leia o texto de divulgação do Painel da Qualidade Ambiental de 2011 da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
- Conheça o plano de gestão de fauna silvestre da Secreatria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
- Leia a matéria da Folha de S. Paulo que relembra o caso de tráfico de animais no CEMAS
- Leia o texto de divulgação da Secreatria do Meio Ambiente da época da construção do CEMAS

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Inseminação artificial: ajuda a evitar a extinção, mas não substitui políticas públicas de conservação

“Pesquisadores brasileiros realizaram pela primeira vez no país um processo de inseminação artificial com sêmen congelado em seis fêmeas de jaguatirica (Leopardus pardalis), felino da Mata Atlântica que está na lista nacional dos animais ameaçados de extinção.

A experiência é parte de um estudo que tem o objetivo de melhorar o processo de reprodução de espécies em extinção em laboratório, o que aumentaria as chances de evitar o desaparecimento de exemplares.”
– texto da matéria “Equipe faz inseminação artificial inédita em jaguatiricas no Brasil”, publicada em 24 de novembro de 2011 pelo portal G1


Foto: Caio Coronel/Itaipu Binacional/Divulgação
O desenvolvimento de pesquisas nessa área é fundamental, mas não deve contaminar a população e os gestores públicos com a ideia de que a ciência pode resolver qualquer problema – principalmente na área ambiental. O excesso de cientificismo ilude e faz com que preservação e conservação sejam deixadas em segundo plano sob o pretexto de que os danos podem ser revertidos pela técnica.

A inseminação artificial por meio de sêmen congelado é denominada “criopreservação de gametas”. Os procedimentos realizados no Hospital Veterinário do Refúgio Biológico Bela Vista (RBV) da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), fazem parte de uma pesquisa científica desenvolvida por meio de uma parceria entre a Itaipu, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Faculdade Assis Gurgacz.

“Na prática, a ação pode salvar animais da extinção e também possibilitar o intercâmbio genético de felídeos separados pelas barreiras geográficas.(...)

Os últimos filhotes de jaguatirica nascidos no RBV pelo método natural estão com dois anos de idade. Na natureza, as jaguatiricas podem ter até quatro filhotes. A partir deste tipo de inseminação, não há previsão da quantidade de animais que podem nascer.”
– texto da matéria “Jaguatiricas de Itaipu recebem inseminação artificial inédita", publicada em 23 de novembro de 2011 pelo portal Terra

- Leia a matéria completa do portal G1
- Leia a matéria completa do portal Terra
- Assista à matéria sobre as inseminações das jaguatiricas (Paraná TV – TV Globo):

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Começar a semana pensando...

...no quanto vale um tira-gosto.

“Operações desencadeadas pelo Ibama no Sertão da Paraíba flagraram, ao longo do ano, cenas de crueldade na caça a uma ave típica do Nordeste, a popular arribaçã (cujo nome científico é Zenaida auriculata noronha). Indefesas à noite nos ninhos, as aves são abatidas a pauladas e os ovos esmagados. Os ataques estão colocando a espécie em risco.

(...) A arribaçã é tradicionalmente consumida na região como “tira-gosto”, no entanto o abate ou captura de qualquer animal silvestre é crime.” – texto da matéria “Caça predatória ameaça sobrevivências das aribaçãs no sertão da Paraíba”
, publicada em 24 de novembro de 2011 pelo site Paraíba.com.br


Arribaçã é consumida como tira-gosto no sertão da Paraíba
Foto: site Paraíba.com.br

Segundo o Ibama da Paraíba, até novembro já foram apreendidas 114 aves vivas e 28 mortas com caçadores, além da aplicação de 33 autos de infrações e multas que somam R$ 126,4 mil. Mas, como todo crime dessa natureza, os acusados respondem em liberdade e, se condenados, jamais vão para a cadeia – a pena é transformada em pagamento de cestas-básicas ou algum trabalho comunitário.

“Em anos anteriores chegaram a serem apreendidas até 35.000 sangras (petrechos de caça) que foram devidamente incineradas nos locais de apreensão.

“Uma avaliação de custo e benefícios, revela que o prejuízo dos caçadores que utilizam esta modalidade de crime ambiental (captura das aves com armadilha) tem sido razoável, partindo do princípio de que a confecção cada armadilha custa R$ 2,00 (dois reais)”, finaliza Costa. (chefe da operação de fiscalização do Ibama, José Pereira da Costa)

Também tem sido feito um trabalho de sensibilização nas comunidades visitadas e com os produtores rurais.”
– texto do site


Filhote e ovo de arribaçã: indefesos no ninho
Foto: site Paraíba.com.br

Agora vamos pensar juntos: o custo de R$ 2 por armadilha é prejuízo para quem? Não conheço as condições econômicas e sociais da região, mas será que esse valor é representativo para quem mata as aves para consumi-las como tira-gosto?

Nesse caso, o Ibama parece ter acordado para o fato de que fiscalização apenas não resolve esse tipo de situação, já que estão sendo desenvolvidas atividades de educação ambiental – conforme divulgou o jornal. Gostaria de saber quais...

- Leia a matéria completa do site Paraíba.com.br
Releia as matérias do Fauna News que abordam a Paraíba:
- "Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres", de 3 de maio de 2011
- "Papagaios na Paraíba: duas vezes vítimas do tráfico e ninguém noticiou", de 16 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: legal, as aves foram recuperadas. Mas cadê os bandidos?

Na madrugada de 28 de outubro de 2011, duas araras-canindé foram furtadas do Parque Ecológico de Mongaguá, no litoral de São Paulo. As aves, que há três anos foram apreendidas com traficantes de animais, voltaram a ser vítimas desse tipo de crime. A boa notícia está no fato de que elas foram recuperadas pela Polícia Militar Ambiental, que ainda apreendeu outra da mesma espécie com um morador do município.


Uma das araras recuperadas pela PM Ambiental
Imagem: Reprdoução TV Tribuna

Para variar, a imprensa - no caso a equipe de reportagem da TV Tribuna, retransmissora da TV Globo na Baixada Santista – fez aquele trabalhinho superficial, pautada por considerar o fato algo curioso e inusitado. Além de se preocupar em destacar o retorno das araras, a reportagem salientou a aflição da tratadora das aves, que até fez uma promessa para parar de fumar no caso do retorno dos animais. Até aí, tudo bem... Mas só isso, não.

As araras em geral são muito visadas por traficantes de animais, pois têm alto valor e fácil comercialização. De acordo com o Ibama de Pernambuco, 82% das apreensões de animais ilegais retirados da natureza são de aves e a maioria de passarinhos – mesmo índice de uma pesquisa realizada junto ao Ibama pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) com dados de todo o país.

Senti falta também de informações sobre as investigações desse crime. Há alguma pista dos bandidos? Há informações sobre os compradores/receptadores?

- Leia a matéria publicada pelo portal G1 sobre o caso (baseada na reportagem da TV Tribuna)
- Releia o texto do Fauna News sobre os papagaios que também foram duas vezes vítimas de traficantes de animais: “Papagaios na Paraíba: duas vezes vítimas do tráfico e ninguém noticiou”
- Assista ao vídeo de 28 de outubro de 2011 sobre o furto das araras (TV Tribuna)

- Assista ao vídeo sobre o encontro das araras (TV Tribuna):

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Matança de baleias justificada por uma tradição cultural

Para certas comunidades, a caça de animais silvestres é um meio de sobrevivência; um meio de conseguir alimento. É assim com indígenas, populações tradicionais brasileiras, tribos africanas e por aí vai...

Agora eu quero um argumento forte o suficiente para justificar a matança de baleias-piloto nas Ilhas Faroe, território autônomo associado à Dinamarca com quase 50 mil habitantes, renda per capta de pouco mais de 50 mil dólares americanos e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) classificado como “muito elevado”. A prática, conhecida como Grindadrap e permitida pelas autoridades locais, dizima cerca de mil desses animais anualmente.

Dia 22 de novembro de 2011, dezenas de baleias-piloto foram mortas. Saiba como:

“Quando um grupo grande de baleias é visto, alguns barcos de pesca cercam os animais e os encurralam perto da praia. Então, homens e meninos entram na água com ganchos e facas para matar as baleias.” – texto da matéria “Jovens encurralam e matam baleias durante ritual nas ilhas Faroë”, publicada em 23 de novembro de 2011 pelo portal R7


Matança de 22 de novembro de 2011
Fotos: Andrija Ilic/Reuters

E sabe qual a justificativa?

“O Grindadrap é permitido nas ilhas Faroë pois seus moradores, que são descendentes de vickings, se alimentam há mais de mil anos da carne dessa espécie de baleia.

Segundo os moradores locais, o Grindadrap não é feito para fins comerciais. Eles alegam que a carne das baleias é dividida igualmente entre os membros da comunidade.

A matança, no entanto, é duramente criticada por organizações estrangeiras. De acordo com a ONG The Ecologist, “em nome de um patrimônio cultural”, cerca de mil baleias são assassinadas anualmente na ilha.”
– texto do portal R7

Cultura, como valor humano, é mutável e muda com o passar do tempo, com novos conceitos morais e éticos. Justificar, hoje em dia, matança por “tradição” é inaceitável. Esse povo das Ilhas Faroe não precisa dessa proteína para viver...

- Leia a matéria completa do portal R7
- Conheça o site da campanha anti-Grindadrap de 2010

Assista ao vídeo da campanha anti-Grindadrap de 2010:

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Drogas e animais silvestres: pontos em comum para algumas quadrilhas

Em 2001, a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestre (Renctas) publicou o 1º Relatório Nacional de Tráfico sobre Tráfico de Fauna Silvestre. O trabalho já alertava para a existência de cerca de 350 a 400 quadrilhas de tráfico de animais, sendo que 40% delas estariam envolvidas com outras atividades ilegais – comércio ilegal de pedras preciosas, drogas e armas, por exemplo.

A situação não mudou. Veja:

“Uma operação feita por investigadores de Polícia Civil dos municípios de Imperatriz e Estreito, com o apoio de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), realizada na manhã de sexta-feira (18), resultou no cumprimento a cinco mandados de busca e apreensão.

Fotos: Divulgação Polícia Civil Maranhão

A operação, coordenada pelos delegados de Estreito, Eduardo Galvão, e o de Imperatriz, Francisco de Assis Ramos, teve a participação de 30 agentes civis. Aconteceu na cidade de Estreito, a 443 km de São Luís, e prendeu cinco pessoas, além de apreender uma grande quantidade de entorpecentes e animais silvestres.

(...)A ação foi desenvolvida após um trabalho de investigação da Polícia Civil que apurou a movimentação de tráfico de drogas e comercialização de animais silvestres naquela região.

Na operação, foram apreendidos pela polícia: 165 cabeças de crack, 200 gramas de maconha, 7 cápsulas de cocaína, 1 pistola calibre 635, 30 munições calibre 380, R$ 2 mil e 300 em dinheiro; além de 20 animais silvestres, dentre os quais dez veados, oito cotias, um quati e uma catitu.”
– texto da matéria “Operação apreende drogas e animais silvestres em Estreito” publicada em 20 de novembro de 2011 pelo Jornal Pequeno (em sua edição on line)

Infelizmente a matéria não dá mais detalhes sobre os animais. Como sempre, a imprensa deu mais destaque para a apreeensão de drogas e armas e pouco apurou sobre o crime contra a fauna. Qual a espécie dos animais? De onde vieram? São da região? Quais as consequências da retirada desses espécimes para o ecossistema? É raro encontrar comércio de veados, portanto, há tantos compradores assim para haver tantos animais em cativeiro?

Perguntas que ficarão sem respostas...

- Leia a matéria completa do Jornal Pequeno
- Conheça a Renctas

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Tamanduá-mirim é condenado à prisão perpétua no Piauí

Tem certos fatos que não consigo ignorar.

“Tamanduá é encontrado com caçador em S.R.Nonato (São Raimundo Nonato - Piauí)

Um tamanduá-mirim foi encontrado com um caçador na região da Serra da Capivara. O animal estava preso com uma corda e teve as unhas cortadas. Segundo especialista, esse tipo de espécie é comum na região do Parque e costuma se abrigar em locais úmidos.

O tamanduá foi recolhido e levado para Parque Nacional Serra da Capivara.”
– texto publicado pelo Portal SRN em 16 de novembro de 2011


Fotos: Portal SRN

Outras coisas que não deixo passar: a limitação da abordagem jornalística pelo clamor do “inusitado” e a medíocre superficialidade.

Nada falaram do sujeito que capturou, mutilou e mantinha o animal em cativeiro. Nesse caso, sabe quem será o único condenado ao cárcere eterno? O tamanduá, já que sem suas garras ele não conseguirá mais se alimentar (elas são usadas para furar cupinzeiros e formigueiros, por exemplo).

Enquanto isso, o tal sujeito que fez tudo isso irá responder pelo crime em liberdade e, se condenado, terá a pena de prisão transformada em pagamento de cestas-básicas ou trabalho comunitário.

- Leia a matéria completa do Portal SRN

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Começar a semana pensando...

...na extinção de espécies: vamos escolher as espécies que sobreviverão da mesma forma como os médicos selecionam entre os feridos quem salvarão em uma guerra?

“Uma pesquisa feita com quase 600 biólogos especialistas em biodiversidade no mundo todo revelou que a maioria deles já considera que algo antes impensável pode ser necessário: "desligar os aparelhos" de certas espécies ameaçadas. Assim como médicos militares precisam fazer escolhas difíceis sobre quais feridos tratar primeiro, 60% dos biólogos ouvidos no levantamento acham que, como não vai ser possível salvar todas as espécies em risco de extinção, é melhor começar a pensar em critérios de triagem.

O resultado foi obtido por Murray Rudd, da Universidade de York, e está em artigo na revista científica "Conservation Biology".”
– texto da matéria “Biólogos aceitam 'descarte' de espécies” publicada pela Folha de S. Paulo em 15 de novembro de 2011

A ideia é muito polêmica e me fez, em um primeiro momento, fazer o seguinte questionamento: somos capazes de dimensionar as conseqüências de permitir a extinção de alguma espécie? Temos esse conhecimento todo?

Os entrevistados encaram a atual crise da perda de biodiversidade como uma encruzilhada, onde qualquer que seja o caminho escolhido haverá perdas de espécies.

“Os biólogos justificam a decisão dizendo que, se critérios objetivos sobre que espécies salvar não forem estabelecidos logo, as extinções vão acabar acontecendo de qualquer jeito, e o risco de consequências funestas para a biodiversidade será maior ainda.” – texto da Folha


Para concluir, a matéria deixou um recado para os responsáveis por pesquisas e por políticas públicas em conservação:

“Mais de 80% concordam com a afirmação de que é preciso "estar disposto a repensar os objetivos e os padrões de sucesso da conservação".” – texto da Folha

- Leia a matéria da Folha de S. Paulo
- Releia “Reflexão para o fim de semana: somos apenas mais uma entre milhões de espéices” publicada em 26 de agosto de 2011 pelo Fauna News

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: a morte no transporte do tráfico

O vídeo a seguir foi feito no município de Avellaneda, na província de Santa Fé, Argentina, após a prisão de um homem que transportava pássaros e macacos em uma caminhonete. Essa é a descrição do mesmo no You Tube, onde foi publicado em 22 de abril de 2009.

Minha intenção é mostrar a quantidade de pássaros que caem mortos da caixa de transporte durante a soltura - que, saliente-se, aparenta ter sido feita sem critérios técnicos. Não importa, nesse momento, questionar está correta a afirmação de que para cada grupo de 10 animais silvestres retirados da natureza para o tráfico, apenas um chega vivo para o consumidor final e o cativeiro eterno.

O fato é: há mortes.



quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Orangotangos: quando a vida animal depende da qualidade de vida humana

É fato: qualquer atividade preservacionista ou conservacionista não terá êxito em área de pobreza humana. Vamos ao exemplo:

“Os pesquisadores entrevistaram 6.983 pessoas em 687 localidades de Kalimantan, a parte indonésia da ilha de Bornéu e o maior santuário de orangotangos do mundo.

Mais da metade dos homens ouvidos admitiu ter matado ao menos um animal desses em sua vida, por medo, necessidade ou para proteger as plantações.”
– texto da matéria “Estudo diz que indonésios matam 750 orangotangos ao ano” publicada pela Folha de S. Paulo em 14 de novembro de 2011


Orangotandos na Tanjung Putting Reserve, em Kalimantan, Bornéu
Foto: WWF-Canon/Rob Webster

Um traço marcante, mas não exclusivo, de áreas economicamente pobres é a falta de informações sobre a importância da fauna silvestre e de como manejar adequadamente regiões com recursos naturais bem conservados.

“Karmele (Karmele Plano, diretora de um centro de apoio aos orangotangos de Kalimantan) disse à Agência Efe que, em seus anos de trabalho na Indonésia, assistiu à venda da carne desses animais nos mercados e também o comércio de filhotes órfãos devido à caça de suas mães. "Os dados emitidos pela Nature Conservacy não são surpreendentes", disse.

Apesar do estudo se concentrar na morte dos primatas pelas mãos do homem, outro problema que afeta a vida dos orangotangos é a perda de seu hábitat natural.”
– texto da Folha de S. Paulo

Atualmente, especialistas estimam que Bornéu abriga 45 mil orangotangos, espécie classificada como “em perigo” de extinção. Infelizmente, a matéria não faz qualquer menção ou fornece análise de algum trabalho de educação ambiental ou de atividades (ou falta delas) que visem melhorias de renda para a população local.

Com o tráfico de animais a situação é similar em muitas áreas de apanha: atraídos por um ganho mais fácil e maior que suas atividades econômicas rotineiras, integrantes de comunidades pobres em todo mundo formam o primeiro elo da corrente do tráfico.

Pobreza e ambientalismo não combinam! Se quer preservar o meio ambiente, cuide também do homem...

- Leia a matéria da Folha de S. Paulo
- Saiba mais sobre orangotangos

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Papagaios na Paraíba: duas vezes vítimas do tráfico e ninguém noticiou

Três papagaios foram que já haviam sido reintroduzidos na natureza pelo Ibama caíram novamente nas mãos de traficantes de animais na Paraíba. As aves foram identificadas por possuírem chips, que foram implantados debaixo da pele para que pudesse ser feito o acompanhamento dos animais em vida livre.

A imprensa local copiou o texto feito em 10 de novembro de 2011 pela assessoria de comunicação do Ibama da Paraíba e nenhum grande veículo noticiou o caso.


Papagaio com asa cortada
Foto: Divulgação Ibama-PB

“Três papagaios da espécie Amazona aestiva que haviam sido reintroduzidos na natureza pelo Ibama foram apreendidos ontem por agentes ambientais federais em cativeiro em uma residência na cidade de Itaporanga-PB. As multas aplicadas pela manutenção em cativeiro e pela mutilação, devido às asas dos papagaios terem sido cortadas para impedir seu voo, somaram R$ 16 mil.

As informações levantadas no local onde dois dos papagaios estavam em cativeiro permitiram que a fiscalização identificasse a pessoa que capturou os animais na área onde a soltura havia sido realizada, e que vendeu os animais, por R$200,00 cada um, conforme apurado pelos agentes. O caçador, que tinha um papagaio na residência, recebeu multa de R$ 6 mil pela mutilação e manutenção em cativeiro, uma multa de R$ 10 mil foi aplicada ao responsável pelo cativeiro dos outros dois animais.”
– texto do Ibama-PB

Os acusados não puderam alegar desconhecer a existência de crime nas suas ações, afinal ainda tiveram o trabalho de retirar as anilhas das aves. Infelizmente, esse tipo de situação é alimentada pela fraca lei, que permite com que os acusados respondam ao processo em liberdade e, em caso de condenação (seis meses a um ano de detenção), provavelmente terão a pena trocada por alguma atividade comunitária ou pagamento de cestas-básicas.

Também não é preciso destacar que, apesar da ação do Ibama na localização das aves, há a necessidade de aumentar a fiscalização na área de soltura e reintrodução dos animais. Nesses locais, na visão do traficante, é quase certo que ele encontrará sua mercadoria.

Em 3 de maio de 2011, escrevi "Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres". Veja:

"Matéria do jornal O Norte, de João Pessoa (PB), aponta o Estado nordestino como um dos principais pontos na rota do tráfico da fauna silvestre. A reportagem "Paraíba na rota do tráfico de animais", publicada em 6 de abril de 2011, apresenta números alarmantes de apreensões de animais:

“Nos três primeiros meses deste ano, na Paraíba, os números somam mais de 2,5 mil animais apreendidos vítimas do comércio ilegal, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A expansão do tráfico de animais silvestres no primeiro trimestre de 2011 faz com que o número se aproxime de todos os registros de 2010, quando três mil espécies foram recuperadas.”

Feira livre em Campina Grande (PB) onde acoantece o comércio de animais
Foto: Arquivo SOS Fauna

O jornal também salienta que 10% de todos os animais silvestres apreendidos no país estavam na Paraíba. As cidades que apresentaram um maior número de ocorrências foram Cajazeiras, João Pessoa, Patos e Itabaiana. "A BR-230 vai até o Amazonas e isso facilita o esquema. A rota pelo mar também insere a Paraíba como ponto estratégico pela sua localização, sobretudo favorecendo o comércio internacional", declara Marco Vidal, chefe do setor de Proteção Ambiental (fiscalização) do Ibama." - parte do texto de "Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres"

Esse é o quadro da Paraíba. Lamentável!

- Leia a nota completa do Ibama-PB
- Releia "Paraíba: exemplo da falta de controle do tráfico de animais silvestres", publicado em 3 de maio de 2011 pelo Fauna News

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Esclarecendo a morta da harpia: a ave foi morta por ter caçado um frango

Recebi o seguinte e-mail do biólogo Willian Menq, que esclarece como a harpia (Harpia harpyja) da foto abaixo foi morta:

“Olá, a foto foi originalmente capturada do site Aves de Rapina Brasil (http://www.avesderapinabrasil.com/materias/ameacas_medidas.htm), o qual sou proprietário. A história desta Harpia é a seguinte: é uma harpia jovem, que foi covardemente morta por um fazendeiro da região por ela ter simplesmente predado um frango do mesmo.

É uma pena! As pessoas que estão na foto tiveram seus rostos censurados, pois elas não foram responsáveis pelo "crime". É isso, espero ter ajudado!”



Sobre a foto, escrevi dois textos. O primeiro, em 28 de outubro de 2011 (“Fazendo pose com o cadáver da “rainha dos ares”, a harpia”) e outro em 14 de novembro de 2011 (“Começar a semana pensando...”). A imagem, capturada em julho de 2010 no município de Aripuanã, no Mato Grosso, estava sendo compartilhada por várias pessoas pelo Facebook, mas sem os detalhes sobre como a ave foi morta.

A fotografia, de acordo com o site, foi feita por Christopher Borges e publicada no artigo “Aves de Rapina do Brasil: principais ameaças e medidas para conservação”. Do texto, selecionei o seguinte trecho:

“Outra ameaça às espécies é a caça ilegal e a perseguição. A caça indiscriminada contra qualquer indivíduo de uma população acaba eliminando espécimes adultos com território estabelecido e em pleno vigor reprodutivo. A conseqüência disso nas aves de rapina é pouco estudada, mas com certeza lava a um desequilíbrio ecológico considerável, e aliada à fragmentação do ambiente, representa uma grave ameaça às densidades populacionais naturalmente baixas, como é o caso dos grandes gaviões florestais. Sabemos que as aves de rapina são importantes reguladoras de populações de presas, e um exemplo das possíveis conseqüências a longo prazo é o declínio populacional dessas aves e uma explosão demográfica de roedores e insetos.”

Harpia = onça-pintada
A morte dessa harpia teve a mesma motivação que leva à caça de onças-pintadas no Pantanal: os ataques às criações de fazendeiros. No caso dos felinos, a predação do gado motiva os pecuaristas a perseguir e eliminar onças.

Há diversos trabalhos na região que, além de tentar conscientizar os criadores de gado sobre a importância ecológica desses felinos, pagam os fazendeiros - como forma de indenização – por cada animal abatido pelo predador. Esse fenômeno está bastante comum pelo fato de o hábitat das onças-pintadas, e a consequente redução de suas presas, estarem sob constante pressão da ação humana. Desmatamento.

- Leia o artigo “Aves de Rapina do Brasil: principais ameaças e medidas para conservação”, na íntegra, do site Aves de Rapina do Brasil
- Releia “Fazendo pose com o cadáver da “rainha dos ares”, a harpia”, de 28 de outubro de 2011
- Releia "Começar a semana pensando..." de 14 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Começar a semana pensando...

...na beleza da harpia.

Em 28 de outubro de 2011, escrevi “Fazendo pose com o cadáver da “rainha dos ares”, a harpia” sobre uma foto (ver abaixo) que circulava pelo Facebook com dois homens segurando uma Harpia harpyja morta. A imagem foi captada por um biólogo em Aripuanã, município do Mato Grosso situado perto da divisa com o Amazonas. Os rostos já estavam cobertos na rede social. Na foto é possível ver a data: 31 de julho de 2010.


As circunstâncias da morte dessa harpia não foram citadas no texto do Facebook. Aparentemente, pelos comentários, a ave não morreu acidentalmente. O animal deve ter sido morto por ação humana.

A harpia vive na Amazônia, no Pantanal e na Mata Atlântica. Da ponta de uma asa a outra, chega a medir até 2,2 metros. O macho pode atingir seis quilos e a fêmea, a dez. A degradação do hábitat é a maior ameaça ao gavião-real, como também é conhecida a espécie.

Deixando a desgraça de lado, que tal ver a harpia livre na natureza. Assista ao vídeo! É curtinho (2min51seg) e vale a pena!


- Releia “Fazendo pose com o cadáver da “rainha dos ares”, a harpia”

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: rinoceronte-negro-do-oeste é mais uma espécie extinta

A perda de hábitats e o tráfico de animais e suas partes são as duas principais causas das extinções de espécies da fauna. É a ação humana empobrecendo a biodiversidade. Dessa vez a vítima foi o africano rinoceronte-negro-do-oeste.

Foto: http://laescaleradeiakob.blogspot.com

“A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) divulgou nesta quinta-feira (10 de novembro de 2011) uma atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Com a renovação do banco de dados, a subespécie de rinoceronte-negro-do-oeste (Diceros bicornis longipes) é oficialmente considerada extinta. Além disso, outra duas subespécies do animal estão "provavelmente extintas", segundo a organização. De acordo com o relatório, 25% dos mamíferos conhecidos estão em risco de extinção.

Segundo a IUCN, o rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum cottoni) - da região central da África - e o rinoceronte-de-Java (mais exatamente a subespécie Rhinoceros sondaicus annamiticus) estão provavelmente extintos. O último animal da subespécie certamente foi morto em 2010 no Vietnã, afirma a organização. No final de outubro, outra organização, a WWF, afirmou que já considerava o rinoceronte-de-Java extinto.

O rinoceronte-negro-do- oeste vivia no oeste africano. A IUCN afirma que uma expedição em 2006 falhou em encontrar algum exemplar do animal, mas descobriu diversos indícios de caça à subespécie. Entre as causas do desaparecimento estão a caça pelo chifre e a falta de política de conservação.”
– texto da matéria “Subespécie de rinoceronte é extinta; 25% dos mamíferos em risco” publicada em 10 de novembro de 2011 pelo portal Terra

A BBC Brasil também noticiou a extinção. Assista ao vídeo:

   

A matéria do portal Terra toca no problema do manejo de habitáts, também citado pela BBC. O que nenhuma das duas notícias abordam é a caça de rinocerontes para a retiradas dos chifres, extremamente valiosos na China e no sudeste asiático como remédio da medicinal tradicional. Na África do Sul, motivados pela incompetência de coibir caçadores sedentos por valiosos chifres, o governo autorizou a extração dessa cobiçada parte dos animais para evitar que sejam mortos.

Na Europa, quadrilhas especializaram-se em atacar museus e antiquários que mantêm rinocerontes empalhados ou chifres em seus acervos. Veja porquê.

Um quilo de chifre de rinoceronte, em pó, vale cerca de US$ 97.500 no mercado negro. Mais que ouro, heroína ou cocaína. Valor tão alto é explicado pela grande demanda da China e dos países do sudeste asiático, onde o produto é considerado afrodisíaco ou remédio contra câncer, rente à pouca oferta – já que a caça do animal é ilegal e as populações das espécies estão em franco declínio.


Em pouco tempo, rinocerontes-negros só em ilustrações e fotos, como nesse selo de Ruanda

Absurdo, mas é real.

- Leia a matéria do portal Terra
- Leia a matéria da BBC Brasil
Releia algumas das matérias do Fauna News sobre os rinocerontes:
- “Rinocerontes: resolveram matar o paciente!” publicada em 28 de setembro de 2011
- “Traficantes de animais atacam até os empalhados” publicada em 29 de setembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Filhotes cada vez mais são vítimas da pressão humana sobre a fauna silvestre

Está se tornando cada vez mais comum encontrar no noticiário alguma matéria sobre a apreensão de filhotes de animais silvestres. As abordagens dos jornalistas, normalmente, são superficiais e não vão além do inusitado do fato. Poucos tentam identificar as causas desse fenômeno.

Em nove de novembro de 2011, dois encontros de filhotes de felinos selvagens foram publicados por diferentes sites. O portal Terra veiculou:

“Um filhote de onça-parda foi encontrado em uma fazenda de Ribas do Rio Pardo, no interior do Mato Grosso do Sul. O animal, de dois meses de idade, estava sem a mãe e agentes da Polícia Militar Ambiental foram chamados para resgatar a onça.” – texto da matéria “Filhote de onça-parda é resgatado de fazenda no interior do MS”


Filhote de onça-parda pode ter tido a mãe morta por caçadores
Foto: Divulgação Polícia Militar Ambiental (MS)

Em dois momentos a matéria toca em uma hipótese que explicaria o fato de a pequena onça-parda estar sozinha e perdida. “A PM acredita que a mãe possa ter sido morta por caçadores.” e “Em Mato Grosso do Sul tem sido caçada principalmente porque costuma matar animais de fazenda para ensinar os filhotes a caçar.” Essa tímida busca pela causa de o felino estar abandonado não foi sequer esboçada pelo jornalista Marco Antonio Calejo, que apurou “Filhote de jaguatirica é encontrado em São Miguel Arcanjo”, publicada pelo site do interior paulista temmais.com a partir de uma matéria do mesmo repórter veiculada na TV Tem (afiliada da Rede Globo) – as empresas são do mesmo grupo.


A jaguatirica tem cerca de 20 dias de vida
Imagem: Reprodução TV Tem

“Em São Miguel Arcanjo, um filhote de jaguatirica foi encontrado numa madeireira. Não é a primeira vez que um animal silvestre aparece na região. Segundo o dono da área, onças já foram vistas no local.

 O filhote de jaguatirica, que tem cerca de vinte dias, ficou preso numa gaiola até a chegada da Polícia Ambiental. Apesar de ser pequeno, se mostrou arisco. O animal será atendido por um veterinário e depois encaminhado ao Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais, com sede em Jundiaí.”


Esse é todo o texto. Não passou de uma abordagem movida pela curiosidade do fato. Na versão da televisão, mais extensa e completa, também nada sobre a causa de o filhote estar separado da mãe e em área quase urbana.

E sabe o que ainda me incomodou mais um tanto? O repórter da matéria da TV Tem segura o filhote de jaguatirica durante a gravação como se estivesse com algo sem vida, chacoalhando de um lado para outro. Assista à matéria:



- Leia a matéria do portal Terra
- Saiba mais sobre jaguatiricas

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Tráfico de animais - Alô polícia, pedir para a população denunciar não vai resolver

“A ajuda da população é fundamental para o sucesso do combate aos crimes ambientais. Essa é a visão da Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) de Pernambuco, uma das entidades que atua na repressão a esse tipo de infração, que tem acontecido com frequência no estado. “A gente pede que a população participe e denuncie, porque a gente só consegue fazer um bom trabalho com a participação da comunidade”, assegura a major Erika Melcop, comandante da Cipoma.” – texto da matéria “Cipoma-PE pede ajuda da população no combate ao tráfico de animais” publicada em 2 de novembro de 2011 pelo portal G1 com base em um trabalho do Bom Dia Pernambuco (TV Globo)

Cipoma é a sigla que identifica a Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente da PM de Pernambuco. É lógico que não me surpreende que a oficial responsável pela repressão ao tráfico da fauna silvestre estimule a população a denunciar quem pratica esse crime. Concordo também com a queixa dela: “Essa lei não está corrigindo os infratores. As penas aplicadas são consideradas de menor potencial ofensivo e geralmente é são transformadas, pelo juiz, em penas alternativas”. Afinal, esse ilícito (artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais) tem pena prevista de seis meses a um ano de detenção e, pela atual legislação, é respondido em liberdade com a possibilidade da reversão da detenção, em caso de condenação, por alguma pena alternativa. É a nossa lei fraca!


517 filhotes de papagaios eram transportados em gaiolas de metal por traficantes - 25 de setembro de 2011, em Pernambuco
Foto: Divulgação Ibama

Bom, mas comecei a escrever para “lembrar” ao poder público que repressão pura e simples não vai acabar com o tráfico de animais. É, como dizem, “enxugar gelo”. Não vai adiantar pedir para a população denunciar. Só isso não vai funcionar.

 Da mesma forma como acontece com o comércio de drogas, só com a redução do consumo é que a venda de animais silvestres pode ser diminuída.

Enquanto existir consumidor, isto é, gente querendo ter animal silvestre como bicho de estimação ou disposta a comprar produtos com partes de animais (penas, dentes e garras em enfeites, peças de roupas ou poções ditas medicinais, por exemplo), haverá tráfico de fauna.  Nesse ponto, educação ambiental, conscientização e sensibilização da população, além de uma lei realmente punitiva, são essenciais.

Educação ambiental, fiscalização (que inclui repressão) e infraestrutura de atendimento pós-apreensão e de reabilitação à vida livre dos animais apreendidos são o mínimo que se espera de uma política pública séria sobre o tráfico de fauna.

Temos algo parecido??? Você, com certeza,  sabe a resposta.

- Leia a matéria do portal G1
- Conheça a Lei de Crimes Ambientais
- Releia a matéria do Fauna News sobre a apreensão de 517 papagaios em Pernambuco

- Assista à matéria do Bom Dia Pernambuco:

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Portugal: porta de entrada do tráfico de fauna brasileira na Europa

"As autoridades portuguesas apreenderam no aeroporto de Lisboa 140 ovos de tucanos, araras e papagaios, vindos do Brasil, em cinco casos de tráfico ilegal desde Maio.” – texto da matéria “Apreendidos em Lisboa 140 ovos de tucanos, araras e papagaios" publicada em 7 de novembro de 211 pelo site Ecosfera

Entre os casos está o do brasileiro surpreendido com 30 ovos de papagaio-de-cauda-curta (Graydidascalus brachyurus) dentro de meias femininas amarradas em sua cintura, comentado pelo Fauna News em 27 de maio de 2011. Ele foi enviado de volta ao Brasil e foi recepcionado por agentes do Ibama e policiais federais no aeroporto Juscelino Kubitschek (Brasília). Além de multado em R$ 65 mil por transporte ilegal de fauna e remessa de material genético ao exterior, ele responde criminalmente pelo ato.


Foto do brasileiro feita pelas autoridades portuguesas
Foto: Divulgação Ibama

“Em Agosto, as autoridades identificaram uma cidadã portuguesa que transportava 29 ovos de papagaios, oriundos de Belo Horizonte. No mês seguinte, o aeroporto de Lisboa voltou a ser palco de apreensões, uma no dia 14 (11 ovos de araras) e outra a 15 (58 ovos de papagaios e tucanos), por três cidadãos portugueses. A apreensão mais recente data de 12 de Outubro, quando um indivíduo português foi identificado por transportar 12 ovos de tucano.” – texto do site Ecosfera

A matéria do Ecosfera informa que, entre 2003 e 2007, cinco quadrilhas de tráfico de animais e ovos foram desarticuladas em Portugal. O país é um dos principais pontos de entrada ilegal de fauna e partes de animais vindas do continente americano para abastecer o mercado europeu.

Vale destacar que, apesar de o tráfico internacional da fauna silvestre brasileira ocorrer com freqüência, entre 60% e 70% desse comércio - de acordo com as ONGs Rede Nacional Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) e WWF-Brasil – são voltados para o mercado interno.

- Leia a matéria completa do site Ecosfera
- Conheça a Renctas
- Conheça o WWF-Brasil
- Releia o texto do Fauna News sobre a prisão do brasileiro em Portugal

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Reflexão para o fim de semana: superpopulação humana e extinção de animais

Já somos 7 bilhões. Entre as notícias veiculadas sobre o novo patamar numérico da população humana, encontrei uma notícia um tanto exótica. Reproduzindo uma matéria do The New York Times, o portal Último Segundo publicou, em 1º de novembro de 2011, “Campanha associa superpopulação à extinção de animais”. O texto apresenta a campanha da ONG americana Centro de Diversidade Biológica em que distribui camisinhas com mensagens preservacionistas.

Foto: Tony Cenicola/The New York Times

“Grandes grupos ambientais dos Estados Unidos evitaram o tema do controle populacional ao longo de décadas, com medo de entrar na polêmica da política de saúde reprodutiva.

No entanto, praticamente sozinho, o Centro de Diversidade Biológica está quebrando o tabu de associar diretamente o crescimento da população e os problemas ambientais através de esforços como a entrega de preservativos em pacotes coloridos retratando animais ameaçadas de extinção.

A ideia é dar início a um debate sobre como a superpopulação elimina espécies e acelera a mudança climática – justamente quando o mundo chega a 7 bilhões de habitantes.

"Use com cuidado e salve o urso polar", diz um dos pacotes. "Usar um preservativo agora, pode salvar uma coruja", diz outro.”
– texto do Último Segundo

A ideia partiu do raciocínio de que o crescimento da população humana fará tanta pressão sobre a biodiversidade que as demais espécies animais desaparecerão. Será???

- Leia a matéria do Último Segundo
- Conheça o Centro de Diversidade Biológica (em inglês)

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Arrependido por manter aves silvestres em cativeiro. Sinal de mudança?

"Um morador de Quebracho, distrito de Anaurilândia distante a 366 quilômetros de Campo Grande, procurou a Polícia Militar Ambiental (PMA) e entregou a criação de 17 aves silvestres que criava em sua residência.” Surpreso? Eu também.


Pássaros entregues a PMA pelo criador ilegal arrependido
Foto: Divulgação/PMA

E fiquei mais surpreso ainda com a justificativa desse homem: arrependimento. É  isso mesmo que você leu. O fato foi noticiado na matéria “Criador ilegal se arrepende e entrega a polícia de MS pássaros em cativeiro”, publicada em 22 de outubro de 2011 pelo portal G1. Será que as coisas estão mudando?

A matéria do portal G1 não contém informações sobre o morador do Mato Grosso do Sul. Foi uma oportunidade, no caso, perdida, de mostrar um exemplo que deveria ser seguido por boa parte da população brasileira. Afinal, de acordo com estimativas, cerca de 60 milhões de brasileiros criam animais silvestres em suas residências.

Uma informação muito importante foi divulgada somente na última sentença da matéria: “Segundo a PMA, o homem não foi autuado pois a devolução da criação foi espontânea e nesse caso não representa crime.”

- Leia a matéria completa do portal G1

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Educação ambiental: historinha que não serve só para a criançada

Recebi a indicação dessa historinha sobre o combate ao tráfico de animais silvestres. O vídeo, curtinho (55 segundos), foi feito pela equipe de "O TemporadaFora", video blog que busca conscientizar o público sobre temas relacionados ao meio ambiente e o bem-viver, sempre se usando de videos com muito humor para transmitir a mensagem. Todos os sábados, eles publicam um novo trabalho. Confira!




terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perda de hábitat, tráfico e confecção de adornos: será o fim das araras bolivianas?

Está na matéria “Amazônia boliviana sem araras?”, publicada em 31 de outubro de 2011 pelo site O Eco:

“Parques naturais da Amazônia boliviana abrigam um total de dez espécies de araras, das 16 que existem no mundo. No entanto, quatro delas enfrentam sérias ameaças para sua conservação devido à caça, perda de habitat e tráfico de animais silvestres, motivos pelos quais hoje são consideradas criticamente ameaçadas pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites), além de serem parte da lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).”


Tráfico de araras-vermelhas
Foto: Mauricio Herrera
 
Entre as ameaças listadas na matéria, a perda de hábitat pela atividade madeireira, a exploração de petróleo e a construção de represas ganha destaque.

“Os parques amazônicos onde existem araras na Bolívia, como o Parque Nacional Manuripi no departamento de Pando, o Noel Kempff em Santa Cruz, a Reserva da Biosfera e Estação Biológica em Beni e o Madidi, em La Paz, não prenunciam um futuro muito bom para a conservação destas esplendorosas aves, consideradas símbolo da beleza e da riqueza animal na Amazônia boliviana.

Isto se dá devido a diferentes obras e projetos, como a construção de represas (Cachuela Esperanza no Rio Beni), estradas (Apolo, La Paz, TIPNIS, Beni e Cochabamba) e explorações petrolíferas (Madidi, La Paz) que causarão a fragmentação de seus habitats naturais, criarão barreiras e alterarão seriamente seu ciclo migratório e de reprodução, ações que finalmente poderiam deixar a Amazônia boliviana sem araras.”
- texto de O Eco

Mas o tráfico de animais também está muito presente. E a pressão criminosa (a venda de animais sem autorização, com destaque às espécies em risco de extinção, é ilegal na Bolívia) acontece, principalmente, sobre a Ara macao, conhecida como araracanga ou arara-vermelha, bastante comercializada como bicho de estimação. 

“As intensas e vivazes cores que caracterizam esta bela ave a converteram em uma das mais procuradas e cujos exemplares (tanto filhotes quanto adultos) são facilmente encontrados em diferentes mercados da Bolívia. Sua população é desconhecida, mas estima-se que seja baixa, já que a Cites a catalogou dentro do Apêndice I da lista de espécies ameaçadas.” - texto de O Eco

Lendo a matéria, encontrei muitos pontos em comum com o Brasil. Apesar de o comércio de araras não ser tão escancarado no Brasil e ocorrer às escondidas, a venda desse tipo de ave ainda é bastante comum, como mostram as freqüentes apreensões dos órgãos de fiscalização. Muito similar ao quadro mostrado pela matéria do site O Eco é o tráfico de outras aves (principalmente da ordem dos passeriformes, também conhecidos como aves canoras) nas feiras brasileiras. Os papagaios também são alvo de intenso tráfico, principalmente na entrada da primavera, período em que há o nascimento das ninhadas.

No Brasil, há dados indicando que 82% dos animais traficados são aves e que entre 60% e 70% desse comércio ilegal é voltado para abastecer o mercado interno. O hábito de manter aves engaioladas, que como o Eco mostrou, não é exclusividade nossa, e pelas ações do governo boliviano na gestão das unidades de conservação, a falta de atenção do poder público com as reservas também não.

- Leia a matéria completa de O Eco


As penas das araras são usadas para a confecção de adornos
Foto: Mauricio Herrera