sexta-feira, 30 de março de 2012

Reflexão para o fim de semana: a indústria do dendê exterminando orangotangos na Indonésia

“Os fogos florestais ateados por produtoras de óleo de palma para limpar a terra numa região da ilha de Samatra podem matar dentro de semanas cerca de 200 orangotangos, disse nesta quarta-feira um grupo de ambientalistas indonésio.

No lugar da floresta, monocultura da palmeira
Foto: Rante/Greenpeace

O grupo de orangotangos faz parte da espécie Pongo abelii, exclusivo daquela ilha indonésia. O orangotango-de-samatra tem uma população de cerca de 6600 indivíduos e está criticamente em perigo de extinção. Há apenas mais uma espécie de orangotanto, na ilha de Bornéu.”
– texto da matéria “População de 200 orangotangos ameaçada pelas chamas em Samatra”, publicada em 29 de março de 2012 pelo site português Ecosfera reproduzindo material da agência Reuters

Essa população de orangotangos vive em Rawa Tripa (província Aceh), região com floresta densa e turfeiras no norte da Ilha de Samatra. Mas mais de dois terços da área foi dividida para produtores que receberam concessões para plantarem as palmeiras que fornecem o fruto de onde se extrai o óleo. A indonésia é um dos maiores produtores mundiais desse óleo, bastante usado na culinária e na fabricação de biodiesel.

Foto: Staff Photographer - Reuters

Sobre o biodiesel a partir do óleo de dendê, o combustível deixa de ser uma alternativa mais sustentável ao petróleo a partir do momento em que as palmeiras são cultivadas com queimadas de florestas e a consequência emissão de gás carbônico (gás estufa), além da morte da fauna. A perda da biodiversidade local é imensa e, no caso dos orangotangos, a extinção é irreversível.

“No ano passado, a Indonésia iniciou uma moratória de dois anos que suspendeu todas as autorizações para limpar a floresta. A decisão fez parte de um contrato com a Noruega de mil milhões de dólares (752 milhões de euros) para cortar nas emissões de dióxido de carbono e desacelerar a expansão das plantações. Mas, segundo o grupo ambiental, logo nos primeiros dias a moratória foi violada em Aceh.” – texto do site Ecosfera

As novas concessões estão sendo questionadas judicialmente. Mas enquanto nenhuma decisão é decretada, as queimadas continuam.

A situação não é muito diferente na ilha de Bornéu, onde vive a outra espécie de orangotango.

“Um estudo recente indica que os habitantes da parte indonésia da ilha do Bornéu mataram pelo menos 750 orangotangos durante o período de um ano, para protegerem as suas culturas e obter a carne dos macacos.

Orangotangos-de-Bornéu
Foto: WWF-Canon/Rob Webster

Erik Meijaard, autor do relatório divulgado agora pelo jornal PLoSOne, disse que a matança coloca sérias ameaças à sobrevivência dos macacos, mais até do que o inicialmente suposto. “ – texto da matéria “750 orangotangos mortos no período de um ano”, publicada em 14 de novembro de 2011 pelo jornal português Diário de Notícias

Os orangotangos são divididos em duas espécies (informações sobre as espécias são da IUCN):

- orangotando-de-Bornéu (Pongo pygmaeus, com três subespécies) – classificação IUCN: em perigo

Com uma população estimada entre 45 mil e 69 mil animais, essa espécie de orangotango vive na ilha de Bornéu (nos estados Sabah e Sarawak, da Malásia, e em três das quatro províncias indonésias de Kalimantan). O número desses primatas tem caído drasticamente pela substituição das florestas nativas por plantações de palmeiras para produção de óleo (usado para cozinhar, cosméticos, mecânica, e mais recentemente como fonte de biodiesel), por incêndios nas matas, extração de madeira, caça e captura para o tráfico de fauna.

- orangotango-de-Sumatra (Pongo abelii) – classificação IUCN: em perigo crítico

Sua população, geralmente restrita ao norte da ilha de Sumatra, teve uma queda estimada de mais de 80% nos últimos 75 anos, chegando aos atuais 7.300 animais. Este declínio continua, principalmente pelo fato de as florestas onde vivem estarem sob grande ameaça. A maioria dos orangotangos está fora de reservas protegidas, inclusive dentro de áreas potenciais de exploração madeireira e de conversão da cobertura vegetal nativa por plantações de palmeiras para extração de óleo.

"A desflorestação nas várias ilhas do país tem ameaçado animais como o tigre-de-samatra e o rinocerante-de-java. O tigre-de-bali e o tigre-de-java já desapareceram nos últimos 70 anos." - texto do site Ecosfera

- Leia a matéria do site Ecosfera
- Leia a matéria do Diário de Notícias
- Releia o post do Fauna News “Orangotangos: sofrimento também quando são criados como pets”, publicado em 4 de janeiro de 2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

Unidades de conservação: essenciais. Veja o porquê

"Voltou tudo, menos a onça-pintada". Com essa declaração, o gestor do núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, João Paulo Villani, resumiu o balanço que faz sobre a criação da unidade de conservação paulista ocorrida em 1977. A afirmação não é resultado apenas do trabalho diário na área protegida. É também parte da constatação de pesquisadores.

A declaração está na matéria “'Voltou tudo, só falta a onça-pintada'”, publicada em 25 de março de 2012 pelo jornal O Estado de S. Paulo.

“Seu Paulo, 52 anos, conhece a parte norte do Parque Estadual da Serra do Mar talvez melhor do que ninguém. Nasceu e cresceu dentro do Núcleo Cunha do parque, que meio século atrás era uma fazenda de gado, madeira e carvão. "Nessa região aqui eu conheço tudo. Tudo mesmo", diz Paulo Rosário Araújo. E ele garante: aumentou muito o número de animais selvagens desde a criação do parque, em 1977. "Voltou muito bicho. Porco-do-mato você só via lá pra baixo, no litoral, agora tem de monte aqui pra cima. Anta também voltou muito; tem lugar que é igual vaca."

Onça-parda fotografada no Parque Estadual da Serra do Mar (SP)
Foto: Peter Crawshaw/ICMBio/Projeto Felinos da Serra do Mar

Os predadores também voltaram. E não os da espécie humana, apesar de o parque ainda sofrer com invasões de caçadores. Onças-pardas, jaguatiricas e outros carnívoros são registrados com frequência na região. Só falta uma espécie para completar a cadeia alimentar: a onça-pintada, Panthera onca, o maior felino das Américas. Justamente o predador "topo de cadeia". Com tanta comida disponível para ela, os gestores não entendem por que ela não é vista no parque, nem mesmo nessa área mais afastada ao norte, formada pelos núcleos Cunha, Santa Virgínia e Picinguaba.”
– texto de O Estado de S. Paulo

Mas a onça-pintada está lá, já que pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (Cenap), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), já registraram uma pegada do animal. Em outras unidades de conservação paulistas, como os parques estaduais Carlos Botelho e Intervales, mais ao sul do Estado, mais de 15 onças-pintadas já foram fotografadas pelas armadilhas fotográficas - câmeras acopladas a sensores de movimento, que disparam um foto quando algo passa na frente delas.

Só falta a onça-pintada
Foto: Divulgação/Concessionária Cataratas do Iguaçu S/A

Pesquisas e trabalhos como esse têm de ser divulgados para comprovar a importância das unidades de conservação de proteção integral, como os parques, as estações ecológicas e as reservas biológicas. Comprovar não para a ciência, mas para a população e, principalmente, para os governantes que insistem em viver no falso conflito desenvolvimento X conservação.

- Leia a matéria completa de O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 28 de março de 2012

Na terra da muamba, até jaguatirica!

A divisa do Brasil com o Paraguai, mais precisamente na região de Foz do Iguaçu, tem de tudo: perfumes e eletrônicos (falsificados e contrabandeados), carros roubados, drogas, armas e o que mais de ilegal você puder imaginar. Inclusive animais sendo traficados.

“A Polícia Federal prendeu no sábado (24), um cidadão paraguaio que tentava vender um filhote de animal da fauna silvestre, na cabeceira da Ponte Internacional da Amizade, limite fronteiriço com o Paraguai.

Filhote de jaguatirica apreendido
Fonte: Divulgação Polícia Federal

A ação aconteceu por volta das 17h, quando um pedestre abordou o policial federal que estava de plantão, avisando que na cabeceira da ponte havia um homem tentando vender um animal.

Neste momento o cidadão paraguaio já estava passando pela aduana quando foi abordado e revistado, dentro de sua mochila estava um filhote de jaguatirica. O animal se encontrava bastante debilitado, ofegante e com as patas machucadas.”
– texto da matéria “Preso ao tentar vender filhote de jaguatirica em Foz do Iguaçu”, publicada em 26 de março de 2012 pelo site Paraná Online

Apesar da tragédia envolvendo o animal, senti vontade de rir. Não por ter algo engraçado no texto, mas pela ironia da situação:

“O nacional paraguaio, que não portava documentos, foi autuado em Termo Circunstanciado, por crime ambiental e liberado em seguida, com o compromisso de comparecimento, em data marcada, na Justiça Federal.”

Ele vai comparecer?

- Leia a matéria do Paraná Online
- Saiba mais sobre as jaguatiricas (site InfoEscola)

terça-feira, 27 de março de 2012

Peixes: vítimas pouco lembradas quando se fala em tráfico de animais

Mamíferos, aves, répteis e anfíbios são lembrados constantemente quando o assunto é tráfico de fauna. Seja pelo poder público, seja pela imprensa, pelas ONGs ou pela população. O alarmante número de 38 milhões de animais silvestres retirados da natureza brasileira anualmente para o tráfico, veiculado pela ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), não inclui peixes e invertebrados.

Mas esses animais são vítimas tanto quanto qualquer outro. Só que com menos atenção.

“A Polícia Federal do Amazonas apreendeu, neste domingo (25), 940 espécies de aruanã-negra no Aeroporto de Tabatinga, a 573 km de Manaus. A ação ocorreu durante vistorias de bagagens e faz parte da "Operação Sulamba" de combate ao tráfico internacional de alevinos na fronteira entre Brasil e Colômbia. A ação é coordenada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Os peixes são transportados em sacos plásticos
Foto: Divulgação Ibama

De acorco com informações divulgadas pelo Ibama, os alevinos vieram do município de Novo Airão, a 115 km da capital, e teriam como destino a Colômbia, onde seriam comercializados como peixes ornamentais. Ainda segundo agentes ambientais do Instituto, eles possuíam em média quatro centímetros e estavam acondicionados em duas malas, dentro de sacos plásticos com água.” – texto da matéria “Operação apreende 940 alevinos de aruanã-negra em aeroporto no AM”, publicada em 26 de março de 2012 pelo portal G1

E essa apreensão não é um fato isolado. Na Amazônia, o contrabando de peixes ornamentais é um problema sério.

“Uma casa localizada no Bairro da Floresta foi transformada em um aquário. Na residência, os cômodos eram ocupados por tanques que possuíam um sistema de manutenção do ambiente para peixes como acari, raia e peixes ornamentais. Alguns desses animais foram trazidos do município de Altamira.

Tanques improvisados com piscinas pelos traficantes
Foto: Notapajos.com

(...)Na casa foram presos dois estrangeiros, sendo um alemão e um colombiano, um maranhense, e uma doméstica natural de Itaituba. A mulher foi apontada como a responsável por vigiar os tanques. (...)” – texto da matéria “Quadrilha é presa acusada de tráfico de animais ”, publicada em 2 de novembro de 2011 pelo site Notapajos.com (PA)

Em 15 de julho de 2011, o jornal A Crítica  (AM), publicou “Maioria dos filhotes de peixe ornamental apreendidos pelo Ibama no AM não sobrevive”. A matéria repercutiu a apreensão de 1.206 aruanãs apreendidos na semana anterior:

“A maioria dos alevinos que seriam contrabandeados para o exterior e que são apreendidos na fronteira do Amazonas com a Colômbia morre por estar distante de seu habitat natural e por não existir estrutura adequada para acondicionar os animais.”

Vou destacar: a maioria morre porque o Ibama não tem estrutura para receber esses animais após a apreensão.

“Para evitar mais óbitos, o Ibama de Tabatinga enviou a última carga apreendida a Manaus para que os alevinos sejam abrigados em aquários ou enviados para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e criadouros credenciados.

Gomes disse que também já solicitou da superintendência do Ibama um aquário para acondicionar os peixes após a apreensão.”


A inoperância do Ibama para as situações pós-apreensão é gritante. Não bastasse os problemas dos Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres), a fauna aquática também seta desamparada.

E não dá para alegar que a demanda é pouca ou que o problema é novo (afinal até a rota já foi mapeada pelo órgão de fiscalização) para retardar o investimento em estruturas para acolher os peixes. Veja:

“Em uma outra apreensão realizada este ano, o Ibama e a PF chegaram a apreender 10 mil alevinos de aruanã. (...)

A rota do tráfico de alevinos inclui Altamira, Santarém (ambos no Pará), Manaus e Tabatinga. A viagem chega a durar 12 horas.

O plano é passar pela fronteira, por meio de Tabatinga, e chegar na Colômbia. A partir deste país, os animais são enviados para outros continentes.”
– texto da matéria publicou “Maioria dos filhotes de peixe ornamental apreendidos pelo Ibama no AM não sobrevive”

- Leia a matéria do portal G1
- Leia a matéria de Notapajos.com
- Leia a matéria de A Crítica

segunda-feira, 26 de março de 2012

Começar a semana pensando...

...sobre o comportamento de quem deveria dar o exemplo.

“O vice-prefeito de São Sebastião, município do litoral norte de São Paulo, foi detido na manhã de ontem (23) por pescar em área de preservação ambiental.

Wagner Teixeira foi vereador da cidade por oito anos pelo PV (Partido Verde) e presidente do partido no município.


Momento da abordagem pela equipe de fiscalização
Foto: Joel Silva/Folhapress

Ele foi flagrado por fiscais do Ibama e do ICMBio (Instituto Chico Mendes) na lancha dele, avaliada em R$ 40 mil, com 116 quilos de peixe, incluindo espécies ameaçadas de extinção.” 
– texto da matéria “Vice-prefeito de São Sebastião é flagrado fazendo pesca ilegal”, publicada em 23 de março de 2012 pela Folha de S. Paulo

Texeira ainda alegou que não sabia da proibição da pesca no Parcel Sudoeste, que faz parte da Estação Ecológica Tupinambás. Mas a reportagem da Folha levantou alguns detalhes bem interessantes:

Foto: Prefeitura S. Sebastião
Wagnet Teixeira
‘"Eu não sabia que ali era proibido, que não podia pescar", afirmou o ex-vereador do Partido Verde, que foi criado na região e, durante seu mandato de vereador escreveu uma moção de apelo ao Ministério do Meio Ambiente solicitando a proibição da prática de tiros pela Marinha no arquipélago de Alcatrazes, em função da importância ecológica do local.’

A saber: o arquipélago de Alcatrazes é parte da Estação Ecológica Tupinambás, que é uma unidade de conservação de proteção integral.

- Leia a matéria completa da Folha de S. Paulo

sexta-feira, 23 de março de 2012

Reflexão para o fim de semana: a caça produzindo órfãos

“Mais um filhote de peixe-boi amazônico foi resgatado pela Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), no interior do Amazonas, e foi encaminhado nesta terça-feira para o Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).

Filhote resgatado: a mãe provavelmente foi caçada
Foto: Divulgação Ampa

Este é o primeiro animal resgatado pelo Ampa que é encaminhado do LMA, em 2012. No ano passado, 13 filhotes órfãos de peixe-boi, cujos ‘pais’ certamente foram vítimas da caça ilegal, foram levados para o Inpa, onde recebem os primeiros atendimentos veterinários.”
– texto da matéria “Primeiro filhote de peixe-boi resgatado em 2012 chega ao Inpa”, publicada em 21 de março de 2012 pelo site do jornal A Crítica (Manaus – AM)

O filhote regatado é um macho, tem pelo menos dois meses de vida, mede 88 centímetros e pesa 12 quilos. De acordo com matéria do Portal da Amazônia (“Ampa faz primeiro resgate de filhote de peixe-boi da Amazônia em 2012”) de 20 de março de 2012, foram resgatados 17 animais em 2010. A espécie (Trichechus inunguis) também é conhecida como manati e está classificada como "vulnerável" pela International Union for Conservation of Nature (IUCN).

“No passado, os peixes-bois foram muito caçados pela sua carne e couro. Hoje a caça, embora ilegal, é ainda feita principalmente pelas populações ribeirinhas, para o consumo da carne. Além da caça, as principais ameaças ao peixe-boi são a destruição e a degradação do habitat, incluindo a liberação de mercúrio e agrotóxicos nos rios.” – texto do site da Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa)

- Leia a matéria completa de A Crítica
- Leia a matéria completa do Portal da Amazônia
- Saiba mais sobre o peixe-boi da Amazônia (site da Ampa)
- Conheça a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Tráfico de animais na TV: reportagem critica legislação e só

Os veículos jornalísticos estão, faz algum tempo, despertando para o tráfico de animais silvestres. Já não é tão difícil encontrar notícias e reportagens sobre o assunto em jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Muito bom. Afinal, esse comércio criminoso está escancarado em nossas caras e tornou-se impossível ignorá-lo.

Mas a imprensa ainda peca por não se aprofundar no assunto e por optar pela abordagem sensacionalista do problema. No domingo, 18 de março de 2012, o programa Repórter Record, apresentado por Marcelo Rezende, exibiu uma reportagem de 38 minutos sobre o tráfico de animais na Bahia. Por 20 dias, o repórter Jésus Mosquéra acompanhou uma equipe do Ibama por 6.400 quilômetros de estradas em patrulha pelo eixo entre Canudos e Eunápolis (incluindo as famosas centrais de tráfico Vitória da Conquista e Feira de Santana).

Imagem da reportagem do Repórter Record

Excelente oportunidade para se aprofundar em uma das principais faces do tráfico de fauna silvestre no Brasil. Região com pobreza, onde o comércio de animais é sim uma fonte suplementar de renda – para muitos a principal fonte. Região que, como todo o país, tem o forte hábito de manter bichos silvestres em gaiolas, como bichos de estimação. As aves são as principais vítimas (afinal, mais de 80% dos animais comercializados criminosamente no país são aves), mas não as únicas. Primatas, como os saguis, também sofrem.

Mas esses aspectos não foram abordados. Preferiu-se, como a maioria da imprensa faz, registrar aquele corre-corre dos homens do Ibama atrás de traficante de animais no meio do mato e filmar apreensões em residências. Ficou com cara de matéria de polícia, de PMs entrando em bocas de venda de fumo e traficantes de drogas correndo em vielas de favelas.

Apesar de entrarem em residências paupérrimas, de paredes de barro e madeira, com gente simples e ainda ignorante à dimensão do ato de capturar animais na mata, surpreendentemente, não houve uma reflexão a essa realidade. Nada se falou da necessidade de haver uma política de geração de renda eficiente que desestimule a venda de animais na margem das rodovias – como mostrado na reportagem diversas vezes.

Também nada se falou da necessidade de levar informação àquelas comunidades que, culturalmente, aceitam e gostam de manter animais em gaiolas. Basta lembrar da revolta da moradora de Bom Jesus da Lapa (aos 15 minutos da reportagem) que teve seu papagaio, chamado Teca, apreendido. Ela prometeu comprar outro e colocar o mesmo nome.

As crianças dessa residência, ao serem indagadas pelo agente do Ibama sobre qual o melhor lugar para o papagaio, gaiola ou no mato. A resposta foi gaiola.

Repressão é necessária e fundamental. Mas sem ações para mudança cultural e sem políticas sociais de geração de renda em determinadas áreas, a fiscalização não vai acabar com o problema do tráfico de animais.

E já que estamos abordando a fiscalização e o Ibama, achei um tanto estranho as equipes irem dormir em um hotel acompanhado dos animais apreendidos. Fiquei com a impressão de falta de infraestrutura e planejamento para, imediatamente após as apreensões, encaminhar os bichos para centros especializados e não para passar a noite em um quarto de hotel.

Assim como também fiquei com a sensação de ter ocorrido solturas com poucos critérios. Afinal, desculpem a minha ignorância, é fácil saber se o animal está apto à vida livre e não desaprendeu – por conta do cativeiro – a ser auto-suficiente na mata? Esse mesmo animal não pode levar algum tipo de doença para o ambiente onde for solto?

Ibama, só a boa vontade de seus homens não resolve o problema.

Record, perdeu a chance de fazer uma grande matéria. Os cenários estavam perfeitos para ampliar a discussão e não ficar, como sempre, na correria policial. Mas a reportagem deu um passo adiante ao questionar a fraca legislação. Parabéns por isso.

Assista à reportagem completa:

quarta-feira, 21 de março de 2012

Tráfico de animais: crueldade sem limites

Fui deixando a notícia a seguir de lado, tentando abordar assuntos mais abrangentes, menos chocantes. Procuro sempre não cair na armadilha da “notícia-espetáculo”, usada  por muitos veículos de comunicação na busca por audiência e leitores.

Mas confesso que o fato foi mais forte que eu:

“Quarenta pássaros silvestres que eram transportados por um traficante de aves acabaram dentro de um rio, após um acidente na BR-116, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o acidente foi por volta das 22h de quarta-feira (14). O motorista perdeu o controle do carro e bateu em um barranco. Com o impacto, as gaiolas foram arremessadas para dentro de um rio.” – texto da matéria “Traficante de aves se envolve em acidente e 33 pássaros morrem em rio”, publicada em 15 de março de 2012 pelo portal G1

Aves mortas no acidente
Foto: Antônio Nascimento - Banda B

Das 40 aves, 33 morreram. Parte dessas mortes não foi causada pelo acidente:

“Segundo testemunhas, o traficante acabou estrangulando algumas delas, na tentativa de se livrar do flagrante.” – texto do G1

O traficante, tentando se livrar dos animais, simplesmente estrangulava as aves e as jogava da ponte no rio. Sete aves ainda foram socorridas com vida: uma ararajuba, três araras, um corrupião, um trinca-ferro e um azulão.

Comentar o quê?

- Leia a matéria completa do portal G1

terça-feira, 20 de março de 2012

“Manejo de fauna, manejo de gente”: um artigo que deve ser lido

Silvio Marchini / Foto: Arquivo pessoal
Em 14 de março de 2012, li o artigo “Manejo de fauna, manejo de gente”, do doutor em Conservação da Vida Silvestre, fundador da Escola da Amazônia e membro do Instituto Pró-Carnívoros, Silvio Marchini. No final do texto publicado pelo site O Eco, fiquei com aquela sensação de que fazia tempo que estava precisando ler algo do tipo. Texto claro, objetivo e esclarecedor.

“Os problemas que a conservação e manejo da fauna silvestre se propõem a resolver não são, em última análise, problemas com a fauna e sim, problemas com as pessoas.” – texto de Marchini

Esse é o espírito do artigo. Afinal, quando os profissionais da área da conservação estão em campo, por exemplo, o que eles enfrentam são problemas causados pelo relacionamento do contato das pessoas com os animais silvestres. É assim com as onças do Pantanal, muita vezes perseguidas e mortas por fazendeiros que pretendem defender o gado dos ataques desses felinos.

“A resolução desses problemas, portanto, vai além do escopo das ciências biológicas e deveria levar em conta o que as pessoas envolvidas pensam e fazem. No entanto, os profissionais dedicados à conservação e manejo da fauna silvestre geralmente não são treinados para pesquisar, entender e influenciar pensamentos e ações humanos; na universidade, continuam tendo como referência os livros-textos de Biologia da Conservação e, por força das circunstâncias, acabam fazendo ao longo da carreira o papel do cientista social, do antropólogo, do relações públicas e do comunicador, com base muito mais na intuição do que no extenso e sólido corpo teórico e de resultados empíricos por trás de cada uma dessas disciplinas.” – texto de Marchini

Cabeça de onça encontrada pelo Ibama em fazenda no Pará (2011)
Foto: Rogério Melo/Ibama

Cabe então, nos processos de elaboração de projetos conservacionistas e de políticas públicas de conservação da fauna silvestres (isso quando existir uma), considerar o envolvimento de profissionais que vão além da biologia. Antropólogos, cientistas sociais, jornalistas e tantos outros especialistas devem ser peças integrantes para tratar de cada caso com a abrangência que merece e todos os seus stakeholders (atores sociais de cada cenário trabalhado).

“Para o manejo de um predador de grande porte em uma área povoada, talvez tão importante quanto o conceito de capacidade de suporte biológico deva ser o conceito de capacidade de suporte cultural; não basta descobrir que o habitat naquela área comporta 10 onças-pardas adultas, por exemplo, se as pessoas que também vivem naquela área só tolerarem um décimo dessa abundância.” – texto de Marchini


Capacidade de suporte cultural. Conceito que deve ser levado em conta.

- Leia o artigo completo de Silvio Marchini

segunda-feira, 19 de março de 2012

Começar a semana pensando...

...sobre o tráfico internacional de animais silvestres brasileiros.

Apesar de mais de 60% do tráfico de animais no Brasil serem voltados para abastecer o mercado interno, estima-se que nosso país participe com uma fatia entre 5% e 15% do comércio ilegal internacional.

Ao se abordar o tráfico internacional, o Brasil está entre os principais países exportadores de animais silvestres, junto com África do Sul, Argentina, Bolívia, Camarões, China, Colômbia, Guiana, Índia, Indonésia, Kenya, Madagascar, Malásia, Paraguai, Peru, Rússia, Senegal, Venezuela, Vietnã, Tanzânia e Zaire. Os espécimes brasileiros passam primeiro pela Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana, Panamá, Paraguai e México, onde normalmente ganham documentação falsa autorizando o transporte e têm como destino final os Estados Unidos (maior consumidor mundial de vida silvestre), Alemanha, Arábia Saudita, Bélgica, Bulgária, França, Grécia, Holanda, Inglaterra, Japão e Suíça.

A região Norte, diferentemente do que acontece no comércio ilegal interno, tem bastante destaque na exportação por causa da ausência de fiscalização. Tabatinga (AM), Manaus (AM), Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Bonfim (RR) são municípios de destaque nas rotas que envolvem essa região com os países vizinhos.

Vamos aos fatos...

“Autoridades da Bulgária apreenderam 127 exemplares de animais exóticos na fronteira com a Sérvia nesta segunda-feira (12). Entre eles, estavam lagartos-jacarés, que são uma espécie típica da Floresta Amazônica, encontrada no Brasil e também na Guiana, Peru, no Equador e na Colômbia.

Lagartos-jacaré, espécie amazônica, apreendidos na Bulgária
Foto:AFP

Também foram encontrados outros tipos de lagartos, cobras píton, camaleões, tartarugas, lagartixas, sapos, lesmas e um escorpião.

Os animais foram encontrados em malas entre os bancos de um ônibus de turismo comum que ia da República Tcheca até a Bulgária. Um homem foi preso. Os animais foram entregues ao zoológico da capital do país, Sofia.”
– texto da matéria “Polícia apreende lagarto-jacaré da Amazônia na fronteira da Bulgária”, publicada em 12 de março de 2012 pelo portal G1

- Leia a matéria completa do portal G1

sexta-feira, 16 de março de 2012

Reflexão para o fim de semana: a morte no transporte do tráfico de animais

Independentemente das tentativas de estabelecer uma proporção de animais mortos durante o tráfico, a mortandade existe e pode ser alta. Há trabalhos, como o da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), que indica ser de 10 para 1; isto é, para cada grupo de 10 animais capturados na natureza, apenas um chega ao comprador . Nove morreriam durante o processo.

Há ambientalistas, como o presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco, que afirma ser menor essa proporção. Afinal, segundo ele, os animais são mercadorias (dinheiro), portanto uma quantidade grande de óbitos não é nada interessante para o comerciante criminoso.

O biólogo Rodirgo Regueira, autor de "Caracterização Do Comércio Ilegal De Animais Silvestres Em Dez Feiras Livres Da Região Metropolitana Do Recife, Pernambuco, Brasil.", seu trabalho de conclusão de curso na Universidade Federal de Pernambuco, afirmou que para cada animal colocado à venda, outros três morrem ao longo do processo. A informação está em sua entrevista para o Fauna News (“Fauna News entrevista: o biólogo-espião Rodrigo Regueira”, publicada em 7 de setembro de 2011).
Aves apreendidas: 100 estavam mortas
Foto: Divulgação Cipoma

O fato é que a morte está sempre presente.

“A Companhia de Policiamento do Meio Ambiente (Cipoma) apreendeu cerca de 250 pássaros que seriam vendidos no Mercado da Madalena, no Recife. Entre as espécies recuperadas estão galos de campina, patativas, papa-capins e chorões. Por conta das condições de confinamento, cerca de 100 aves foram encontradas mortas nas gaiolas onde eram mantidas.” – texto da matéria “Três homens são detidos com 250 aves no Recife. Por maus tratos, cem morreram”, publicada em 11 de março de 2012 pelo site do jornal Diário de Pernambuco

- Leia a matéria completa do Diário de Pernambuco
- Releia o post “Fauna News entrevista: o biólogo-espião Rodrigo Regueira”, publicado em 7 de setembro de 2011
- Conheça a SOS Fauna

quinta-feira, 15 de março de 2012

Criadouros: o buraco negro do tráfico de animais

“O escritório regional do Ibama de Rio Preto divulgou balanço da Operação Sem Floresta revelando ter aplicado R$ 3,2 milhões em multas por irregularidades ambientais na região. A operação, iniciada em outubro de 2011 e completada este mês, apreendeu 1.391 animais. Dentro os animais apreendidos estão jabutis, jiboias, iguanas, cachorro do mato, gato do mato, papagaios e curiós, considerados animais silvestres.” – texto da matéria “Ibama multa em R$ 3,2 mi irregularidades na região”, publicada em 10 de março de 2012 pelo site do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto


Jabutis apreendidos pelo Ibama
Foto: Divulgação Ibama

E sabe onde estava a maioria desses animais? Com criadouros comerciais e conservacionistas que deveriam trabalhar apenas com espécies permitidas pelo Ibama e com bichos de origem comprovada. A operação faz parte do processo de passagem da gestão da fauna silvestre, no estado de São Paulo, do órgão federal para a Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

Os criadouros de fauna silvestre (conservacionistas, comerciais e científicos) são, na maioria dos Estados, registrados e fiscalizados pelo Ibama (o estado de São Paulo começa agora a assumir essa gestão). A deficiência do órgão federal em acompanhar a atividade desses estabelecimentos permitiu que os mesmos se transformassem em centrais de tráfico de animais. Isso em todo o país.

Se fosse feita uma fiscalização séria sobre os criadouros, acho que as feiras do rolo das periferias e cidades do interior ficariam com inveja da quantidade de animais traficados.

- Leia a matéria completa do Diário da Região

quarta-feira, 14 de março de 2012

Fazendeiro dá exemplo de como incentivar o tráfico de animais

“Um fazendeiro da região de Porto Esperidião, a 208 quilômetros de Cuiabá, foi multado em R$ 510 mil pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema) por manter 102 animais silvestres em um cativeiro em sua propriedade rural há cerca de quatro anos. De acordo com a Polícia Militar Ambiental de Cáceres, que fez as apreensões na última quinta-feira (8), algumas aves e outros animais se encontravam debilitados.” – texto da matéria “Fazendeiro de MT é multado suspeito de manter 102 animais em cativeiro”, publicada em 11 de março de 2012 pelo portal G1

Tucanos enjaulados pelo egoísmo do fazenderio
Foto: Divulgação PM MT

O tal fazendeiro já vive em uma região privilegiada, com fauna abundante e exuberante. Garanto que é fácil observar aves e outros animais silvestres livres. Mas não satisfeito, o sujeito se acha no direito de prender os bichos e sentir-se dono deles.

“A maioria dos animais encontrados no local era aves, entre elas tucanos e araras, que, de acordo com a PM, eram capturados e comprados de terceiros. "Além de capturar, ele comprava dos vizinhos e outras pessoas", frisou o sargento (sargento da PM, Luiz Olívio Souza Neves). O proprietário não tinha nenhuma autorização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para criar os animais.” – texto do porta G1

Além das aves, o fazendeiro mantinha irregularmente um veado, um casal de antas, um porco-do-mato e um casal de emas.

Veado encontrado na fazenda
Foto: Diviulgação PM MT

A matéria do G1, além de cair na falaciosa armadilha de dar destaque ao valor da multa (R$ 510 mil) - que raramente é paga -, concluiu o texto com a ingênua sentença: “Se for condenado, poderá pegar de seis meses a um ano de prisão.”

Alguém é condenado a prisão nesse país por tráfico de animais ou manter irregularmente fauna silvestre em cativeiro? Desculpe, G1, esse tipo de bobagem não dá mais para publicar...

- Leia a matéria completa do G1

terça-feira, 13 de março de 2012

Cuidados com a fauna silvestre: basta vontade

Atropelamentos de animais silvestres em estradas ou em ruas que cortam áreas naturais conservadas são muito comuns. A quase completa ausência de preocupações de gestores públicos e de administradores de concessionárias de rodovias faz com que não haja investimentos em estruturas que reduzam esse tipo de acontecimento.

Sinalização adequada, campanhas esclarecedoras e fiscalização deveriam ser realizadas com os motoristas. Além disso, o poder público tem de construir estruturas para auxiliar os animais na travessia de estradas e ruas. Veja um exemplo:

“Os animais silvestres que habitam a Reserva Biológica do Lami, na Zona Sul de Porto Alegre, ganharam uma nova travessia. Uma ponte suspensa de 25 metros foi instalada entre uma figueira e um eucalipto para evitar que a passagem dos bandos de bugios seja feita pela rua. O acesso foi colocado na chamada zona de amortecimento, área no entorno do local. A própria equipe da reserva confeccionou a estrutura, com cordas e canos, e a Secretaria do Meio Ambiente (Smam) ajudou na instalação.

Ponte para travessia de bugios
Foto: Divulgação / Prefeitura de Porto Alegre

A decisão foi tomada depois que o galho de eucalipto que os animais utilizavam para a travessia quebrou. "Havia um galho longo, mas ele quebrou. Surgiu então a ideia", contou a bióloga Patrícia Witt, que administra o local. A ponte facilita o deslocamento e o acesso à alimentação. A previsão da Prefeitura é que a fauna passe a utilizar a passagem em poucos dias.” – texto da matéria “Animais ganham ponte entre árvores no entorno de reserva em Porto Alegre”, publicada em 9 de março de 2012 pelo portal G1

Equipe instalando ponte em Porto Alegre
Foto: Divulgação / Prefeitura de Porto Alegre

Ações como essa não são caras. Cordas e canos. O que falta para os gestores públicos é vontade e gente comprometida e com conhecimento em seus quadros.

Para os acidentes com a rede elétrica, comuns em área urbana, a reserva também agiu:

“Outro projeto da reserva para proteger os animais, atendido ainda em 2005, foi o isolamento de fios de energia elétrica nas proximidades, já que diversos choques foram registrados. "Perdemos muitos por causa desses incidentes, então encontramos essa solução. E é contínuo, seguimos trabalhando para fazer o mesmo em outros lugares", disse Patrícia.” – texto do portal G1

- Leia a matéria completa do portal G1
- Releia “Rodovias: começaram a pensar nos animais”, publicado em 20 de outubro de 2011 pelo Fauna News
- Releia “Reflexão para o fim de semana: demorou para se preocuparem com acidentes envolvendo animais na rede elétrica”, publicado em 9 de dezembro de 2011 pelo Fauna News

segunda-feira, 12 de março de 2012

No Piauí, quem denuncia, escancara a precariedade e incomoda o comando do Ibama em Brasília é exonerado

O Ibama está chegando no fundo do poço... Em 10 de fevereiro de 2012, publiquei “Reflexão para o fim de semana: saindo do gabinete em Brasília para um choque de realidade no Piauí”, que abordou a ida do o superintendente do Ibama no Piauí, Carlos Máximo, até a sede do órgão em Brasília para relatar a penúria do Instituto naquele estado nordestino.

O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, teria se sensibilizado com as denúncias de Máximo e afirmado que iria ao Piauí ainda em fevereiro. Ele também teria determinado que todos os diretores do Ibama deveria ir à sede de Teresina ainda este mês para analisar a situação. Essas informações foram veiculadas pela imprensa na época.

Sabe o que aconteceu. Fevereiro passou, chegou março, e...

“Foi publicada na edição desta quinta-feira (08) do Diário Oficial da União, a exoneração do superintendente do IBAMA no Piauí, Carlos Máximo de Carvalho Barros. A decisão é da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Reprodução do Diário Oficial da União

O superintendente caiu pela boca. Desde que assumiu o cargo, substituindo Romildo Mafra, Carlos Máximo desencadeou uma série de denúncias contra servidores do órgão e falando mal inclusive de ações adotadas dentro do IBAMA. Ele chegou ao ponto de dizer que havia prática de corrupção no órgão, ao informar que lhe ofereceram propina para fazer liberações de cargas apreendidas.

No início deste mês, a direção nacional do IBAMA havia intimado Carlos Máximo a apontar os nomes das pessoas que supostamente lhe haviam oferecido propina, além de apresentar provas do envolvimento de servidores do órgão em casos de suborno.”
– texto da matéria “Morreu pela língua. Carlos Máximo é exonerado da superintendência do IBAMA”, publicada em 8 de março de 2012 pelo Portal AZ

Vamos adiante...

“"A sede nacional não nos dá condições de trabalhar. Fizemos até um vídeo para sensibilizá-los, mas não adiantou. Eu tinha dito que não aceitaria que isso continuasse e isso, com certeza, provocou minha exoneração", contou o ex-gestor, em entrevista ao Notícia da Manhã desta sexta-feira (9).

Carlos Máximo: morreu pela língua
Foto: Germana Chaves/GP1

Máximo informou que em 2012 foram enviados apenas R$ 9 mil para o Piauí. "Enquanto teve Estado que recebeu quase R$ 2 milhões e a sede recebeu R$ 3 milhões. Temos que saber o motivo disso, porque está impedindo que o nosso Estado apareça. O Ceará e o Maranhão, por exemplo, recebem o dobro do que recebemos. Por quê?", questionou.

O ex-superintendente destacou que o Piauí é o 21º Estado em investimento, enquanto o Ceará está em 10º e o Maranhão em 4º. "E nós somos a instituição que mais fiscaliza, mas o nosso quadro é pequeno. Aqui há um tráfico de animais e de madeira que é absurdo. Temos apenas dois funcionários para uma área que é maior do que a da Paraíba", destacou.”
– texto da matéria “Carlos Máximo diz que foi exonerado porque denunciou Ibama nacional”, publicada em 9 de março de 2012 pelo site cidadeverde.com

Não deixe passar alguns detalhes durante a leitura:

- a superintendência do IBAMA no Piauí recebeu em 2012, até agora, R$ 9 mil;
- “Aqui o tráfico de animais e de madeira é um absurdo.”;
- “Temos apenas dois funcionários para uma área que é maior do que a da Paraíba".

Parabéns, ministra Izabella Teixeira. Parabéns, Curt Trennepohl. O negócio não é resolver os problemas, mas calar a boca de quem mostra a realidade.

- Leia a matéria completa do Portal AZ
- Leia a matéria completa do site cidadeverde.com
- Releia “Reflexão para o fim de semana: saindo do gabinete em Brasília para um choque de realidade no Piauí”, publicado no Fauna News em 10 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 9 de março de 2012

Reflexão para o fim de semana: arriscando a vida para ter um silvestre como pet

Cartaz de antiga campanha no Ceará
As campanhas contra o tráfico de animais silvestres têm de começar a dar mais enfoque ao problema das zoonoses (doenças de animais transmissíveis para seres humanos). É importante sim dar enfoque à crueldade e ao desequilíbrio causado aos ecossistemas pela retirada de animais de seus hábitats, mas trabalhar a questão da saúde pública (mesmo sendo uma visão mais antropocêntrica) é fundamental.

“Uma criança de nove anos de idade está internada em um hospital do município de Barbalha, no Cariri cearense, com suspeita de ter contraído raiva, após ser mordida por um sagui – também conhecido como sonhim.

O menino foi mordido pelo animal silvestre há 30 dias no município de Jati (a 524 quilômetros de Fortaleza). Primeiro, ele foi internado em um hospital do município vizinho de Brejo Santo, mas em seguida foi transferido para o Hospital São Vicente, em Barbalha, onde se encontra internado em coma induzido, de acordo com a direção do hospital.” – texto da matéria “Ceará tem criança com caso suspeito de raiva humana”, publicada em 7 de março de 2012 pelo site Último Segundo do  portal iG

Sagui-de-tufo-branco
Foto: Henrique Dantas

Em 2010, uma criança de 11 anos morreu no município cearense de Ipu também por raiva transmitida pela mordida de um sagui. No site do Instituto Pasteur, do governo do estado de São Paulo, está publicado:

“Existem poucas informações sobre quais são os outros reservatórios silvestres no Brasil. Entre os anos de 1991 e 1998 a raiva transmitida por animais silvestres provocou a morte de treze pessoas no Ceará. Em oito desses casos, a espécie transmissora foi sabidamente o sagüi-de-tufo-branco (Callitrix jacchus jacchus). Foi o primeiro relato de um primata como transmissor da raiva humana. Em seis casos, a infecção provavelmente ocorreu quando a vítima tentava capturar o animal. Em um dos casos, o sagüi se aproximou de uma casa e atacou um dos moradores. No outro, era criado como animal de estimação.

O sagüi-de-tufo-branco também está presente no Piauí, Rio Grande do Norte e em Pernambuco. É um animal que consegue se adaptar a diferentes “habitats”, podendo ser encontrado em plantações, parques e áreas verdes de cidades.” – texto intitulado “Nem só de cão ou gato vive a raiva”, de dezembro de 2001

Mas de 180 zoonoses já foram descritas sendo as mais conhecidas:

- macacos e micos: raiva, febre amarela, hepatite, herpes simples e tuberculose;
- jabutis e lagartos: salmonelose, verminoses e micoses;
- papagaios e passarinhos: ornitose (também conhecida como “febre do papagaio”) e toxicoplasmose.

“A situação de estresse que esses animais passam durante a comercialização pode levar à queda de resistência imunológica e desenvolvimento de doenças transmitidas por estes animais, tornando-os portadores de agentes infecciosos dentro das residências” – texto do 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, publicado pela ONG Rede Nacional de Combate ao tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS) em 2011

A constatação de que as mordidas de primatas com raiva podem transmitir a doença para a população fez com que os Estados Unidos proibissem a importação desses animais para serem criados como bichos de estimação. Nos anos de 1970, um surto de salmonelose no mesmo país foi relacionado à manutenção de tartarugas em residências, que na época eram encontradas em 42% dos domicílios.

- Leia a matéria completa do site Último Segundo
- Leia o texto completo do site do Instituto Pasteur

quinta-feira, 8 de março de 2012

Acre: animais silvestres também sofrem com as enchentes

Pouco ou quase nada se fala sobre as consequências de desastres como enchentes e deslizamentos de encostas, por exemplo, para os animais silvestres. O noticiário tem veiculado muitos fatos sobre as enchentes que assolam o Acre atualmente e nenhum grande meio de comunicação, de amplitude nacional, abordou o drama da fauna. Precisou a Agência de Notícias do Acre, do governo do Estado, tratar do assunto.

“Preguiça, tatu, curicas, jibóias, jacaré e macacos. Essas são algumas das espécies de animais capturados nos últimos dias pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas).  Devido a enchente a quantidade de animais que têm chegado ao Cetas, pelas mãos de pessoas que os encontram perdidos geralmente pelos bairros alagados, triplicou, chegando a uma média de seis por dia. (...)

Macaco resgatado com bióloga Elaine Cristina, que coordena o Cetas
Foto: Val Fernandes

Ao chegarem no Cetas, os animais passam por uma avaliação para que seja observado qual a origem, ou seja, de onde estão vindo. “Vemos se são de cativeiro, vindos de criadores legalizados pelo Ibama, que trabalham com a conservação da espécie, ou se vêm da natureza. Mas, 99% são animais não legalizados”, explicou a coordenadora do Cetas. Após é feita a avaliação por especialista, no caso, veterinário, para checar seu estado de saúde.” – texto da matéria “Cresce o número de animais silvestres capturados durante a enchente”, publicada em 25 de fevereiro de 2012 pela Agência de Notícias do Acre

A grande imprensa ainda continua fazendo o mesmo do mesmo...

- Leia a matéria completa da Agência de Notícias do Acre

quarta-feira, 7 de março de 2012

Tsunami de extinções de aves tropicais pelo aquecimento global

Novecentas espécies de aves tropicais podem estar extintas até 2100 no caso do aumento de a temperatura da Terra aumentar 3,5° C. O estudo com essa probabilidade foi publicado na revista científica Biological Conservation na edição on-line de 21 de fevereiro de 2012.

A matéria da BBC “Up to 900 tropical bird species could 'go extinct'” (“Até 900 espécies de aves tropicais podem ser extintas”, tradução livre), publicada em 5 de março de 2012, sobre a pesquisa alerta que as espécies podem ter dificuldades em se adaptar à perda de hábitat e eventos climáticos extremos.

Dependendo da perda de hábitat futura, cada grau de aquecimento da superfície poderia afetar entre 100 a 500 espécies. E o maior problema é que a maioria das espécies no mundo são sedentárias (que não migram quando encontram um problema climático). As espécies de montanhas tropicais estão entre as mais vulneráveis e, se quiserem sobreviver, terão que se adaptar fisiologicamente às mudanças de temperatura e mover-se para grandes altitudes.

Entre as aves estudadas e que poderá desaparecer está o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), espécie endêmica, ameaçada de extinção e descoberta em 1996 na Chapada do Araripe (Ceará). O animal é alvo de um intenso trabalho de conservação pela ONG Aquasis, por meio do Projeto Soldadinho-do-Araripe.

Soldadinho-do-Araripe: futuro incerto
Foto: Alberto Campos

Outros animais
As aves são um dos grupos de animais menos ameaçados pela mudança climática, o que significa que os resultados tendem a ser muito piores para todos os outros grupos de animais.

Para os cientistas, é necessário planejar áreas protegidas (unidades de conservação) com altitudes mais elevadas e deixar espaço para a futura chegada dessas espécies ameaçadas de extinção pelo aquecimento global.

- Leia a matéria completa da BBC (em inglês)
- Conheça o Projeto Soldadinho-do-Araripe

terça-feira, 6 de março de 2012

Ibama: sem estrutura, órgão tem de contar com a boa vontade da população

Grande potência econômica mundial, o Brasil não é só contradição pela concentração de renda e suas mazelas sociais. A gestão ambiental também é problemática, resultado da opção do poder público em não investir, por exemplo, em seus órgãos. O Ibama é um exemplo típico: sem recursos humanos e com infraestrutura precária.

Aqui, no Fauna News, mostramos rotineiramente os problemas dos Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres). Vamos agora a outro exemplo:

“Um animal silvestre encontrado por uma artesã em Barreiras, no oeste da Bahia, foi entregue nesta quinta-feira (1), ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), depois de nove dias sendo cuidado por ela.

O saruê que foi abrigado pela artesã
Imagem: Reprodução TV Bahia

O animal, um saruê, é da mesma família do gambá, e não pôde ficar na casa da artesã, porque é silvestre. De acordo com a mulher que cuidava do saruê, o Ibama não teve como ir buscar o animal e ela teve que leva-lo de ônibus até a sede do órgão.”
– texto da matéria “Artesã encontra animal silvestre e vai entregá-lo ao Ibama de ônibus”, publicada em 1º de março de 2012 pelo portal G1

A artesã cumpriu seu papel de cidadã. Acolheu o animal, aproveitou para educar seus filhos, e informou o Ibama da necessidade e recolher o saruê.

‘"Liguei para lá [Ibama] na segunda-feira e disseram que tinha uma pesquisa para fazer e não tinha carro para busca-lo. Pedi se eu podia ficar com ele até a quarta-feira e perguntaram se eu estava alimentando ele direito e se eu poderia levara lá [no Ibama]. Eu disse que ia dar um jeito de levar", disse.’ – texto do G1

E ela deu um jeito. Pegou um ônibus e entregou o animal no Ibama.

Saruê (Didelphis aurita): um tipo de gambá
Foto: Kiki Pinheiro

Até quando essa situação vai continuar?

- Leia a matéria completa do G1 (tem vídeo)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Começar a semana pensando...

...no exemplo de Corumbá (MS): plano para lidar com animais silvestres em área urbana.

Alguns municípios têm equipes treinadas para capturar animais silvestres que entram na área urbana. Outras, bem poucas, têm algum centro de recepção para esses animais. Mas não conheço cidades brasileiras que tenham um trabalho integrado entre instituições sobre como agir corretamente em ações de resgate de fauna silvestre em ambiente urbano.

Corumbá dá o primeiro passo. Pode ser um exemplo:

“Um plano geral de contingências, em fase de finalização em Corumbá, será de extrema importância para estabelecer e padronizar ações de forma ordenada, em caso de surgimento de animais silvestres na área urbana. O documento está sendo desenvolvido por técnicos de vários organismos do setor público, inclusive pesquisadores que atuam no setor, tudo visando uma captura segura do animal e, ao mesmo tempo, evitando riscos para a população.

 Grupo que está preparando o plano
Foto: Kleverton Velasques - Prefeitura de Corumbá

O assunto foi debatido na tarde de terça-feira (28) na Fundação de Meio Ambiente e Desenvolvimento Agropecuário (Funterra), com participação de representes da própria Fundação, do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, Polícia Militar Ambiental de Mato Grosso do Sul, Embrapa Pantanal, Gerência Municipal de Defesa Civil, Ministério Público Estadual e Instituto Homem Pantaneiro.”
– texto da prefeitura de Corumbá, publicado em seu site em 29 de fevereiro de 2012

O motivo para tal ação é a frequente entrada de animais na área urbana do município que, lamentavelmente, foi tratada como “invasão” por quem escreveu o texto ou pela diretora-presidente da Funterra:

“Luciene Deová, diretora-presidente da Funterra, explicou que a elaboração do plano surgiu a partir de invasões de animais silvestres na área urbana de Corumbá, em virtude de queimadas ou cheias no Pantanal.”

A integração, visando a segurança do animal e da população, foi pensada.

“O documento cita inclusive a formação de um cenário de, tanto para o animal silvestre quanto para as comunidades envolvidas, quando da ‘visita indesejada' na área urbana, considerando o enorme grau de curiosidade e inquietude, gerada pela presença do felino. Por conta disso, o plano tem como foco principal, viabilizar procedimentos padronizados para que os diversos segmentos ligados na operação e na linha de segurança, através de suas estruturas operacionais, promovam as ações dentro de um nível razoável de sincronismo, eficiência e integração, de forma a garantir as respostas mais salutares para o bem estar e a segurança tanto do animal, quanto da população abrangida.”
– texto da prefeitura

Senti falta da existência de um representante de algum Cetas (Centro de triagem de Animais Silvestres) do Ibama ou de outra instituição credenciada para receber esses animais para uma avaliação e posterior (quando possível) soltura na natureza.

Esse tipo de plano pode evitar situações como a ocorrida em 27 de julho de 2011, em Patos de Minas (MG), e que relatei no post “A morte de uma onça-parda e a estrutura do poder público no manejo de animais” (2 de agosto de 2011). Na oportunidade, uma onça-parda que estava no porão de uma casa morreu durante o resgate realizado pelo corpo de bombeiros. Havia suspeita de enforcamento do animal por imperícia.

Onça-parda que morreu durante "resgate" em Patos de Minas (MG)
Foto: Toninho Cury

Que o plano de Corumbá entre em vigor logo e com sucesso para que sirva de exemplo para outros municípios.

- Leia o texto completo da prefeitura de Corumbá
- Releia “A morte de uma onça-parda e a estrutura do poder público no manejo de animais”, de 2 de agosto de 2011

sexta-feira, 2 de março de 2012

Reflexão para o fim de semana: Vitória da Conquista (BA), central do tráfico de animais que deveria ter uma atenção especial

Quem acompanha um pouco o problema do tráfico de animais silvestres no Brasil já sabe: a região baiana de Vitória da Conquista é um dos principais centros nacionais do tráfico de fauna. O município e seu entorno são apontados, em vários documentos e pesquisas, como um grande centro de distribuição, recebendo bichos de toda o entorno e até de outros estados para serem enviados à região Sudeste. E mais uma apreensão - segundo o Ibama, a maior de 2012 – comprova essa triste característica da cidade.

“Salvador (29/02/2012) – Agentes de fiscalização da unidade avançada do Ibama em Vitória da Conquista/BA realizaram, nesta semana, na região sudoeste do estado, até o momento, a maior apreensão de pássaros no ano de 2012: um total de 1.558 espécimes, sendo 1.524 canários da terra, três cardeais, 29 pássaros preto e dois sofrê. 


1.558 aves confinadas em um porta-malas: maus-tratos
Foto: Divulgação Ibama

De acordo com informações prestadas pela equipe, os pássaros se encontravam no interior de um veículo de passeio modelo Focus, com placa policial de Maceió /AL, acondicionados em caixas minúsculas, o que configurava maus-tratos. O crime ambiental foi flagrado pela Polícia Rodoviária Estadual na segunda-feira (27) durante uma fiscalização de rotina na BR-415 no município de Firmino Alves.” – texto da matéria de divulgação “Ibama realiza a maior apreensão de pássaros no ano de 2012 na Bahia”, publicada no site do Ibama em 29 de fevereiro de 2012

Os dois homens surpreendidos com as aves foram presos e só estão na penitenciária da cidade pelo fato de estarem com um revólver. A dupla já responde pelo mesmo crime ambiental por ter sido, em 2011, detida com 500 pássaros no município baiano de Teixeira de Freitas.

Esse é o resultado da fraca punição estipulada pela Lei de Crimes Ambientais para quem vende, transporta e mantém em cativeiro animais silvestres. Com pena prevista de seis meses a um ano de prisão, o crime se enquadra na modalidade de “pequeno potencial ofensivo”, o obriga (por Lei) o Ministério Público a oferecer aos infratores a possibilidade da transação penal. Se aceita, não há processo e o acusado recebe uma multa, ou uma pena de trabalhos comunitários ou ainda o pagamento das famigeradas cestas básicas.

Voltando a Vitória da Conquista e região, o Ibama, as diversas corporações policiais, o Ministério Público e as prefeituras já deveriam ter se articulado como uma força-tarefa para investigar o tráfico, prender os graúdos das rotas e, em seguida, coibir constantemente a venda de animais silvestres. Às prefeituras caberia uma incisiva e longa campanha contra o tráfico de fauna e a cultura de manter os silvestres como bichos de estimação.

Temo estar sendo ingênuo e não contando com interesses locais, de gente influente, que mentém o tráfico de animais.

Agora vamos às declarações “bombásticas”:

‘“A nossa região é considerada rota de tráfico e local de depósitos”, diz Ariosvaldo. Ele acredita, pelos elementos coletados durante a investigação, que “tem gente da área de Conquista envolvida no tráfico”.

A chefe da unidade avançada do Ibama em Vitória da Conquista, Andréia Lula, enfatiza que “o interior da Bahia é alvo de traficantes de pássaros, como demonstrado pela apreensão”. Para ela, “este é um grave problema a ser combatido”.’
– texto do Ibama

Saliento uma obviedade: “tem gente da área de Conquista envolvida no tráfico”.

Saliento um absurdo: “este é um grave problema a ser combatido”. A ser combatido? Quer dizer que ainda não o é?

- Leia o texto completo do Ibama

quinta-feira, 1 de março de 2012

Lobo-guará: por muito pouco, o cativeiro definitivo

Durante a soltura de uma fêmea de lobo-guará realizada em 28 de fevereiro de 2012 em Vinhedo (SP), a veterinária responsável pelo centro de reabilitação de animais silvestres da Associação Mata Ciliar, Cristina Adania, declarou:

“E por muito, muito pouco ela não fica em cativeiro definitivamente: era necessária uma área com vegetação, e foi muito difícil encontrar um local onde a soltura pudesse ser feita, devido à grande urbanização em Vinhedo.”- texto da matéria “Lobo-guará volta para casa”, publicada em 29 de fevereiro pelo site Terra da Gente


Soltura da fêmea de lobo-guará
Foto: Divulgação AutoBan

O animal foi resgatado há uma semana em um condomínio vizinho à Via Anhanguera, em Vinhedo. Ele foi levado para a sede da Associação Mata Ciliar, em Jundiaí, onde foi examinado e recebeu identificação para monitoramento por meio de um rádio colar e um microchip.

Sobre o que foi dito pela veterinária Cristina Adania, é necessária uma reflexão (que, por sinal, a imprensa não prestou atenção): a falta de áreas para soltura de animais reabilitados. O Brasil ainda está longe de ter uma rede competente de centros de reabilitação e reintrodução de animais silvestres. Mas será que, independentemente de termos essa rede funcionando, chegaremos ao ponto de não termos áreas adequadas para devolver espécimes à vida livre?

Já pensou na vergonhosa situação de termos uma estrutura eficiente para atender animais resgatados do tráfico ou de áreas urbanizadas e não conseguirmos realizar as solturas necessárias por, pasmem, falta de áreas naturais conservadas no Brasil?

Esse é um dos motivos que salientam a importância da ampliação e gestão eficiente das unidades de conservação de proteção integral (como os parques, as estações ecológicas e as reservas biológicas) e, sobretudo, a proteção de ecossistemas ainda conservados em áreas privadas. Saiba que a maior parte dos remanescentes de Mata Atlântica, por exemplo, não estão em terras protegidas pelo poder público. Estão em propriedades particulares.

Reserva Legal e Área de Proteção Permanente (APPs) têm funções ecológicas extremamente importantes. Acompanhe e manifeste-se no processo de alteração do Código Florestal. A fauna silvestre é um fator, entre tantos outros, que dependem dessa legislação.

- Leia a matéria completa do site Terra da Gente
- Conheça a Associação Mata Ciliar