“A criação de pássaros cativos é um importante mecanismo para assegurar a existência de algumas espécies, contribuindo para a preservação da biodiversidade e possibilitando a reintrodução de espécies ameaçadas de extinção ou mesmo extintas em seu habitat. Mas há muito tempo que está fechado para novos criadores”.
Criador legal anilha ave com sete dias de vida
Foto: Jonathan Lins/G1
Essa é a opinião do criador comercial de pássaros Ricardo Pimentel Ramalho, de Palmeira dos Índios (AL). Ela foi publicada na matéria “
Burocracia para regularizar criatórios de aves facilita comércio ilegal em AL”, publicada em 16 de novembro de 2013 pelo portal G1
Algumas considerações devem ser feitas. A primeira é sobre a afirmação de que criar pássaros cativos assegura a existência de algumas espécies. Vale destacar que as mesmas espécies criadas são, muitas vezes, as que mais foram capturadas ilegalmente e, por isso mesmo, passaram a correr risco de desaparecer. É bastante estranho esse argumento, já que os criadores se apresentam como solução para um problema criado por eles mesmos.
A segunda observação vai para o G1. A matéria pende, desde o título, para a defesa da emissão de mais licenças para criadores comerciais de animais silvestres. Os entrevistados que alegam que a criação reduziria o tráfico são, pasmem, os próprios criadores. É lógico que eles vão defender seu negócio, criando uma cortina de fumaça com argumentos em favor do meio ambiente.
Em nenhum momento algum funcionário do Ibama ou da Polícia Ambiental teve voz na matéria para defender ou não a criação comercial de animais como forma de reduzir o tráfico de fauna. A escolha dos entrevistados (fonte) foi errada. Faltou o conhecido “outro lado da história”.
Os representantes do Ibama e da Polícia Ambiental ficaram, na matéria, explicando legislação e apresentando dados de repressão. Faltou gente de vários segmentos e diferentes interesses argumentando em favor ou contra a criação comercial de animais.
Faltou falar da “lista pet”, que o Ibama está elaborando e apresentará cerca de 100 espécies possíveis de serem criadas para abastecer o comércio de bichos de estimação. Lista essa que tem muitos ambientalistas totalmente contra.
Uma pena que a matéria ficou tendenciosa. Não se pode vender e pede imparcialidade, mas não se pode vender informação como uma verdade absoluta.
Para o
Fauna News, a comercialização de animais silvestres não vai resolver o problema do tráfico de fauna. O mercado negro de silvestres como bichos de estimação é, basicamente, sustentado pelas camadas menos ricas da população. Essa gente não vai pagar um real a mais por aves criadas legalmente para esse comércio (e o preço do animal legal sempre é mais caro).
O tráfico está disseminado em todos os rincões do Brasil. Das periferias das grandes cidades às pequenas comunidades nordestinas (onde as feiras vendem de tudo). E, com certeza, nesses pequenos municípios não haverá bicho legal em quantidade suficiente para atender a demanda desse povo (isso se tiver algum).
Educação ambiental é o único meio para, em médio e longo prazos, reduzir efetivamente o hábito de manter animais silvestres em cativeiro doméstico. Cultura se muda, sobretudo, com conscientização.
- Leia a matéria completa do portal G1