sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Força Anhanguera!

Logo que comecei meu dia, coloquei como meta escrever sobre algo positivo, alguma iniciativa interessante pela conservação da fauna. Afinal, ultimamente tenho abusado nos comentários e repercussões de fatos bem desagradáveis.

Lembrei então de uma notinha publicada na edição de ontem, 24 de fevereiro, de O Estado de S. Paulo (página A21), intitulada “Onça atropelada pode voltar à natureza”.

Fui atrás da história e, no site da Associação Mata Ciliar, encontrei o relato sobre a suçuarana Anhanguera. O felino, resgatado após ter sido atropelado na via Anhanguera em setembro de 2009, chegou à instituição com escoriações, um dente fraturado e bastante magro.


Anhanguera em recinto da Associação Mata Ciliar
Foto: Divulgação Associação Mata Ciliar

Atualmente, Anhanguera mostra-se recuperado das lesões, mantendo seus instintos de animal selvagem – principalmente o de manter distância dos seres humanos. Ainda não há data parra seu retorno à natureza que, de acordo com seus tratadores, não ocorrerá na mesma área onde foi localizado devido à urbanização e às alterações de seu hábitat já ocorridas na região.

A instituição, que possui uma unidade em Jundiaí (SP), mantém o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais e o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS). Por falta de verba, o CRAS ficou fechado durante um ano e, em outubro do ano passado, retomou suas atividades após firmar um convênio com a prefeitura de Jundiaí.

Esse é o quadro do descaso do poder público em manter estruturas próprias para cuidar de animais silvestres vítimas do tráfico, de atropelamentos e de tantas outras situações irregulares e criminosas. Os Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres) do Ibama ainda são depósitos de animais que, pela falta de infraestrutura, não conseguem cumprir sua missão em receber, tratar e devolver os espécimes apreendidos à natureza.

Cada vez mais, iniciativas da sociedade civil organizada estão tendo de suplantar a ausência do poder público no manejo da fauna brasileira. Força Anhanguera!

Leia mais sobre o Anhanguera.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Felinos são dizimados em Reserva Extrativista no Pará

É importante repercutir o que li no site O Eco, em matéria de Vandré Fonseca de 14 de fevereiro. A reportagem “Entre extrativista, predador vulnerável” denuncia, com base em pesquisa do biólogo Elido Carvalho Júnior, a matança de onças-pintadas e onças-pardas (suçuaranas) na Reserva Extrativista Federal (Resex) Tapajós-Arapuins – gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente.

As informações são, no mínimo, alarmantes: pelo menos sete onças-pardas e 12 pintadas são mortas anualmente na reserva. Em 115 entrevistas, em 45 comunidades da Resex, Carvalho Júnior ouviu relatos da morte de 54 onças, sendo 32 pintadas e 22 suçuaranas.


Morador da Resex segura crânio de onça.
Foto: Elido Carvalho Júnior

Tais fatos já seriam preocupantes e deveriam motivar órgãos públicos e ambientalistas a se mobilizarem na reversão desse quadro criminoso se acontecessem fora de unidades de conservação (UCs). A situação torna-se ainda mais grave por ocorrerem dentro de UCs.

Vou ser um pouco didático para esclarecer um pouco quem não está familiarizado com o universo de terminologias e funções das unidades de conservação brasileiras.

De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (conhecido como SNUC, instituído pela Lei Federal 9.985 de 18 de julho de 2000), há vários tipos de áreas especialmente protegidas no país. Essas áreas, denominadas “unidades de conservação”, estão divididas em dois grandes grupos: as de Proteção Integral (em que o objetivo básico é a preservação, sendo admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais – como nos Parques Nacionais ou Estaduais e Estações Ecológicas, por exemplo) e as de Uso Sustentável (em que o objetivo é compatibilizar a conservação com o uso sustentável de parte dos recursos naturais).

As Reservas Extrativistas (Resex) são unidades de conservação que estão no grande grupo das de Uso Sustentável. O SNUC define as Resex como “uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementariamente, e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.”

Nessas reservas a caça amadora ou profissional é proibida.

Fica claro, portanto, que o que ocorre na Resex Tapajós-Arapuins é resultado de problemas na gestão da unidade, seja na área de fiscalização e controle ou na área de Educação Ambiental junto às comunidades. O pior é ter a certeza de que a matança, de acordo com até com as expectativas do pesquisador Carvalho Júnior, aconteça também em outras reservas extrativistas.

- Leia a matéria de O Eco, em que é possível encontrar os links para a pesquisa de Carvalho Júnior e as fotos dos animais abatidos exibidas pela própria comunidade.
- Conheça o SNUC.
- Saiba mais sobre a onça-pintada.
- Saiba mais sobre a suçuarana.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Jaguatirica no carnaval de São Paulo. Ibama e Ministério Público, que tal atravessar este samba?

Tem dias em que acordo otimista com a humanidade e até acho que nosso relacionamento com os animais está melhorando. Mas tem dias que sou obrigado a deixar esse otimismo de lado e admitir a real necessidade de o ser humano evoluir. E hoje foi um desses dias.

Ao ler a edição de hoje do jornal O Estado de S. Paulo, cheguei à matéria “Jaguatirica no carnaval causa polêmica” – página C6 do caderno Metrópole. Não é preciso ser especialista para concluir que ao animal será imposta uma experiência, no mínimo, estressante. Não bastasse tal problema, o presidente da escola de samba Tom Maior (da cidade de São Paulo), Marko Antonio da Silva, teria declarado não ter solicitado autorização do Ibama para utilizar (não tem outro verbo para o caso, já que a jaguatirica está sendo tratada como um objeto inanimado) o felino por saber que não terá a permissão.

"A idéia é não falar, porque eles não vão autorizar e vão estragar o nosso feito.”

Tom Maior pretende apresentar uma jaguatirica em seu desfile

Sem entrar em detalhes legais, como a Lei de Crimes Ambientais que arrisco a citar o artigo 32 (“Praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Pena – detenção de três meses a um ano e multa”), reproduzo o artigo 10º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais:

“1 – Nenhum animal deve ser explorado para divertimento do homem.
2 – As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.”

Lembro também que no século 16, primatas e indígenas brasileiros eram levados para a Europa, ficando expostos em ruas da Inglaterra e França. Bom, mas estamos no século 21!

Será que o Ibama ou o Ministério Público agirão preventivamente?

Leia a matéria completa e tire suas conclusões.
Saiba mais sobre a jaguatirica.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mais de 700 pinguins-de-Magalhães morreram em Niterói e a notícia é o envio de 13 para os EUA

Na edição de 15 de fevereiro da Folha de S. Paulo, a matéria “Pinguins sem-teto são enviados para aquário dos EUA” (página C11) informa sobre a transferência de 13 pinguins-de-magalhães do Zoológico de Niterói para o aquário de Monterrey, na Califórnia. Os animais foram embarcados em um avião no sábado (dia 12) por causa da falta de condições da instituição brasileira em mantê-los em ambientes adequados. Afinal, o calor do Rio de Janeiro é muito forte para a espécie.
Foto: Wikipedia
A iniciativa seria digna de elogios caso não tivesse sido realizada com tanta demora. Veja o que o jornalista Marcelo Bortoloti escreve nos sexto e sétimo parágrafos da matéria:

“O destino mais comum para os pinguins que aparecem nas praias do Rio de Janeiro é a morte. Em 2009, o Zoológico de Niterói, para onde são levadas as aves recolhidas pelo Corpo de Bombeiros no Estado, recebeu cerca de mil indivíduos. Morreram 700.

Ano passado, a instituição recebeu 48 e morreram quase todos. Além dos 13 enviados agora para os Estados Unidos, restam apenas três.”

Não sei se estou sendo xiita demais, mas será que a redação da notícia não está equivocada. Nos parágrafos anteriores aos dois citados acima, o repórter descreve a viagem das aves e somente depois de informar tamanha mortandade é que o texto traz esclarecimentos com as informações do Ibama sobre a criação, em 2010, do Projeto Nacional de Monitoramento do Pinguim-de-Magalhães. A iniciativa do órgão ambiental tem prazo de cinco anos para identificar os motivos que fazem tantos animais dessa espécie a chegarem no Rio de Janeiro e definir uma estratégia de atuação.

Como jornalista, não pude deixar de criticar a forma como o problema foi tratado pelo jornal. Como cidadão fiquei com duas perguntas na cabeça:
- Enquanto isso o projeto não terminar seus trabalhos, quantos pingüins morrerão?
- Estou errado em crer ter havido uma demora para os órgãos públicos se mobilizarem sobre o problema?

Leia a matéria na íntegra e me ajude a responder minhas dúvidas.
Saiba mais sobre os pinguins-de-magalhães

A dependência financeira das ONGs e o marketing verde

Durante minhas leituras de jornais e sites, sempre separo matérias que podem, em algum momento, subsidiar meus textos. Foi o caso de “Sem Petrobras, Baleia Jubarte suspende pesquisas”, publicada na página C15 (Ciência) da edição de 04 de fevereiro. Comecei a ler a reportagem de Claudio Angelo com certa preocupação e terminei, confesso, muito preocupado – essa matéria foi uma das poucas que encontrei ultimamente em que o título suaviza o conteúdo do texto.

Baleia-jubarte no Arquipélago de Abrolhos (BA)
Foto: Wikipedia

Deixando a análise da composição jornalística de lado, a matéria não aborda uma questão pontual envolvendo o Instituto Baleia Jubarte, mas toda uma gama de instituições voltadas à conservação de animais silvestres bastante conhecidos pela população. Além do Baleia Jubarte, o Projeto Tamar, o Projeto Golfinho Rotador e a Fundação Mamíferos Aquáticos (responsável pelo Projeto Peixe-Boi Marinho) estão demitindo funcionários, reduzindo as atividades de pesquisa, paralisando o socorro à animais, fechando centro de visitantes e por aí vai, por causa da falta dos repasses de verbas da Petrobras.

O problema teria começado em setembro. A estatal alega estar analisando os resultados dos trabalhos desenvolvidos pelas ONGs entre 2007 e 2010 para decidir sobre a renovação dos convênios.

Deixando o noticiário de lado, surpreende o fato de a Petrobras fechar suas torneiras de patrocínios para projetos tão conhecidos pela população e que, por isso mesmo, têm de ter suas atividades preservadas. Por meio deles, muita gente teve seu primeiro contato com Educação Ambiental no Brasil e espécies de animais, como as tartarugas-marinhas, tiveram aumento de sua população.

A Petrobras deve analisar resultados, exigir o cumprimento de metas e evitar desvios de rota, como o que teria motivado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) a romper com a Fundação Mamíferos Aquáticos. Afinal, é com o dinheiro da estatal que a maior parte das atividades dessas instituições é mantida.

Leia a matéria da Folha de S. Paulo, na íntegra.

Enquanto as ONGs ficam sem dinheiro para desenvolverem suas atividades desde setembro, parece ironia ver a Petrobras receber, em novembro, o Prêmio von Martius de Sustentabilidade 2010 pela parceria com o Projeto Tamar.

Veja a matéria de divulgação que está no site do Tamar desde 03 de dezembro de 2010

Sede do Projeto Tamar na Praia do Forte (BA)
Foto: Divulgação Projeto Tamar

Quando todo esse episódio for encerrado – creio que a Petrobras deve retomar em breve o repasse de verbas -, espera-se que as ONGs tenham aprendido a não depender tanto de patrocínios e passem a tentar implantar modelos de gestão que lhes proporcionem menos riscos de ficarem sem dinheiro. Dentre os trabalhos citados aqui, o Projeto Tamar – de acordo com a matéria da Folha – é o que possui maior independência financeira.

Deixar a conservação da biodiversidade por conta de verbas do governo ou de grandes patrocinadores causa uma inércia que beira um comodismo perigoso. Trabalhar pelo fim dessa dependência é um objetivo que deve ser valorizado pelas ONGs e que, com certeza, o será principalmente pelas espécies que precisam de proteção.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Animais apreendidos. E agora?

O tráfico da vida silvestre é um conjunto de diversas etapas que começa na captura dos animais e não termina quando, num aparente sucesso, órgãos de fiscalização prendem envolvidos e apreendem os espécimes. Muito pelo contrário. Apesar da tendência natural que tanto a imprensa quanto a população em geral têm de achar que o problema se resolve no momento da retirada dos animais das mãos dos criminosos, para as vítimas – os bichos – o sofrimento irá continuar por um bom tempo.

Pode parecer estranho, mas vou explicar com uma pergunta: depois das apreensões, para onde vão os animais?

Em 31 de janeiro, no texto que publiquei no FAUNA NEWS intitulado “A parte do tráfico de animais silvestres que poucos conhecem” abordei essa mesma etapa do comércio ilegal da vida silvestre. Pois a incapacidade gerencial dos órgãos públicos em manter centros de recebimento de animais apreendidos e programas de recuperação e devolução à natureza desses espécimes faz com que os bichos fiquem amontoados em depósitos da vida selvagem que, em muitos casos, são similares a campos de concentração.

Pois é o que está acontecendo, de acordo com a denúncia de uma ONG ao Ministério Público Federal, com o Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestres) de Recife, administrado pela gerência do Ibama de Pernambuco.


Cetas do Ibama, no Recife
Foto: Reprodução filmagem TV Globo

Veja as matérias feitas pela imprensa sobre o caso:
Ibama é denunciado por maus-tratos contra animais em Pernambuco, de 4 de fevereiro
Ibama convive com falta de espaço para abrigar animais, de 5 de fevereiro - Veja essa matéria também em vídeo (TV Globo).
Ambientalistas procuram espaço para abrigar animais do Ibama, de 10 de fevereiro

Esse problema não é específico de Pernambuco. Pelo contrário. É um fenômeno generalizado em todo o país.

É importante destacar que os animais não são levados para os Cetas imediatamente após serem apreendidos. Esse recurso, na maioria dos casos, é o último que polícias e agentes do próprio Ibama recorrem, exatamente por saberem das precárias condições dos centros de triagem. Quando os espécimes não são devolvidos aos seus hábitats no momento da apreensão, há casos de animais que ficam com os próprios acusados, transformados em fiéis-depositários, ou ainda são encaminhados para criadouros credenciados pelo Ibama – instituições essas que também deveriam ser alvo de uma fiscalização mais rígida, já que não são poucas as envolvidas no comércio ilegal.

Só com ações repressivas, o problema do tráfico de animais silvestres não será resolvido. A etapa pós-apreensão carece de atenção urgente dos órgãos públicos, que também, com apoio de toda a sociedade, tem de investir e atuar em Educação Ambiental para reduzir o “consumo” de bichos. Lembro que o comércio ilegal de fauna selvagem no Brasil tem como característica atender a demanda interna do próprio país:

- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Entre 60% e 70% do comércio ilegal de animais silvestres no Brasil é voltado para abastecer o mercado interno: estima-se que de dois a quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Não bastasse a onça-parda, cervo de 250 quilos também é vítima de atropelamento

Hoje não deu para sair do Mato Grosso do Sul.  Enquanto pesquisava para escrever sobre a onça-parda que, após ter sido morta atropelada também no Mato Grosso do Sul, teve três patas arrancadas para, provavelmente, serem utilizadas como suvenires (ver texto anterior), me deparei com esta foto:

Cervo atropelado em rodovia do MS
Foto: Divulgação Polícia Militar Ambiental MS

A notícia sobre o atropelamento estava nos sites Campo Grande News e do jornal Correio do Estado. Por não conseguir deixar passar, capturei o material e resolvi escrever.

Não pesquisei muito para obter dados sobre o número de animais selvagens que são atropelados nas rodovias brasileiras, mas me lembrei de ter lido no site da Agência de Notícias de  Direito Animal (ANDA) um texto do dia 17 de janeiro deste ano que aborda o problema exatamente no Mato Grosso do Sul. Em 2010, segundo a Polícia Rodoviária Federal, 203 mortes foram registradas nas estradas federais daquele Estado.

Não fui além para tentar encontrar números nacionais. Se alguém os tiver, me envie que publico.

Também não é preciso pesquisar muito para ter certeza que as rodovias nacionais não têm sinalização suficiente para alertar motoristas sobre a presença de animais silvestres (basta dirigir pelas estradas brasileiras para constatar isso) e também não possuem estruturas para a travessia de animais, como passagens subterrâneas. São raras as vias com tal planejamento.

Apesar dos problemas com a sinalização e a infraestrutura para evitar os atropelamentos de animais selvagens, não se deve atenuar a responsabilidade dos motoristas. É fato que os brasileiros não respeitam os limites de velocidade e as leis de trânsito, tanto que o Brasil é um dos países com maior número de acidentes - seja nas vias urbanas ou nas estradas - do mundo.

Ainda estamos no século 16: onça-parda é encontrada morta sem as patas no Mato Grosso do Sul

Quando me sentei em frente ao computador para escrever o texto de hoje, já tinha um tema escolhido para abordar. Apesar de já ter estar com tudo definido para começar a produzir, como de costume resolvi dar uma olhada em alguns sites e me deparei com a notícia sobre uma onça-parda de aproximadamente 40 quilos encontrada atropelada em uma estrada do Mato Grosso do Sul. Quando policias chegaram ao local, além de constatarem a morte do felino, se depararam com a seguinte aberração: três patas foram retiradas do bicho, provavelmente – de acordo com os PMs - para serem guardadas como suvenires.

Lógico que mudei meus planos e fui atrás de mais detalhes sobre o ocorrido. As matérias completas podem ser lidas nos sites Campo Grande News e do jornal Correio do Estado.

Onça-parda encontrada sem as patas em estrada do MS
Foto: Divulgação Polícia Militar Ambiental do MS

Em 21 de janeiro, publiquei aqui no Fauna News o texto "Para não dizer que acontece somente longe de casa..." (releia o texto; acho que vale a pena). Relacionei uma apreensão de partes de animais silvestres (cabeças e mãos de chimpanzés e de um gorila, peles de felinos, couros de cobras e rabos de elefantes) feitas no Gabão com o resultado de uma operação da Polícia Federal brasileira e do Ibama que desarticulou, em junho de 2010, uma quadrilha que promovia safáris no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, promovendo a morte de grandes felinos, como onças-pintadas, pardas e pretas.

Como abordei recentemente esse tipo de atitude entre nós, brasileiros, não vou me estender. Independentemente da morte da onça-parda ter sido, quem sabe, acidental por consequência do atropelamento, a atitude de arrancar as patas do animal para serem usadas como souvenires reforça a constatação de que ainda temos um comportamento inaceitável diante do ocorrido.

Durante pesquisas para a elaboração de minha monografia ("O Tráfico de Animais Silvestres no Brasil: das Origens às Políticas Públicas de Combate") para a conclusão do curso de pós-graduação Lato Sensu em Meio Ambiente e Sociedade na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, registrei que durante os trinta primeiros anos do Brasil sob domínio de Portugal (século 16!!!), as naus da Metrópole costumavam levar do nosso território em seus porões cerca de três mil peles de onça-pintada e 600 papagaios.

Estamos em pleno século 21 e ainda mantemos comportamentos do século 16. Até quando?

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ainda sobre a Mata Atlântica: 5ª floresta mais ameaçada do mundo

"De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, 80,5% das áreas remanescentes do bioma estão fora de unidades de conservação geridas pelo poder público - ou seja, dependem de particulares. A entidade ambientalista foi uma das primeiras a reconhecer que não é preciso esperar apenas do poder público ações para conservar os 15 milhões de hectares que restaram da mata - 10,5% da área original, se forem considerados também os pequenos fragmentos de menos de 100 hectares. "Se a sociedade quiser realmente conservar a floresta, um dos cinco hotspots mais ameaçados do mundo, deve convencer os proprietários a não destruir o que resta dela em suas terras", afirma Érika Guimarães, coordenadora do Programa de Incentivos às RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural - tipo de Unidade de Conservação em que a área protegida permanece totalmente com seu proprietário - explicação que não consta na edição da revista) da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica. Chamam-se hotspots as 25 áreas ricas em vida vegetal e animal que correm maior risco de desaparecer."

Escrevi o parágrafo acima na matéria Esta floresta tem dono, que pode ser lida na íntegra no texto que publiquei ontem. O que me fez novamente destacar a reportagem veiculada pela revista Horizonte Geográfico foi o anúncio feito, dia 2, pela ONG Conservação Internacional da lista dos dez hotspots florestais mais ameaçados do planeta. E a Mata Atlântica está em 5º lugar - atrás de remanescentes existentes nas Regiões da Indo-Birmânia (1ª), Nova Zelândia (2ª), Sunda - Indonésia, Malásia e Brunei - (3ª) e Filipinas (4ª).

Manguezal do sul da Bahia
Foto: Dimas Marques

Leia o que a Conservação Internacional destacou sobre a Mata Atlântica:
"A Mata Atlântica se estende por toda a costa atlântica brasileira, alongando-se para partes do Paraguai, Argentina e Uruguai, incluindo também ilhas oceânicas e o arquipélago de Fernando de Noronha. A Mata Atlântica abriga 20 mil espécies de plantas, sendo 40% delas endêmicas. Ainda assim, menos de 10% da floresta permanece de pé. Mais de duas dúzias de espécies de vertebrados ameaçadas de extinção – listadas na categoria “Criticamente em Perigo” - estão lutando para sobreviver na região, incluindo micos-leões-dourados e seis espécies de aves que habitam uma pequena faixa da floresta no Nordeste. Começando com o ciclo da cana-de-açúcar, seguido das plantações de café, a região vem sendo desmatada há centenas de anos. Agora, a Mata Atlântica está enfrentando pressão por conta da crescente urbanização e industrialização do Rio de Janeiro e São Paulo. Mais de 100 milhões de pessoas, além da indústria têxtil, agricultura, fazendas de gado e atividade madeireira da região dependem do suprimento de água doce desse remanescente florestal."

Lembro que a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu 2011 para ser o Ano Internacional das Florestas e aproveito para destacar que o termo "floresta" não é um amontoado de árvores. Parece bobagem escrever isso, mas muita gente ainda pensa se tratar apenas de vegetação, em que a preocupação do setor público e da sociedade civil deve estar focada em preservação e manejo sustentável da flora.

Floresta é fauna, flora e muitos outros recursos naturais que formam ecossistemas interdependentes. Mas não vamos complicar com definições. O que quero deixar como ponto de reflexão, em um blog sobre fauna, é a necessidade de enxergarmos as florestas como um organismo complexo e que dados divulgados sobre aumento ou redução de áreas desmatadas não implicam apenas na retirada da vegetação. A perda é muito maior - e pouco mensurada pelos órgãos de pesquisa dos setores público e privado e raramente divulgada pelas matérias publicadas na grande imprensa.

Preste atenção nas matérias sobre aumentos e reduções de desmatamento na Amazônia, por exemplo. Essas reportagens estão diariamente nos meios de comunicação com porcentagens, gráficos comparativos, imagens de satélite e por aí vão, seguindo quase o mesmo compasso dos textos sobre economia.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Esta floresta tem dono

Ano passado, concorri no Prêmio de Reportagem sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica, promovido pela Aliança para a Conservação da Mata Atlântica (parceria entre as ONGs Conservação Internacional (CI-Brasil) e Fundação SOS Mata Atlântica), com apoio do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) e a da Federação Internacional de Jornalistas Ambientas (IFEJ). Entre as 62 inscrições na categoria impresso, consegui o honroso 3º lugar com a matéria Esta floresta tem dono, publicada na revista Horizonte Geográfico.

Recebi alguns e-mails que solicitaram o texto da matéria. Por esse motivo, resolvi postar o link para dar acesso ao material publicado. Boa leitura!!!

Esta floresta tem dono, edição 122 da revista Horizonte Geográfico - abril de 2009

Capa da edição com a matéria premiada


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Chimpanzés e peixes. Hoje é dia de dois em um

Uma pequena nota publicada dia 1º, na página A24 de O Estado de S. Paulo, me chamou a atenção por abordar a reação dos chimpanzés à morte. O texto noticia que pesquisadores do Instituto Max Planck de Psicolinguística, da Holanda, relataram, com detalhes, o comportamento desses primatas quando ocorre a morte de um filhote. Curioso, busquei mais informações sobre o assunto e encontrei no portal R7 – que veicula seu material jornalístico sobre animais na área de Entretenimento, o que considero um ponto de vista atrasado e, no mínimo, equivocado – e no portal IG matérias mais completas sobre a pesquisa, inclusive com o vídeo feito pelos estudiosos em Zâmbia, que me impressionou.

Imagem do vídeo do Instituto Max Planck
Foto: Divulgação Instituto Max Planck

Tocante. É o mínimo que posso comentar. Após o primeiro impacto, lembrei da reação similar que as elefantas fêmeas manifestam quando ocorre a morte de algum filhote. O que li e observei no vídeo cada vez mais confirma o fato de que os seres humanos não são os únicos privilegiados em possuir e manifestar sentimentos complexos, como a dor pela perda de um semelhante. Afirmar, hoje em dia, que os animais só manifestam reações como alegria e medo, por exemplo, é ir contra as evidências contundentes da necessidade de mudar a forma como tratamos e lidamos com os animais – sejam eles selvagens ou domésticos.

Aproveito para reiterar meu protesto perante a classificação das matérias sobre animais em uma área de Entretenimento, feita pelo portal R7, da Record. Esse tipo de postura é o mesmo que sustenta parte do tráfico de animais silvestres, que abastece colecionadores de espécimes e a venda de aves nas periferias das grandes cidades – que capturados em seus hábitats acabam por parar em gaiolas nas residências.

Finalmente, os peixes...
Na página B6 do caderno Mercado da Folha de S. Paulo de hoje, está publicada a matéria “Japoneses já pescam atum no Nordeste”. Conforme se espera de um texto de uma página de economia, relata-se uma série de informações sobre uma companhia brasileira de pesca que venceu um edital para arrendar 16 embarcações com tecnologia e pessoal do país asiático e enviar 65% do que for produzido para o Japão.

O que chama a atenção está no Saiba Mais intitulado “Produção japonesa caiu 38% desde 1995”, que alerta para um problema mundial: a sobrepesca. Com a exploração excessiva da vida marinha em seu território, o Japão não mede esforços para ampliar suas fronteiras de atuação e manter abastecido seu mercado interno.

Atum pescado no Mar Mediterrâneo
Foto: Bruno Torrentino/site O Eco

Mas esse fenômeno não é uma exclusividade do Japão. Em recente relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o crescimento da produção mundial de peixes e seus derivados subiu de 142 milhões de toneladas em 2008 para 145 milhões no ano seguinte.

Essa informação está na matéria “Consumo de peixe bateu recorde”, publicada ontem do site O ECO, em que também destaco:

“A crescente demanda por peixes destaca a necessidade de uma gestão sustentável dos recursos aquáticos. O relatório recomenda uma abordagem ecossistêmica da pesca, que é uma abordagem integrada para o balanceamento de objetivos sociais com o estado da atividade pesqueira e seu ambiente natural e humano.”

Dos males o menor: dessa vez a Folha ainda preparou um Saiba Mais, mesmo que bem superficial, sobre o problema da sobrepesca. Defendo que as questões ambientais devam ser tratadas no jornalismo, assim como em todas as áreas (principalmente no setor público), de forma transversal. Não deveríamos ter cadernos específicos sobre Meio Ambiente se todas as editorias abordassem o assunto em suas matérias. Mas não é o que acontece.

Quando isso ocorre, os textos trazem pouquíssima informação e não ajudam a aprofundar o debate na sociedade. Creio que, por enquanto, os cadernos e seções específicas sobre meio ambiente ainda são necessárias.