quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quando o representante do poder público não dá o exemplo...

A ministra italiana do Turismo, Michela Brambilla, ganhou destaque nesta semana, não por seu trabalho no governo, mas por aparecer em um vídeo brincando com um tigre. Essa notícia foi publicada em 29 de junho no site Euronews.

De acordo com a matéria a “ministra disse que salvou o animal de “um terrível destino”, mas não explicou como é que um tigre foi parar nos seus braços. Na sua casa há, ainda, 15 cães, 30 gatos, 4 cavalos, dois macacos, sete cabras e 200 pombos.”

A matéria, bastante superficial, afirma que “o partido Os Verdes fala em vídeo “vergonhoso”, sustentando que os tigres não devem viver em cativeiro.” Em nenhum momento foi questionado a fato da ministra também manter macacos em cativeiro e também não foi ouvida nenhuma autoridade ambiental sobre possíveis problemas legais no caso.

No texto de apresentação do video no You Tube consta o seguinte: "Em maio de 2010, a ministra apresentou um manifesto para a consciência da vida animal: um documento que convidava a colocar um fim à matança de animais em época de caça, até a abolição total de caça. O manifesto reuniu 100 mil assinaturas." Um pouco contraditório para quem mantém animais silvestres em cativeiro.

Creio que um representante do poder público deveria ter comportamento exemplar, mas, assim como no Brasil, isso não acontece na Itália. É fato que a Europa é um mercado “consumidor” de animais silvestres, com muita gente colecionando espécimes ou mantendo-as como bichos de estimação.

De acordo com a ONG Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), em seu 1º relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre (de 2001), a Itália está entre os principais países de trânsito comercial da vida silvestre, onde ocorre a legalização dos animais traficados (junto com Portugal, México, Arábia Saudita,  Tailândia, Espanha, Grécia, França e Bélgica).

O velho mundo europeu civilizado também se destaca como “consumidor” da fauna silvestre: Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça e Bulgária foram apontadas no mesmo relatório da Renctas (ao lado do campeão desse ranking, os EUA; a Arábia Saudita e o Japão).

- Leia a matéria do site Euronews. 
- Conheça a Renctas.

- Assista ao vídeo com a ministra italiana:


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Atropelamento de animais: ONG cearense faz campanha para alertar motoristas

A Associação de Proteção à Vida (Aprov), com sede na cidade de Crato, região do Cariri, no sul do Ceará, lançou a campanha “Eu freio para os animais”. Ao ler a notícia  sobre o trabalho da ONG, veiculada em 28 de junho pelo site Agência da Boa Notícia, percebe-se que a intenção é acabar com os atropelamentos de animais domésticos e de serviço (cavalos, por exemplo).

A campanha engloba orientações para o público e a venda de adesivo com o slogan “Eu freio para animais”. Não há menção de animais silvestres.



Mesmo assim, resolvi abordar novamente o tema dos acidentes envolvendo veículos e a fauna silvestre. Em 21 de junho, escrevi “Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas”, em que salientei uma parte do cotidiano dos profissionais do Zoológico de Piracicaba (SP):

“O Zoológico de Piracicaba atendeu 106 animais selvagens vítimas de atropelamento em rodovias da região durante os cinco primeiros meses do ano. Só entre os mamíferos, houve um aumento de 1.150% na incidência desse tipo de acidente de 2005 até 2010. Boa parte desses animais está em risco de extinção.” - texto do site da EPTV de Piracicaba reproduzido no Fauna News

O zoológico recebeu, em 2010, 360 animais atropelados – praticamente um por dia, na média – e outros106 até maio deste ano. O problema também ocorre com intensidade nas rodovias federais do Mato Grosso do Sul (região do bioma Pantanal). Segundo a Polícia Rodoviária Federal, 203 mortes de animais silvestres foram registradas apenas nas estradas federais daquele Estado.

Esse tipo de ocorrência vai persistir enquanto o poder público não tomar efetivas providências na gestão das estradas que cortam áreas com ocorrência de fauna silvestre e deixar que ONGs, como a Aprov, faça parte do trabalho: o de conscientização e educação dos motoristas.

Além do poder público atuar na conscientização dos condutores de veículos, uma alternativa para reduzir os atropelamentos seria utilizar aspectos das“estradas-parque”em vias de circulação de veículos em áreas com alguma ocorrência de animais silvestres (sinalização intensiva e adequada, redução dos limites de velocidade, estruturas especiais de travessia para animais, etc). Para o biólogo Afrânio José Soares Soriano, docente do campus de Registro da Universidade Estadual Paulista (Unesp) – que fez seu doutorado sobre esse tipo de via - “estradas-parque”geralmente se referem a rodovias que causam o mínimo impacto ambiental e passam por áreas protegidas e de grande beleza, onde se realizam atividades de lazer e se pode apreciar a paisagem.


- Leia a matéria sobre a campanha da ONG cearense.
- Releia “Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas”, do Fauna News.
- Conheça a tese de doutorado de Afrânio José Soares Soriano.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Tartarugas para o tráfico, para alimentação e como afrodisíaco. Realidade em Madagascar

Tartarugas são fontes de alimento, de preparados afrodisíacos e de diversão. Isso em Madagascar, país africano do lado do Oceano Índico, onde ambientalistas alertam para os riscos de extinção desses répteis.

“Eles dizem que a crescente demanda local pela carne e no exterior pelo casco, usado como afrodisíaco, e pelo réptil como animal doméstico, favoreceu o que batizaram de "máfia das tartarugas." – texto da matéria “'Máfia da tartaruga' deixa espécie rara sob ameaça de extinção”, veiculada em 28 de junho de 2011 pela BBC Brasil. O material produzido pela agência de notícias inglesa não especifica a espécie do animal.


Espécie de Madagsascar corre risco, segundo BBC
Foto: BBC 

Além da cultura local em se alimentar com carne de tartaruga (e não é apenas para matar a fome de populações pobres, mas como iguaria e tira-gosto em restaurantes), há a exploração dos cascos de filhotes para a medicina chinesa (que os considera afrodisíacos) e como produtos para o mercado negro de animais silvestres em países da Ásia, como a Tailândia.

“Ambientalistas contam que traficantes chegam a colocar até 400 animais dentro de suas bagagens, antes de embarcá-las para cidades como Bangcoc.” – texto da BBC

“... é constante ver caçadores percorrendo vilarejos em grupos de até cem pessoas, que chegam a recolher milhares de tartarugas em algumas semanas.

Segundo os ambientalistas, eles costumam estar fortemente armados, a fim de coibir quem tentar impedi-los.”
- texto da BBC

Quer saber o valor que a vida animal tem nesse mundo criminoso?

De acordo com a matéria da BBC, que ouviu os ambientalistas Ndranto Razakamanarina, presidente da Aliança de Grupos de Conservação; Herilala Randrianahazo, da Aliança pela Sobrevivência das Tartarugas; e Tsilavo Rafeliarisoa, temos o seguinte:

- em um restaurante, o prato de carne de tartaruga, cozida no tomate, com alho e cebolas, é vendido por US$ 2,50 (R$ 4) e servido em menos de 30 minutos;

- asiáticos ricos consideram as tartarugas animais domésticos exóticos e pagam até US$ 10 mil por cada uma (cerca de R$ 16 mil).


Carne de tartaruga
Foto: BBC

A máfia
“Todo mundo as está comendo e todo mundo as está traficando. E assim que essas pessoas são levadas a julgamento, surgem organizações mafiosas que as ajudam a escapar”, afirmou Razakamanarina para a BBC. E ainda há o fato de autoridades do governo também estarem envolvidas.

Saiba que...
- o tráfico de animais silvestres movimenta, anualmente, entre 10 bilhões e 20 bilhões de dólares por ano no mundo;
- o Brasil é responsável entre 5% e 15% desse total;
- dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza por ano para alimentar esse comércio, no Brasil, é de 12 milhões ou de 38 milhões;
- esse crime é a terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do contrabando de armas)

- Leia a matéria original da BBC.
- O caso também foi abordado pelo portal G1.
- Saiba mais sobre o tráfico de animais na Tailândia, um grande mercado de animais silvestres – Freeland Foundation.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Começar a semana pensando...

...que lutar pela vida vale a pena por causa disto:


Na madrugada do dia 18 de junho, na sede do Instituto de Preservação e Defesa dos Felídeos da Fauna Silvestre do Brasil em Processo de Extinção, ONG  que atua como criadouro conservacionista conhecida como NEX (No Extinction), em Goiás, foi filmado o nascimento de duas onças-pintadas.

Um dos filhotes da onça Airumã, de 3 anos, nasceu melânico, uma variação genética que deixa a pele do animal da cor preta. Ele foi rejeitado e, por isso, acabou resgatado para ser tratado.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) essa foi a primeira vez que um parto de onça-pintada é filmado no Brasil.

- Leia a matéria do portal G1 sobre os nascimentos.
- Conheça a ONG NEX.
- Saiba mais sobre as onças-pintadas (informações do Zoológico de São Paulo).

sexta-feira, 24 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tubarões e arraias: do perigo de extinção à falta de informação

“Das 169 espécies (de tubarões e arraias que ocorrem no Brasil), duas estão “Regionalmente Extintas” (RE) e 60 se encontram em alguma categoria de ameaça, sendo 29 “Criticamente em Perigo” (CR), sete “Em Perigo” (EN) e 20 “Vulnerável” (VU). Apenas 31, foram avaliadas como "Menor Preocupação" (LC) e 16 como "Quase Ameaçada" (NT).” Essa  é uma parte do texto que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente, utilizou para divulgar os resultados da avaliação preliminar de uma pesquisa sobre os riscos de extinção desses peixes.

O trabalho, que envolveu mais de 50 especialistas, começou em 2009 e agora está na fase de validação para sua publicação final. Além de quase um terço dos chamados elasmobrânquios (tubarões e arraias) estarem ameaçadas de desaparecer, o estudo apresenta outro dado preocupante:

“O número de espécies com "Dado Insuficiente" (DD) foi considerado especialmente alto (59), indicando que as incertezas taxonômicas e a falta de informações populacionais são um grande problema de conservação para esse grupo.” – texto original do ICMBio.

Essa última afirmação indica que o número de espécies em risco de extinção pode ser ainda maior e escancara a falta de informações sobre a biodiversidade marinha brasileira.


Tubarão pescado ilegalmente apreendido em abril no Pará
Foto: Divulgação/Ibama

Segundo Monica Peres, da Coordenação de Avaliação do Estado de Conservação da Biodiversidade do ICMBio, “a pesca excessiva e não regulamentada foi, e continua sendo, a maior ameaça para esse grupo nas águas brasileiras. Pescarias importantes no passado estão hoje colapsadas, como a pesca de cação-anjo, do cação-bico-doce, entre outras. Apesar de muitas espécies já constarem em listas oficiais de espécies ameaçadas, elas continuam sendo ameaçadas pela captura acidental em diversas pescarias ao longo da costa brasileira.”

A ação exploratória do homem, aliada às taxas de fecundidade e mortalidade natural extremamente baixas – o que reduz bastante a reposição populacional -, são apontadas como as causas dos problemas enfrentados por tubarões e arraias no Brasil.

Enquanto desconhecemos (afirmação do próprio ICMBio) nossa super-explorada biodiversidade marinha...

“O Brasil pretende construir “modernos” navios de pesquisa nos estaleiros do país para integrar a frota que será usada no mapeamento da plataforma continental brasileira. A informação foi dada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, depois de reunião com representantes da Marinha nesta terça-feira (21) no Rio de Janeiro.

A ideia do Ministério da Ciência e Tecnologia é conhecer os 4,5 milhões de quilômetros quadrados do mar territorial brasileiro e da zona econômica exclusiva do país, a fim de identificar potenciais econômicos, conhecer a biodiversidade e estudar os efeitos das mudanças climáticas e da poluição no mar brasileiro.”

Eu teria ficado feliz caso eu não tivesse lido até o fim a matéria acima, de 21 de junho do jornalista Vitor Abdala, da Agência Brasil. Afinal, na sequencia está: “O mapeamento ainda está sendo planejado, em parceria com a Marinha, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a estatal petrolífera Petrobras e a mineradora privada Vale.”

E quando o dedo das multinacionais que exploram petróleo está envolvido, fica difícil confiar em ações que não promovam problemas ambientias:

“Chegou ao fim um dos maiores berços da vida aquática do Brasil, o Arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia. Rota das baleias que vêm fugir do frio, a região sofrerá com a presença de 5 multinacionais, inclusive a Petrobras, que explorarão 16 concessões de poços na área. A liminar obtida pelo Ministério Público da Bahia proibindo a atividade no Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi cassada por decisão do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região. Agora só resta esperar uma definição final do Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se libera ou não as licenças para que a Petrobras (11 blocos), Perenco (2 blocos), Queiroz Galvão, Shell e ONGC iniciem as operações.” – nota do site Bahia Negócios on line (edição de hoje). Observação do Fauna News: as áreas a serem exploradas não ficam dentro do perímetro do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, mas na região."

Dados divulgados pelo Greenpeace:

“O caso que melhor ilustra esse embate está no entorno do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, um área relevantíssima para a reposição de nossos estoques pesqueiros e que, por isso mesmo, deveria no mínimo ter um cinturão de proteção adicional à sua volta. A região é local de reprodução de baleias jubarte e aporta os maiores recifes de corais do Atlântico Sul. Garante ainda o sustento de 20 mil pescadores, que contribuem com 10% da produção pesqueira nacional.”

- Leia a matéria do portal G1 sobre a pesquisa do ICMBio sobre tubarões e arrais no Brasil.
- Leia a matéria da Agência Brasil sobre a construção de navios para pesquisa.
- Leia a nota do Bahia Negócios on line sobre a exploração de petróleo na região de Abrolhos.
- Leia um texto do Greenpeace que aborda a exploração de petróleo em Abrolhos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas

Quando uma rodovia corta uma área com vegetação e fauna nativas bem preservadas alguns problemas logo aparecem. A fragmentação do território, com a passagem de uma pista de asfalto, pode interromper fluxos migratórios e, consequentemente, a troca genética entre populações de mesma espécie. Também relacionado ao deslocamento da fauna, o tráfego de veículos em estradas é responsável pela morte por atropelamento de muitos animais.

A perda da vida por animais atingidos por carros e caminhões não é novidade e há décadas esse tipo de ocorrência é registrado pelos gerenciadores das rodovias e o poder público. Pesquisadores da área de fauna e ambientalistas também estão há tempos alertando sobre o problema.

Resolvi novamente abordar esse tema – no final desse texto há alguns links para outros registros do Fauna News sobre atropelamentos de animais silvestres em rodovias – após ler a matéria do site da EPTV de Piracicaba (município do interior paulista) “Zoológico atende 21 animais selvagens atropelados por mês”, publicada em 12 de junho.

Onça-parda atropelada na rodovia Anhanguera, interior de São Paulo
Foto: Valter Tozetto Jr./Jornal de Jundiaí

O texto da jornalista Lana Torres começa da seguinte forma:

“O Zoológico de Piracicaba atendeu 106 animais selvagens vítimas de atropelamento em rodovias da região durante os cinco primeiros meses do ano. Só entre os mamíferos, houve um aumento de 1.150% na incidência desse tipo de acidente de 2005 até 2010. Boa parte desses animais está em risco de extinção.”

O zoológico recebeu, em 2010, 360 animais atropelados – praticamente um por dia, na média. Entre as vítimas estavam onças-pardas, macacos-pregos, veados e ouriços. Dos 106 animais atendidos até maio deste ano, estão uma irara (mamífero que, em aspecto, parece com as fuinhas), um gambá-saruê e um lobo-guará.

De acordo com a veterinária Marianna Ricciarda Curi, responsável pelo cuidado de todos os animais resgatados nessas condições na região, o problema é resultado de uma série de fatores, entre eles a ampliação da malha viária, a diminuição da área verde e as fronteiras agrícolas demarcadas por rodovias, que obrigam que os animais, para passarem de uma propriedade a outra, cruzarem a via.

Em 8 de fevereiro, publiquei “Não bastasse a onça-parda, cervo de 250 quilos também é vítima de atropelamento”. Nesse texto, em que abordei a morte do cervo em Mato Grosso do Sul, expus um dado tão alarmante quanto a realidade das rodovias da região de Piracicaba: em 2010, segundo a Polícia Rodoviária Federal, 203 mortes de animais silvestres foram registradas apenas nas estradas federais daquele Estado.

Tamanduá-bandeira atropelado próximo de Campo Grande (MS)
Foto: Alessandra de Souza

Reitero o que escrevi em fevereiro:

“Também não é preciso pesquisar muito para ter certeza que as rodovias nacionais não têm sinalização suficiente para alertar motoristas sobre a presença de animais silvestres (basta dirigir pelas estradas brasileiras para constatar isso) e também não possuem estruturas para a travessia de animais, como passagens subterrâneas. São raras as vias com tal planejamento.

Apesar dos problemas com a sinalização e a infraestrutura para evitar os atropelamentos de animais selvagens, não se deve atenuar a responsabilidade dos motoristas. É fato que os brasileiros não respeitam os limites de velocidade e as leis de trânsito, tanto que o Brasil é um dos países com maior número de acidentes - seja nas vias urbanas ou nas estradas - do mundo.”

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Macaco-prego albino é vítima de um hábito cruel

Xerimbabo. Na língua tupi a palavra quer dizer “coisa muito querida” e é utilizada pelos indígenas para designar animais silvestres tratados como bichos de estimação. O hábito faz parte da cultura desses povos que mantêm soltos nas aldeias araras, papagaios, periquitos, primatas e vários outros tipos de animais. Nunca se tentava domesticar as espécies, mas sim os espécimes. Lógico que, com o contato com a cultura do “homem branco”, muito tem mudado.

Mas esse costume se misturou com o também antigo hábito da civilização européia que, desde a Idade Média, cria animais silvestres, seja como pet seja como mercadoria ou fonte de alimento. A mistura dessas tradições forjou um forte traço na vida dos brasileiros, que gostam de criar silvestres como aves e macacos em suas residências.

E justamente esse hábito sustenta o tráfico de animais e mostra o quanto se pode maltratar um bicho pelo prazer egoísta de mantê-lo próximo. E não há exagero nenhum nessa afirmação.

Na sexta-feira, dia 17 de junho, o portal G1 e o blog Planeta Bicho, do site Globo Rural, publicaram a apreensão pelo Ibama do Pará de um macaco-prego albino resgatado de uma casa abandonada no município de Breves. O animal é “um macho adulto que foi vítima de maus-tratos ao longo da vida. Além da magreza resultante de anos de alimentação inadequada, o macaco teve a cauda cortada e as presas serradas”, informa o Planeta Bicho.

O macaco teve a cauda cortada e as presas serradas
Foto: Nelson Feitosa - Ibama/Divulgação

Na mesma matéria consta que o macaco teria sido abandonado por quem o mantinha em cativeiro. “É comum espécimes silvestres serem criados ilegalmente enquanto são filhotes e não dão problema. Depois, quando se tornam adultos e inconvenientes, são descartados em qualquer lugar, como se não tivessem valor”, explica o superintendente-substituto do Ibama no Pará, Alex Lacerda, que agora analisa o melhor destino para a rara espécie albina.”

“O albinismo é um distúrbio genético em que o indivíduo fica sem pigmentação na pele. Animais albinos não costumam sobreviver por muito na natureza porque não têm proteção natural contra o sol e porque a cor clara os torna presa mais fácil.”
– texto da matéria do G1.

Por conta dessa raridade, muitos zoológicos já teriam se prontificado a receber o animal. O Ibama está analisando os pedidos para decidir o melhor destino ao macaco.

Saiba que o tráfico de animais...

... é a terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
... é a segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de hábitat).

- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Entre 60% e 70% do comércio ilegal de animais silvestres no Brasil é voltado para abastecer o mercado interno: estima-se que de dois a quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.

- Leia a matéria do portal G1 sobre o caso.
- Leia a matéria do blog Planeta Bicho.

Começar a semana pensando...

A partir de hoje, em toda segunda-feira, o Fauna News publica o "Começar a semana pensando...".

"1. Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
 2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito."

Artigo 4º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais.

A Declaração foi aprovada em 27 de janeiro de 1978 em assembleia da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), realizada na cidade de Bruxelas (Bélgica).

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Reflexão para o fim de semana: 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente

O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1972 marcando a abertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.  O evento, realizado na Suécia e conhecido como Conferência de Estocolmo, ocorreu entre 5 e 16 de junho.

Celebrado anualmente desde então, o Dia Mundial do Meio Ambiente chama a atenção e a ação política de povos e países para aumentar a conscientização e a preservação ambiental.  No encontro foi redigida a “Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano” que, em seu segundo princípio, aborda a fauna:

“Os recursos naturais da Terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequada.”

Arara-canindé na Chapada dos Veadeiros (GO)
Foto: Marcelo Scaranari

A data também ajuda a lembrar sobre o trabalho desenvolvido no Fauna News, como parte da luta contra o tráfico de animais silvestres. Sobre esse crime, não se esqueça:

-Terceira atividade ilegal mais rentável do mundo (atrás do tráfico de drogas e do comércio ilegal de armas): entre 10 e 20 bilhões de dólares por ano, sendo o Brasil responsável por uma fatia que varia de 5% a 15% do total;
- Segunda causa da perda de biodiversidade (atrás da perda de habitat);
- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Entre 60% e 70% do comércio ilegal de animais silvestres no Brasil é voltado para abastecer o mercado interno: estima-se que de dois a quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Na Tailândia, novamente

Agentes da alfândega do aeroporto de Bagcoc, na Tailândia, encontraram hoje (2 de junho) 451 tartarugas-estreladas-indianas, espécie considerada rara, e sete crocodilos de água doce. Os animais estavam dentro de quatro malas, embrulhados em peças de roupas furadas, e só foram encontrados porque ninguém foi retirar a bagagem. Os répteis foram despachados de Bangladesh. No mercado negro, esses animais valem US$ 33 mil.

Tartarugas apreendidas na Tailândia
Foto: Pornchai Kittiwongsakul/AFP

Encontrei essas informações no site da BBC e no portal G1. Ao terminar de ler a matéria do site da agência inglesa, encontrei uma chamada para a seguinte  chamada : “Contrabandista de bebê leopardo foge da Tailândia”.  Não resisti e cliquei, afinal em 13 de maio publiquei “Quer saber como animais silvestres são transportados por traficantes? Assista ao vídeo”, que abordou a prisão de Noor Mahmoodr, de 36 anos, quando tentava viajar para Dubai (Emirados Árabes) com dois leopardos, duas panteras, um urso e dois macacos – todos filhotes com idades entre quatro e cinco semanas.

Não deu outra: Noor Mahrmoodr não apareceu para uma audiência no tribunal e a polícia de Imigração confirmou que ele havia deixado a Tailândia. De acordo com a matéria da BBC, a ONG Freeland Foundation, entidade que combate o tráfico de animais silvestres naquele país,  expressou preocupação com a notícia.

"Desde que ele foi pego em flagrante e acusado, queremos saber por que ele não está sendo processado", disse o diretor da Freeland, Steven Galster.

Se eu estiver enganado, por favor, escrevam me corrigindo, mas no Brasil traficante de animais também é solto após ser preso em flagrante e responde ao inquérito e ao processo em liberdade. Alguém já viu esse tipo de criminoso ser condenado e cumprir a pena na cadeia.

A causa? Lei fraca, principalmente.

- Leia a matéria do portal G1 sobre a apreensão das tartarugas e dos crocodilos.
- Leia a matéria da BBC sobre a apreensão das tartarugas e dos crocodilos (em inglês e com vídeo).
- Releia o texto do Fauna News: “Quer saber como animais silvestres são transportados por traficantes? Assista ao vídeo”.