Saber que na América do Sul há hipopótamos vivendo livres na natureza foi uma novidade para mim. Afinal, esses animais são originários da África e por aqui somente são vistos em zoológicos. Mas, acredite ou não, 30 deles perambulam pela Colômbia graças à ostentação do traficante Pablo Escobar, morto em dezembro de 1992.
Fiquei sabendo da história desses hipopótamos ao ler a matéria “O terror das cercanias”, publicada dia 6 de março, na página J8 do caderno Aliás de O Estado de S. Paulo. O texto de Verónica Calderón (originalmente publicado no El País) é uma reportagem sobre o documentário Pablo’s Hippos (Os hipopótamos de Pablo), do diretor colombiano Antonoio von Hildebrand, que traça uma analogia entre a espécie e o traficante.
Espécie da África, esses hipopótamos vivem livres na Colômbia
Foto: ReproduçãoA matéria não esclarece se os hipopótamos foram importados legalmente, junto com outros milhares de animais (o zoológico de Escobar, Hacienda Napoles, chegou a abrigar mais de 2.500 animais). Com a morte do traficante, a propriedade foi saqueada e bichos foram roubados. Alguns até acabaram sendo levados para outro zoológico colombiano.
Mas os hipopótamos tiveram um destino diferente: uma parte ficou vagando pelas imediações da Hacienda Napoles e um casal escapou e se reproduziu, formando um grupo que se instalou a 150 quilômetros ao norte da antiga propriedade de Pablo. Os animais se transformaram em um problema para o poder público colombiano por destruírem lavouras, derrubarem cercas e atacarem outros animais, camponeses e pescadores.
Além da história dos hipopótamos sulamericanos chamar a atenção por sua singularidade, a ostentação de Pablo Escobar é um símbolo de um dos principais elementos motivadores do comércio de animais silvestres no mundo. Esse hábito já estava presente na Idade Média como um indicativo de riqueza, poder e nobreza.
A outra face dos criadores de animais silvestres está ligada principalmente aos que mantêm pássaros. E esse costume, muito ligado às tradições indígenas, não está restrito ao universo dos endinheirados. Como o valor dos pássaros é menor, não há localidade no Brasil em que inexista o comércio de aves e que não se encontre gaiolas em residências.
Para dar uma dimensão sobre o problema:
- Dependendo da fonte consultada, o número de animais silvestres retirados da natureza no Brasil, por ano, é 12 milhões ou 38 milhões;
- Entre 60% e 70% do comércio ilegal de animais silvestres no Brasil é voltado para abastecer o mercado interno: estima-se que de dois a quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares;
- Estima-se que 95% do comércio de animais silvestres no Brasil seja ilegal;
- Há pesquisas que apontam haver 60 milhões de brasileiros criando espécimes da fauna nativa em suas residências.
Mudando um pouco o raciocínio...
Peço licença para mudar um pouco o raciocínio, mas mantendo ainda como base a história de Pablo Escobar e os hipopótamos. Não pude deixar de lembrar o quanto que o tráfico de animais silvestres está ligado ao tráfico de drogas. No 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre, publicado pela ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), a entidade destaca:
“Na América do Sul, os carteis de drogas têm grande envolvimento com o comércio ilegal de fauna silvestre, muitas vezes se utilizam da fauna para transportarem seus produtos. Frequentemente, são encontradas drogas dentro de animais vivos ou em suas partes.”
“Não é surpresa alguma essas atividades estarem ligadas, se considerarmos que ambas são atividades marginais, que os produtos envolvidos são enviados das mesmas regiões e que os métodos utilizados são similares: falsificação de documentos, suborno de autoridades, evasão de impostos, declarações alfandegárias fraudulentas, entre outras.”
De acordo com pesquisa da Renctas (divulgada em 2001), estima-se haver entre 350 e 400 quadrilhas de tráfico da fauna silvestre, sendo que cerca de 40% possuem ligações com outras atividades ilegais (drogas, armas e pedras precisas, por exemplo).
Leia a matéria completa: "O terror das cercanias"
Conheça a ONG Renctas
Saiba mais sobre os hipopótamos
0 comentários:
Postar um comentário