quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não bastasse a crueldade do cativeiro, o tráfico de animais silvestres também promove a disseminação de doenças

Matéria de O Estado de S. Paulo “Animal atropelado ajuda pesquisa”, publicada em 4 de julho de 2011, trouxe a seguinte informação:

“Um estudo sobre os animais silvestres que morrem atropelados nas estradas de São Paulo vem permitindo a pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de Botucatu, entender as formas de transmissão de importantes zoonoses para a saúde humana, como a doença de Chagas e a leishmaniose. (...)
 

Os pesquisadores coletaram tecidos (pulmões, fígados, baços, rins e corações) de tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, onça-parda, tatu-mão-pelada, cachorro-do-mato, gato-do-mato, sagui, preá, furão, ouriço-cacheiro, cuíca, capivara, gambá e irara, entre outros.” – texto original da matéria


Tamanduá-bandeira atropelado
Foto: Alessandra de Souza

O trabalho dos pesquisadores da Unesp só reforça os riscos que o consumo de carne de animais silvestres e a manutenção desses animais como bichos de estimação oferecem para o ser humano. Nesse ponto, não estou nem levantando as questões éticas sobre o hábito de criar exemplares da fauna silvestre como pets e o direito do homem em acabar com a liberdade dos animais e com a função ecológica deles em seus ecossistemas.

Na matéria do jornalista José Maria Tomazzela, a pesquisadora Virgínia Bodelão Richini Pereira, do Núcleo de Pesquisa em Zoonoses da Unesp em Botucatu, que conduz o estudo, afirma:

“Os locais onde esses animais vivem são comuns aos homens. No caso do tatu, muitas pessoas o usam na alimentação e, se a carne não for bem cozida, a pessoa pode se infectar". Ao ler esse trecho da matéria, pensei: no Estado de São Paulo ainda é preciso caçar animais para saciar a fome?

Para dimensionar um pouco o perigo das zoonoses (doenças) que podem atacar os homens, vale destacar que mais de 180 doenças já foram descritas, sendo as mais comuns (dados do livro União pela Fauna da Mata Atlântica, das ONGs Fundação SOS Mata Atlântica e Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres - Renctas):

- macacos e micos: raiva, febre amarela, hepatite, herpes simples e tuberculose;
- jabutis e lagartos: salmonelose, verminoses e micos;
- papagaios e passarinhos: ornitose (febre do papagaio) e toxicoplasmose.

“A situação de estresse que esses animais passam durante a comercialização pode levar à queda de resistência imunológica e desenvolvimento de doenças transmitidas por estes animais, tornando-os portadores de agentes infecciosos dentro das residências” – texto do 1º relatório nacional sobre o tráfico de fauna silvestre, de 2001, da Renctas.

O problema não deve ser desconsiderado. Em 2007, no município de Pântano Grande, no Rio Grande do Sul, 477 aves (entre elas filhotes de caturritas e de cardeais) foram apreendidas com traficantes de animais e causaram a contaminação de 18 pessoas (veterinários e policiais ambientais que atenderam o caso) por ornitose.

- Leia a matéria “Animal atropelado ajuda pesquisa”.
- Releia as matérias do Fauna News sobre atropelamentos de animais silvestres no Brasil:
"Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas";
"Não bastasse a onça-parda, cervo de 250 quilos também é vítima de atropelamento";
- Conheça o trabalho da Rede Nacional de Combate ao tráfico de Animais Silvestres (Renctas).

- Conheça a Fundação SOS Mata Atlântica.

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