terça-feira, 21 de junho de 2011

Animais silvestres também são vítimas da barbárie das estradas

Quando uma rodovia corta uma área com vegetação e fauna nativas bem preservadas alguns problemas logo aparecem. A fragmentação do território, com a passagem de uma pista de asfalto, pode interromper fluxos migratórios e, consequentemente, a troca genética entre populações de mesma espécie. Também relacionado ao deslocamento da fauna, o tráfego de veículos em estradas é responsável pela morte por atropelamento de muitos animais.

A perda da vida por animais atingidos por carros e caminhões não é novidade e há décadas esse tipo de ocorrência é registrado pelos gerenciadores das rodovias e o poder público. Pesquisadores da área de fauna e ambientalistas também estão há tempos alertando sobre o problema.

Resolvi novamente abordar esse tema – no final desse texto há alguns links para outros registros do Fauna News sobre atropelamentos de animais silvestres em rodovias – após ler a matéria do site da EPTV de Piracicaba (município do interior paulista) “Zoológico atende 21 animais selvagens atropelados por mês”, publicada em 12 de junho.

Onça-parda atropelada na rodovia Anhanguera, interior de São Paulo
Foto: Valter Tozetto Jr./Jornal de Jundiaí

O texto da jornalista Lana Torres começa da seguinte forma:

“O Zoológico de Piracicaba atendeu 106 animais selvagens vítimas de atropelamento em rodovias da região durante os cinco primeiros meses do ano. Só entre os mamíferos, houve um aumento de 1.150% na incidência desse tipo de acidente de 2005 até 2010. Boa parte desses animais está em risco de extinção.”

O zoológico recebeu, em 2010, 360 animais atropelados – praticamente um por dia, na média. Entre as vítimas estavam onças-pardas, macacos-pregos, veados e ouriços. Dos 106 animais atendidos até maio deste ano, estão uma irara (mamífero que, em aspecto, parece com as fuinhas), um gambá-saruê e um lobo-guará.

De acordo com a veterinária Marianna Ricciarda Curi, responsável pelo cuidado de todos os animais resgatados nessas condições na região, o problema é resultado de uma série de fatores, entre eles a ampliação da malha viária, a diminuição da área verde e as fronteiras agrícolas demarcadas por rodovias, que obrigam que os animais, para passarem de uma propriedade a outra, cruzarem a via.

Em 8 de fevereiro, publiquei “Não bastasse a onça-parda, cervo de 250 quilos também é vítima de atropelamento”. Nesse texto, em que abordei a morte do cervo em Mato Grosso do Sul, expus um dado tão alarmante quanto a realidade das rodovias da região de Piracicaba: em 2010, segundo a Polícia Rodoviária Federal, 203 mortes de animais silvestres foram registradas apenas nas estradas federais daquele Estado.

Tamanduá-bandeira atropelado próximo de Campo Grande (MS)
Foto: Alessandra de Souza

Reitero o que escrevi em fevereiro:

“Também não é preciso pesquisar muito para ter certeza que as rodovias nacionais não têm sinalização suficiente para alertar motoristas sobre a presença de animais silvestres (basta dirigir pelas estradas brasileiras para constatar isso) e também não possuem estruturas para a travessia de animais, como passagens subterrâneas. São raras as vias com tal planejamento.

Apesar dos problemas com a sinalização e a infraestrutura para evitar os atropelamentos de animais selvagens, não se deve atenuar a responsabilidade dos motoristas. É fato que os brasileiros não respeitam os limites de velocidade e as leis de trânsito, tanto que o Brasil é um dos países com maior número de acidentes - seja nas vias urbanas ou nas estradas - do mundo.”

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