Outro dia, conversando com amigos, me disseram que o Fauna News é “um pouco pesado”. Parei, pensei e concordei. Até achei que suavizaram o comentário quando usaram a expressão “um pouco”. Tento me policiar para não dar destaque apenas às notícias ruins, apesar de ser bastante difícil quando o assunto é, por exemplo, tráfico de fauna ou o trato que muitas pessoas dão para animais silvestres que são capturados para “virarem” pets.
Acho impossível ignorar isto:
“- Outro dia soube que um vizinho pegou um macaco e colocou numa gaiola. Eu fui lá tirar satisfações, mostrar quem é que manda aqui. Mas cheguei tarde, o saguizinho já estava sem dentes.”
Essa fala é de Jairo Santos, de 62 anos, morador de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista e está na matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos”, publicada em 27 de julho de 2011 pelo site O Eco. O homem ajuda a cuidar de um trecho de Mata Atlântica de 5,5 hectares, onde vive uma população de sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita) também chamado de sagüi do Vale do Paraíba - espécie nativa ameaçada de extinção por perda de hábitat.
Pela perda de hábitat, o sagui está ameaçado de extinção
A parte boa é que a Petrobrás, que tem dutos enterrados no local, irá reflorestar a área e reconectá-la com o corredor de mata que segue até Paraibuna (já na Serra do Mar).
Xerimbabos
O ato do vizinho de Jairo, que aprisionou o sagui, é uma herança que tem de ser mudada.
O costume de manter animais silvestres como bichos de estimação não é um fenômeno recente. Já na Idade Média, entre os europeus era possível encontrar macacos, papagaios, esquilos e doninhas no interior das residências, praticamente dividindo o mesmo espaço com seus proprietários. Para os camponeses, dependendo da espécie, o costume garantia uma fonte de alimento, enquanto para as classes mais altas, manter animal em casa era considerado artigo de luxo, símbolo de riqueza, poder e nobreza.
Mas esse hábito não era exclusividade dos europeus. Indígenas brasileiros também criavam animais silvestres como bichos de estimação, tanto que os falantes da língua tupi tinham um termo específico para seus “pets”: xerimbabos (“coisa muito querida”). A mistura desses elementos formou parte da cultura nacional.
Dos pequenos municípios das regiões mais isoladas do país até grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro é fácil encontrar animais nas residências. Dos domesticados cães e gatos, passando pelos tradicionais pássaros, até os silvestres, os brasileiros cultivam fortemente esse costume. Calcula-se que até 70% do comércio ilegal de silvestres no Brasil seja voltado para o mercado interno.
Estima-se que entre dois e quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares. De acordo com a fonte consultada, esse número pode ser ainda maior. Para dimensionar o quanto os ecossistemas brasileiros sofrem por causa dessa demanda, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirma que 12 milhões de animais são retirados da natureza por ano no Brasil. Para a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), esse número é de 38 milhões.
O tráfico da fauna é apontado como a segunda causa da perda da biodiversidade no mundo e a terceira atividade ilegal mais lucrativa (atrás dos tráficos de drogas e de armas).
- Leia a matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos” de O Eco.
- Conheça a Renctas.
Acho impossível ignorar isto:
“- Outro dia soube que um vizinho pegou um macaco e colocou numa gaiola. Eu fui lá tirar satisfações, mostrar quem é que manda aqui. Mas cheguei tarde, o saguizinho já estava sem dentes.”
Essa fala é de Jairo Santos, de 62 anos, morador de São José dos Campos, no Vale do Paraíba paulista e está na matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos”, publicada em 27 de julho de 2011 pelo site O Eco. O homem ajuda a cuidar de um trecho de Mata Atlântica de 5,5 hectares, onde vive uma população de sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita) também chamado de sagüi do Vale do Paraíba - espécie nativa ameaçada de extinção por perda de hábitat.
Pela perda de hábitat, o sagui está ameaçado de extinção
Foto: Victor Moriyama
“- Dou banana para eles duas vezes ao dia há mais de 10 anos, conheço todos os macaquinhos que vivem aqui, e eles me conhecem, se comunicam comigo quando chega a hora da refeição.
Apesar das boas intenções, essa aproximação não é boa para os animais, pois tende a fragilizar sua capacidade de obter alimentos por si próprios. Mesmo imperfeita, a atuação de Jairo é importante para a preservação da área. Ele trabalha dia e noite como guardião da sua integridade.” – texto da matéria de O Eco
“- Dou banana para eles duas vezes ao dia há mais de 10 anos, conheço todos os macaquinhos que vivem aqui, e eles me conhecem, se comunicam comigo quando chega a hora da refeição.
Apesar das boas intenções, essa aproximação não é boa para os animais, pois tende a fragilizar sua capacidade de obter alimentos por si próprios. Mesmo imperfeita, a atuação de Jairo é importante para a preservação da área. Ele trabalha dia e noite como guardião da sua integridade.” – texto da matéria de O Eco
A parte boa é que a Petrobrás, que tem dutos enterrados no local, irá reflorestar a área e reconectá-la com o corredor de mata que segue até Paraibuna (já na Serra do Mar).
Xerimbabos
O ato do vizinho de Jairo, que aprisionou o sagui, é uma herança que tem de ser mudada.
O costume de manter animais silvestres como bichos de estimação não é um fenômeno recente. Já na Idade Média, entre os europeus era possível encontrar macacos, papagaios, esquilos e doninhas no interior das residências, praticamente dividindo o mesmo espaço com seus proprietários. Para os camponeses, dependendo da espécie, o costume garantia uma fonte de alimento, enquanto para as classes mais altas, manter animal em casa era considerado artigo de luxo, símbolo de riqueza, poder e nobreza.
Mas esse hábito não era exclusividade dos europeus. Indígenas brasileiros também criavam animais silvestres como bichos de estimação, tanto que os falantes da língua tupi tinham um termo específico para seus “pets”: xerimbabos (“coisa muito querida”). A mistura desses elementos formou parte da cultura nacional.
Dos pequenos municípios das regiões mais isoladas do país até grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro é fácil encontrar animais nas residências. Dos domesticados cães e gatos, passando pelos tradicionais pássaros, até os silvestres, os brasileiros cultivam fortemente esse costume. Calcula-se que até 70% do comércio ilegal de silvestres no Brasil seja voltado para o mercado interno.
Estima-se que entre dois e quatro milhões de animais silvestres vivam em cativeiros particulares. De acordo com a fonte consultada, esse número pode ser ainda maior. Para dimensionar o quanto os ecossistemas brasileiros sofrem por causa dessa demanda, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirma que 12 milhões de animais são retirados da natureza por ano no Brasil. Para a ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), esse número é de 38 milhões.
O tráfico da fauna é apontado como a segunda causa da perda da biodiversidade no mundo e a terceira atividade ilegal mais lucrativa (atrás dos tráficos de drogas e de armas).
- Leia a matéria “Uma ilha verde em São José dos Campos” de O Eco.
- Conheça a Renctas.
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