quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Felinos silvestres não são gatos domésticos

“Uma onça macho de aproximadamente dois anos e meio que vinha sendo criada em cativeiro desde que era filhote em uma comunidade da zona rural do município de Jutaí (a 751 KM de Manaus) foi resgatada no último final de semana pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). (...)

Diogo Faria foi o responsável pelo resgate do animal, cujo transporte até Manaus foi feito por avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Como em Jutaí não tem pista aérea, o avião pousou no município vizinho de Fonte Boa. Faria seguiu de lancha até Jutaí, fazendo o sentindo inverso já com o animal.

Onça que era mantida em cativeiro
Foto: Diogo Lagroteria

A operação de resgate levou três dias para ser realizada.” – texto da matéria “Ibama resgata onça que era criada em cativeiro no interior do AM”, publicada em 18 de dezembro de 2012 pelo jornal A Crítica (AM)

Toda essa operação, alardeada pela imprensa, torna-se pequena frente à possibilidade de uma vida mais digna que passa a ser oferecida para a onça-pintada. O animal deverá ser levado para um criadouro particular no Mato Grosso do Sul.

“Por ser órfã e não receber aprendizado da mãe, a onça não tem condições de passar por reabilitação e voltar à natureza. “É praticamente impossível fazer a soltura. Ela não aprendeu a caçar, a se esconder e está acostumada com a presença humana. Se soltar, a primeira coisa que vai fazer é procurar uma casa. As chances de ele morrer são grandes”, explicou o veterinário (veterinário e analista ambiental do Ibama, Diogo Lagroteria Faria).” – texto de A Crítica

O caso dessa onça serve de exemplo de um problema pouco divulgado:

“A criação de felinos silvestres como animais domésticos no interior do Amazonas é mais comum do seu imagina, segundo Faria. Entre 2005 e 2010, o Ibama resgatou  29 felinos (oito onças pintadas, dez jaguatiricas, cinco gatos mouriscos, quatro suçuaranas e dois gatos macarajás).

Dos 29, 17 foram para mantenedores de fauna (pessoas com autorização do Ibama) e oito para zoológicos (3 deles em Manaus). Outros quatro morreram.”
– texto de A Crítica

Repare que nas contas do Ibama não há nenhum soltura. Isso quer dizer que, para a natureza, esses animais que estão em mantenedores e zoológicos estão tão mortos quanto os quatro que realmente perderam a vida. Isso porque eles não estarão mais pelas matas cumprindo seu papel ecológico.

Como vale a pena insistir, vale perguntar se há alguma atividade de conscientização (educação ambiental) nessas comunidades para evitar a captura desses felinos. Afinal, qualquer atitude tem de visar o não aprisionamento dos bichos, já que o posterior resgate deles não significa retorno à natureza.

- Leia a matéria completa de A Crítica

2 comentários:

Filipe disse...

Esse país esta precisando de uma limpa ideológica! Quer dizer que um animal exótico não é "vivo" dentro de um ambiente humano (domesticado) da qual é sustentado e esta ali como banco genético. Num Zôológico ou em cativeiro com "pessoas autorizadas" ele é mais vivo do que antes? Isto é uma ditadura ambiental da esquerda!

DIMAS MARQUES disse...

Caro Felipe, em nenhum momento a crítica está voltada para criadouros credenciados. É só ler o texto. A crítica é voltada para quem captura tais animais sem autorização e ao poder público (que não combate tal prática como deveria). Querendo ou não, em zoológicos ou criadouros autorizados esses animais não estão cumprindo seus papéis ecológicos - o que é o mesmo de o animal estar morto. Pode-se pensar em banco genético, mas, mesmo assim, é muito pouco para o que representa um animal silvestre livre em seu ecossistema.
Não é nenhuma ditadura ambiental, mas exigir do poder público trabalhos concretos de conservação e manejo da fauna silvestre. Quanto a ser de esquerda, isso é uma conclusão sobre ideologia sua (mas saiba que a esquerda é, historicamente, menos engajada na conservação que outras correntes ideológicas).Abraço.