Os veículos jornalísticos estão, faz algum tempo, despertando para o tráfico de animais silvestres. Já não é tão difícil encontrar notícias e reportagens sobre o assunto em jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Muito bom. Afinal, esse comércio criminoso está escancarado em nossas caras e tornou-se impossível ignorá-lo.
Mas a imprensa ainda peca por não se aprofundar no assunto e por optar pela abordagem sensacionalista do problema. No domingo, 18 de março de 2012, o programa Repórter Record, apresentado por Marcelo Rezende, exibiu uma reportagem de 38 minutos sobre o tráfico de animais na Bahia. Por 20 dias, o repórter Jésus Mosquéra acompanhou uma equipe do Ibama por 6.400 quilômetros de estradas em patrulha pelo eixo entre Canudos e Eunápolis (incluindo as famosas centrais de tráfico Vitória da Conquista e Feira de Santana).
Excelente oportunidade para se aprofundar em uma das principais faces do tráfico de fauna silvestre no Brasil. Região com pobreza, onde o comércio de animais é sim uma fonte suplementar de renda – para muitos a principal fonte. Região que, como todo o país, tem o forte hábito de manter bichos silvestres em gaiolas, como bichos de estimação. As aves são as principais vítimas (afinal, mais de 80% dos animais comercializados criminosamente no país são aves), mas não as únicas. Primatas, como os saguis, também sofrem.
Mas esses aspectos não foram abordados. Preferiu-se, como a maioria da imprensa faz, registrar aquele corre-corre dos homens do Ibama atrás de traficante de animais no meio do mato e filmar apreensões em residências. Ficou com cara de matéria de polícia, de PMs entrando em bocas de venda de fumo e traficantes de drogas correndo em vielas de favelas.
Apesar de entrarem em residências paupérrimas, de paredes de barro e madeira, com gente simples e ainda ignorante à dimensão do ato de capturar animais na mata, surpreendentemente, não houve uma reflexão a essa realidade. Nada se falou da necessidade de haver uma política de geração de renda eficiente que desestimule a venda de animais na margem das rodovias – como mostrado na reportagem diversas vezes.
Também nada se falou da necessidade de levar informação àquelas comunidades que, culturalmente, aceitam e gostam de manter animais em gaiolas. Basta lembrar da revolta da moradora de Bom Jesus da Lapa (aos 15 minutos da reportagem) que teve seu papagaio, chamado Teca, apreendido. Ela prometeu comprar outro e colocar o mesmo nome.
As crianças dessa residência, ao serem indagadas pelo agente do Ibama sobre qual o melhor lugar para o papagaio, gaiola ou no mato. A resposta foi gaiola.
Repressão é necessária e fundamental. Mas sem ações para mudança cultural e sem políticas sociais de geração de renda em determinadas áreas, a fiscalização não vai acabar com o problema do tráfico de animais.
E já que estamos abordando a fiscalização e o Ibama, achei um tanto estranho as equipes irem dormir em um hotel acompanhado dos animais apreendidos. Fiquei com a impressão de falta de infraestrutura e planejamento para, imediatamente após as apreensões, encaminhar os bichos para centros especializados e não para passar a noite em um quarto de hotel.
Assim como também fiquei com a sensação de ter ocorrido solturas com poucos critérios. Afinal, desculpem a minha ignorância, é fácil saber se o animal está apto à vida livre e não desaprendeu – por conta do cativeiro – a ser auto-suficiente na mata? Esse mesmo animal não pode levar algum tipo de doença para o ambiente onde for solto?
Ibama, só a boa vontade de seus homens não resolve o problema.
Record, perdeu a chance de fazer uma grande matéria. Os cenários estavam perfeitos para ampliar a discussão e não ficar, como sempre, na correria policial. Mas a reportagem deu um passo adiante ao questionar a fraca legislação. Parabéns por isso.
Assista à reportagem completa:
Mas a imprensa ainda peca por não se aprofundar no assunto e por optar pela abordagem sensacionalista do problema. No domingo, 18 de março de 2012, o programa Repórter Record, apresentado por Marcelo Rezende, exibiu uma reportagem de 38 minutos sobre o tráfico de animais na Bahia. Por 20 dias, o repórter Jésus Mosquéra acompanhou uma equipe do Ibama por 6.400 quilômetros de estradas em patrulha pelo eixo entre Canudos e Eunápolis (incluindo as famosas centrais de tráfico Vitória da Conquista e Feira de Santana).
Imagem da reportagem do Repórter Record
Mas esses aspectos não foram abordados. Preferiu-se, como a maioria da imprensa faz, registrar aquele corre-corre dos homens do Ibama atrás de traficante de animais no meio do mato e filmar apreensões em residências. Ficou com cara de matéria de polícia, de PMs entrando em bocas de venda de fumo e traficantes de drogas correndo em vielas de favelas.
Apesar de entrarem em residências paupérrimas, de paredes de barro e madeira, com gente simples e ainda ignorante à dimensão do ato de capturar animais na mata, surpreendentemente, não houve uma reflexão a essa realidade. Nada se falou da necessidade de haver uma política de geração de renda eficiente que desestimule a venda de animais na margem das rodovias – como mostrado na reportagem diversas vezes.
Também nada se falou da necessidade de levar informação àquelas comunidades que, culturalmente, aceitam e gostam de manter animais em gaiolas. Basta lembrar da revolta da moradora de Bom Jesus da Lapa (aos 15 minutos da reportagem) que teve seu papagaio, chamado Teca, apreendido. Ela prometeu comprar outro e colocar o mesmo nome.
As crianças dessa residência, ao serem indagadas pelo agente do Ibama sobre qual o melhor lugar para o papagaio, gaiola ou no mato. A resposta foi gaiola.
Repressão é necessária e fundamental. Mas sem ações para mudança cultural e sem políticas sociais de geração de renda em determinadas áreas, a fiscalização não vai acabar com o problema do tráfico de animais.
E já que estamos abordando a fiscalização e o Ibama, achei um tanto estranho as equipes irem dormir em um hotel acompanhado dos animais apreendidos. Fiquei com a impressão de falta de infraestrutura e planejamento para, imediatamente após as apreensões, encaminhar os bichos para centros especializados e não para passar a noite em um quarto de hotel.
Assim como também fiquei com a sensação de ter ocorrido solturas com poucos critérios. Afinal, desculpem a minha ignorância, é fácil saber se o animal está apto à vida livre e não desaprendeu – por conta do cativeiro – a ser auto-suficiente na mata? Esse mesmo animal não pode levar algum tipo de doença para o ambiente onde for solto?
Ibama, só a boa vontade de seus homens não resolve o problema.
Record, perdeu a chance de fazer uma grande matéria. Os cenários estavam perfeitos para ampliar a discussão e não ficar, como sempre, na correria policial. Mas a reportagem deu um passo adiante ao questionar a fraca legislação. Parabéns por isso.
Assista à reportagem completa:
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