terça-feira, 10 de maio de 2011

Safari para caçar onças no Pantanal: um crime que poderá ter punição branda

Em 21 de janeiro, escrevi “Para não dizer que acontece somente longe de casa”. O texto aborda uma apreensão, no Gabão, de cabeças e mãos de chimpanzés e um gorila, além de peles de leopardos, leão, couros de cobra e rabos de elefantes. Resultado de uma operação das autoridades daquele país africano, o "material" apreendido seria consequência do hábito de comunidades em se alimentarem de carne de animais silvestres e de utilizarem partes dos espécimes (como as cabeças e as mãos) em rituais de magia, como amuletos de boa sorte ou na medicina tradicional.

Nesse texto, além de questionar os motivos apontados nas matérias sobre o caso – pois creio que as peles de leopardo, por exemplo, seriam comercializadas – relacionei o ocorrido na África com a Operação Jaguar, da Polícia Federal, em julho de 2010. Esse trabalho da polícia e do Ibama identificou e desarticulou parte de uma quadrilha que promovia caçadas no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, promovendo a morte de grandes felinos, como onças pintadas, pardas e pretas.

Peles apreendidas na Operação Jaguar em julho de 2010
Foto: Divulgação Polícia Federal

Pois essa quadrilha foi objeto das matérias do Jornal Nacional (a primeira na edição de 6 de maio) que se basearam em vídeo que estão no inquérito que investiga a quadrilha. Na gravação, os turistas-caçadores matam uma onça-pintada e uma onça-parda, que ainda são atacadas e mordidas (ainda vivas e indefesas) por vários cães. Para surpresa de muita gente, a pecuarista Beatriz Rondon também aparece e ainda declara: “Era uma grande fêmea, muito bonita, que estava comendo minhas vacas aqui”.

Beatriz, segundo o site da Associação de RPPNs do Mato Grosso do Sul (RPPNs são um tipo de unidade de conservação de proteção integral reconhecida pelo governo em que a propriedade se mantém com particulares, e não com o poder público, como acontece com parques nacionais, por exemplo), desde 2001 atuava em parceria com a ONG WWF-Brasil e o Projeto Onça-Social para acabar com a caça aos felinos promovida por fazendeiros descontentes com o ataque das onças aos seus rebanhos. A propridade onde foi filmada a caça, situada em Aqudauana (MS), é uma RPPN e pertence à fazendeira – que inclusive já presidiu a Sociedade para a Defesa do Pantanal (informação do site Último Segundo).

A pseudo-ambientalista foi multada em R$ 105 mil. Vale destacar que cada participante do safári desenbolsava entre R$ 49 mil e R$ 64,8 mil e que a polícia suspeita que as caçadas eram realizadas havia 15 anos.

“As expedições duravam cerca de uma semana e eram formadas por grupos de, geralmente, oito pessoas. A maioria era de turistas estrangeiros vindos dos Estados Unidos e da Europa. O anúncio dos safáris era feito via internet. O vídeo encaminhado por um americano à Polícia Federal  funcionava como um convite à caçada.“ (texto do Último Segundo)

Infelizmente, crimes ambientais dessa natureza não acabam em prisão, com penas (no caso de condenação) transformadas em trabalhos sociais ou cestas básicas. Uma alternativa bastante utilizada pela polícia, para evitar essas penas alternativas, é o indiciamento dos envolvidos por “formação de quadrilha”. Beatriz resonderá pelo crime, se indiciada, em liberdade.

- Leia a matéria-denúncia do Jornal Nacional da edição de 6 de maio.
- Leia a matéria sobre a Operação Jaguar, em julho de 2010.

- Assista ao vídeo completo (em inglês) que funcionava como um convite/propraganda à caçada:



- Assista à matéria do Jornal Nacional sobre o caso (edição de 6 de maio):


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