Papagaio criado como animal de estimação
Foto: Humberta Carvalho/G1
Foto: Alexandre Rezende
Foto: Alexandre Rezende
É lógico que o empresário, um criador comercial, faria tais afirmações. Propaganda é a alma do negócio! E a matéria apresenta os preços de algumas espécies:
“Em 2012, produziu e vendeu 260 filhotes. Em 2013, a meta é 350 filhotes. Ele cria cerca de 30 espécies diferentes. A mais procurada é a Amazona aestiva, ou papagaio-verdadeiro, o mais falador. O filhote custa R$ 2.300, e é um dos mais baratos. O mais caro chega a custar R$ 20 mil. Espécies raras, como a arara-azul, do Pantanal, chegam a R$ 40 mil, R$ 50 mil. Algumas, em extinção, como a ararinha-azul-de-lear, do sul da Bahia, não há dinheiro que pague.”
O empresário, que já foi dono de fábrica de Coca-Cola, criou a cervejaria Kaiser e a água de coco Kero Coco, mantém o comércio de aves e um discurso conservacionista.
‘"Na época existiam na natureza vinte e poucas ararinhas-azuis-de-lear. Elas eram vendidas no mercado a R$ 120 mil o filhote. Compramos a fazenda, protegemos o local, fizemos campanhas educativas e hoje já temos perto de 2.000 indivíduos", o empresário comemora.’
Será que foi realmente um interesse pela defesa dos animais ou uma ótima visão de negócio? Talvez, o empresário realmente tenha a vontade de ajudar a causa da conservação ambiental e talvez, como empreendedor de sucesso, só saiba agir investindo para ganhar.
‘O ideal é comprar os filhotes com, no máximo, quatro meses, para que estabeleçam maior vínculo com o dono. Um papagaio pode viver até 80 anos. Segundo Luiz Possas, é "um bicho para botar no testamento".’ - texto da Folha de S. Paulo
Será que colocar um ser vivo como se fosse um “bem” a ser considerado em heranças esclarece a visão de mundo do empresário?
O que a matéria não mostra é que a venda legal de animais silvestres, indiretamente, incentiva o tráfico de animais por causa dos preços. Com o valor do papagaio-verdadeiro, legalizado, em R$ 2.300 e o mesmo animal no mercado negro entre R$ 150 e R$ 250, qual será a opção do comprador – que no Brasil ainda é um sujeito pouco informado sobre esse tipo de problema e que considera a criação de aves em cativeiro como um traço cultural?
Filhote de papagaio sendo traficado na feira de Duqe de Caxias (RJ)
Imagem: Reprodução TV Globo
Basta circular pelas periferias das grandes cidades para encontrar, com facilidade, papagaios oriundos do tráfico. Argumentar que o comércio legal de animais silvestres para bichos de estimação vai reduzir o tráfico é ilusão. O mercado negro só vai ser combatido quando campanhas sérias de educação para redução da demanda forem colocadas em prática.
Mas essa parece não ser o ponto de vista do Ibama, que realizou, até 30 de dezembro de 2012, uma consulta pública para a elaboração de uma lista de animais silvestres que poderiam ser criados e comercializados como bichos de estimação – a chamada “lista pet”. Atualmente, o processo tramita dentro do órgão ambiental e a expectativa é grande.
Infelizmente, a consulta pública (feita por meio de um formulário em que eram inseridas sugestões de espécies para comercialização) não permitiu a possibilidade de se manifestar pela chamada “lista pet zero”, isto é, pela proibição total da comercialização de animais silvestres como bichos de estimação.
Carregamento de filhotes apreendido com traficantes
Foto: Divulgação Polícia Rodoviária Federal
A solução do tráfico de fauna, crime responsável pela retirada de mais de 38 milhões de animais silvestres da natureza brasileira por ano, não passa pela liberação da comercialização de animais silvestres como pets. Educação ambiental.
- Leia a matéria completa da Folha de S. Paulo
- Releia o post "Reflexão para o fim de semana: a farsa da consulta pública sobre a “lista pet” foi prorrogada", publicado pelo Fauna News em 21 de dezembro de 2012
1 comentários:
Realmente, Dimas Marques, a maior parte das reportagens relativas aos silvestres usados (e abusados) como animais de estimação omite o tráfico, omite principalmente o profundo sofrimento desses animais! Essa reportagem especificamente, da revista Serafina, da Folha de S. Paulo, aparentemente faz o mesmo, mas se lida com arenção ela é um documento para provar que a criação comercial de silvestres não consegue sustentar a venda no varejo, pelo menos não nas quantidades que vemos por aí -- o criador badalado fala dos altos preços, dos prejuizos... Então de onde saem filhotes viáveis para serem vendidos, mesmo que a preços um tanto proibitivos? Alem disso a reportagem toca num assunto sobre o qual a maioria se cala -- o absurdo incentivo que singnica o famoso Loro José para a avidez humana de manter psitacideos confinados em salas, em cozinhas. Aves que, ao contrário do famoso falante, sofrem demais, tem asas cortadas, não recebem alimentação adequada, criam deformidades comportamentais (auto-mutilação inclusive)... Temos muito a evoluir, Dimas, espero que as crianças sejam a semente de um mundo novo e para tanto precisamos em todos os momentos e todos os lugares mostrar essa realdiade de sofrimento para elas, mostrar que uma anilha ou um certificado ou um microchip nao modifica a dor desses animais engaiolados, acorrentados, confinados... Abraço e parabéns por sua luta, nossa luta. Regina Macedo, jornalista ambiental / São Paulo-SP
Postar um comentário