Em 17 de janeiro de 2012, o jornal britânico The Sun (adjetivado por muitos como “sensacionalista”) publicou uma matéria sobre turistas que pagam para caçar girafas na África. A publicação, que não pode ser tratada como uma denúncia (como o portal G1 a classificou no texto "Famílias realizam safáris na África e caçam girafas por diversão, diz jornal") pelo fato de a atividade ser realizada há anos e legalmente, podendo ser contratada em vários pacotes de viagens, chamou bastante a atenção pelas fotos.
É o velho hábito da imprensa em promover “notícia-espetáculo”. Esse produto vende muito, tanto que chamou a atenção e aqui estamos nós discutindo a matéria. Mas vamos ao que interessa...
Na matéria “Giraffes gunned down for family holiday 'fun'” (algo como “Girafas mortas a tiros por diversão em férias de família”), o especialista da Giraffe Conservation Foundation, Julian Fennessey, conta que a maioria dos que procuram esse tipo de atividade é da América do Norte, Alemanha, Rússia e Escandinávia, mas também há ingleses.
"Alguns caçadores apenas gostam de ter fotos tiradas ao lado da girafa morta. Mas outros pagam taxidermistas para montar a cabeça para que eles possam levá-las para casa como recordação. Ou eles podem querer tirar a pele." - fala do especialista para o The Sun
Esses safáris custam cerca de 10 mil libras (mais de 27 mil reais).
E, como escrevi no título, até criança testemunha essa prática e faz pose com a família. O que esperar desses pequenos quando se tornarem adultos?
Simples: a repetição grotesca desses erros e a manutenção da visão antropocêntrica da existência da natureza para servir os seres humanos. E assim vamos acabando com o planeta.
Sobre as girafas, a matéria do The Sun afirma que a população caiu quase pela metade desde 1988 (de mais de 140 mil para menos de 80 mil). Apesar de ameaçadas de extinção, na África do Sul, Namíbia e Zimbabwe, a caça ainda é legal em reservas particulares autorizadas a explorar comercialmente essa prática.
A matéria do The Sun, que inicialmente parecia questionar essa modalidade de caça (basta ver as aspas no termo fun (diversão), perdeu esse tom e terminou com uma defesa da matança turística. Tanto que há apenas um entrevistado condenando a caça: Joe Duckworth, da The League Against Cruel Sports.
"É inacreditável que algumas pessoas achem ser aceitável matá-los para ter sua foto com o animal morto."
A defesa da caça ganha forçar a partir da declaração do dono de uma área de caça:
"Haverá sempre a emoção de pessoas que não são caçadores quando vêem animais mortos, mas estas são práticas muito regulamentadas. Rinocerontes e outros animais foram salvos mediante a conservação e o dinheiro para a conservação gerado a partir de caça."
Apesar de não esperar outra coisa do comerciante em questão, faço um grande parênteses para alertar sobre a declaração desse senhor. Primeiramente, nunca se matou tantos rinocerontes como em 2011. Somente na África do Sul, país que abriga 40% do total dos rinocerontes-negros e 93% dos brancos, em estado selvagem, o órgão estatal que gerencia os parques nacionais (South African National Parks) divulgou que 448 animais das duas espécies foram mortos apenas em 2011. Um aumento de 34,5% em relação ao ano anterior.
Devo também salientar que a exploração da caça para financiar a conservação é bastante controversa e aplicada em vários países.
Para encerrar a matéria reforçando a defesa da caça, o The Sun publicou a declaração do especialista da Giraffe Conservation Foundation, alegando que nos países onde é possível caçar legalmente, as populações de girafas estão aumentando.
"Isso mostra que se for bem gerida, a caça pode ser sustentável."
Essa visão prática da conservação desse profissional é bastante difundida mas, para mim, pouco ética. A vida em de ser preservada e não negociada...
- Leia a matéria completa do The Sun
- Leia a matéria do G1 "Famílias realizam safáris na África e caçam girafas por diversão, diz jornal"
- Conheça a Giraffe Conservation Foundation
É o velho hábito da imprensa em promover “notícia-espetáculo”. Esse produto vende muito, tanto que chamou a atenção e aqui estamos nós discutindo a matéria. Mas vamos ao que interessa...
Na matéria “Giraffes gunned down for family holiday 'fun'” (algo como “Girafas mortas a tiros por diversão em férias de família”), o especialista da Giraffe Conservation Foundation, Julian Fennessey, conta que a maioria dos que procuram esse tipo de atividade é da América do Norte, Alemanha, Rússia e Escandinávia, mas também há ingleses.
"Alguns caçadores apenas gostam de ter fotos tiradas ao lado da girafa morta. Mas outros pagam taxidermistas para montar a cabeça para que eles possam levá-las para casa como recordação. Ou eles podem querer tirar a pele." - fala do especialista para o The Sun
Esses safáris custam cerca de 10 mil libras (mais de 27 mil reais).
E, como escrevi no título, até criança testemunha essa prática e faz pose com a família. O que esperar desses pequenos quando se tornarem adultos?
Simples: a repetição grotesca desses erros e a manutenção da visão antropocêntrica da existência da natureza para servir os seres humanos. E assim vamos acabando com o planeta.
Sobre as girafas, a matéria do The Sun afirma que a população caiu quase pela metade desde 1988 (de mais de 140 mil para menos de 80 mil). Apesar de ameaçadas de extinção, na África do Sul, Namíbia e Zimbabwe, a caça ainda é legal em reservas particulares autorizadas a explorar comercialmente essa prática.
Girafas em área protegida: Kruger Park, África do Sul
Foto: Dimas MarquesA matéria do The Sun, que inicialmente parecia questionar essa modalidade de caça (basta ver as aspas no termo fun (diversão), perdeu esse tom e terminou com uma defesa da matança turística. Tanto que há apenas um entrevistado condenando a caça: Joe Duckworth, da The League Against Cruel Sports.
"É inacreditável que algumas pessoas achem ser aceitável matá-los para ter sua foto com o animal morto."
A defesa da caça ganha forçar a partir da declaração do dono de uma área de caça:
"Haverá sempre a emoção de pessoas que não são caçadores quando vêem animais mortos, mas estas são práticas muito regulamentadas. Rinocerontes e outros animais foram salvos mediante a conservação e o dinheiro para a conservação gerado a partir de caça."
Apesar de não esperar outra coisa do comerciante em questão, faço um grande parênteses para alertar sobre a declaração desse senhor. Primeiramente, nunca se matou tantos rinocerontes como em 2011. Somente na África do Sul, país que abriga 40% do total dos rinocerontes-negros e 93% dos brancos, em estado selvagem, o órgão estatal que gerencia os parques nacionais (South African National Parks) divulgou que 448 animais das duas espécies foram mortos apenas em 2011. Um aumento de 34,5% em relação ao ano anterior.
Devo também salientar que a exploração da caça para financiar a conservação é bastante controversa e aplicada em vários países.
Para encerrar a matéria reforçando a defesa da caça, o The Sun publicou a declaração do especialista da Giraffe Conservation Foundation, alegando que nos países onde é possível caçar legalmente, as populações de girafas estão aumentando.
"Isso mostra que se for bem gerida, a caça pode ser sustentável."
Essa visão prática da conservação desse profissional é bastante difundida mas, para mim, pouco ética. A vida em de ser preservada e não negociada...
- Leia a matéria completa do The Sun
- Leia a matéria do G1 "Famílias realizam safáris na África e caçam girafas por diversão, diz jornal"
- Conheça a Giraffe Conservation Foundation
Girafa em Kruger Park, África do Sul
Foto: Dimas Marques
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