quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Cuidar da fauna silvestre: burocracia, falta de apoio e jogo de empurra

Tenho contato com algumas pessoas que são responsáveis por instituições que recebem, recuperam e tentam, na medida do possível, devolver à vida livre animais silvestres. E é comum a todos (desculpe o pleonasmo) problemas financeiros e a luta contra a falta de apoio do poder público. Quem acompanha um pouco o cotidiano dessas ONGs se depara, com certa frequência, com seus representantes divulgando campanhas para arrecadar fundos ou com os problemas que a burocracia estatal impõe.

Vamos a um exemplo. Primeiro, a burocracia:

“A Polícia Ambiental de Jundiaí iniciou a semana com um grande problema para resolver, trata-se de 14 aves (três araras canindé, um tucano toco, uma jandaia e nove maritacas), além de dez tartarugas tigre d'água, que foram devolvidos pela Adipa (Associação Direcionada à Preservação dos Animais Silvestres), por estarem sem a documentação que deveria ter sido providenciada pela própria polícia. (...)

Maritacas que estavam na Adipa
Foto: Júlio Monteiro/BOM DIA

A associação que cuida de animais silvestres em Jundiaí tomou a decisão nesta segunda-feira, porque foi ameaçada de ser multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), caso não apresentasse os documentos de transferência da guarda dos animais, que chegaram a associação em virtude de ocorrências policiais. O presidente da entidade, Hélio Lunardi, 74 anos, não viu outra alternativa.” – texto da matéria “Sem documentos, animais silvestres trocam de lar”, publicada em 10 de janeiro de 2012 pelo site da Rede Bom Dia

No meio do mundo burocrático, o jogo de empurra. Afinal, há ou não um problema coma documentação? Veja:

“A Polícia Ambiental elogiou o trabalho de Lunardi em Jundiaí, discordou haver problema na documentação dos animais silvestres e o ideal seria que a associação ficasse com eles. Na tarde desta segunda mesmo, os animas foram encaminhados para a Associação Mata Ciliar.

O Ibama, por meio de assessoria de imprensa, informa que o presidente da Adipa agiu corretamente em devolver os animais à Polícia Ambiental, pois sem a documentação que comprove o encaminhamento deles à instituição, não há como provar a legalidade da transferência. “A partir do momento que a entidade recebe os animais sem documentação, ela fica passível de punição”, alerta o órgão federal.”
– texto da matéria do site da Rede Bom Dia

Agora me explique: se a Adipa trabalha há 18 anos dessa forma, por que só agora encontraram o problema?

Ainda não acabou. Vamos à falta de dinheiro. Na mesma matéria...

‘“O presidente da Adipa diz estar preocupado com a falta de apoio para ajudar a criar os animais. Há dois anos a Adipa mantém o convênio com a prefeitura onde recebe mensalmente R$ 6,2 mil como repasse. Mas segundo Lunardi o valor é insuficiente para cuidar do mantenedouro municipal, que abriga de mais de 100 animais, de 20 espécies diferentes.

“Temos o apoio de mais quatro empresários de Várzea Paulista que colaboram com o nosso trabalho, sem eles não teríamos como manter a estrutura”.’


Vou chover no molhado: ONGs fazem o trabalho que deveria ser do poder público e, mesmo assim, recebem (quando recebem) migalhas para sobreviver.  Não é de surpreender, já que as instituições do próprio governo (como os Cetas - Centros de triagem de Animais Silvestres - do Ibama) vivem situação parecida...

Gestão de fauna no Brasil. Não existe.

- Leia a matéria da Rede Bom Dia

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