quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Macaco Chico: caso do animal mantido 37 anos em cativeiro pode parar na Justiça com argumentos afetivos

“A família que durante 37 anos cuidou de um macaco-prego em São Carlos (SP), retirado pela Justiça no último sábado (3), conseguiu um advogado nesta segunda-feira (5) para tentar trazer o animal de volta para casa. Após uma denúncia, o bicho foi levado para a Associação Protetora dos Animais (APA) de Assis (SP), que fica a 330 quilômetros de São Carlos. Exames veterinários feitos nesta tarde atestam que o macaco, até então conhecido como Chico, é, na verdade, fêmea. A dona do animal, Elizete Farias Carmona, de 71 anos, discorda. Dois abaixo-assinados na web que pedem a volta do macaco já tiveram adesão de 14.544 pessoas. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da cidade vai apoiar a família.
Elizete e a macaca que foi batizada de Chico
Foto: Fabio Rodrigues/G1

(...) A presidente do Conselho de Meio Ambiente da OAB de São Carlos, Elizabeth Pepato, também procurou a família nesta segunda-feira para oferecer apoio. A entidade recebeu um e-mail do Cadastro Nacional dos Advogados solicitando à OAB de São Carlos que fizesse uma intervenção no caso e apurasse os fatos.”
– texto da matéria “Família consegue advogado para tentar recuperar macaco-prego”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1

Chico, que foi rebatizado como Carla, foi apreendido em 3 de agosto de 2013 após permanecer sem autorização do órgão ambiental por 37 anos com Elizete Farias Carmona, de 71 anos, em São Carlos (SP). O animal foi levado para a ONG Associação Protetora de Animais Silvestres (APASS), em Assis (SP). O caso causou grande polêmica com gente defendendo a ação do Estado e gente considerando uma crueldade a retirada do macaco do local onde, alegam, estaria ambientado.

A história desse macaco-prego-amarelo ganha agora um novo capítulo, que deve se desenrolar nos tribunais com a alegação da família de estar defendendo o bem estar afetivo do animal.

‘“Estamos à disposição. A família pode ingressar com ação própria para que o macaco volte. Além do direito de ela estar com o animal, vem o caso afetivo. Então se ficar longe, o animal vai sofrer mais do que no convívio da família”, disse a presidente da Comissão.’ – texto do portal G1

Deve-se salientar que também há argumentos que contradizem o alegado bem estar do macaco. O presidente da ONG Aguinaldo Marinho de Godoy declarou para o portal G1 na matéria “Veterinários de Assis, SP, atestam que macaco ‘Chico’ é fêmea”, publicada em 5 de agosto de 2013:

“Ela foi mantida presa com uma corrente de cerca de um metro, que não é o espaço recomendado, ela disso criou sequelas como machucados no pescoço e atrofiamento dos pés”, completa Marinho.

Ainda de acordo com os integrantes da ONG, o animal destruiu a ‘coleira’ quando ela foi retirada. “O que demonstra que ela não gostava de ficar presa.”

A macaca no quintal de Elizete

Outra matéria do G1 ("Macaca 'Carla' terá acompanhamento nutricional para recuperar peso ideal"), publicada em 6 de agosto de 2013, ainda destaca:

'Carla’ foi recolhida da casa de Elizete Farias Carmona, de 71 anos, em São Carlos. A antiga dona enviou uma folha de papel para a ONG detalhando a alimentação que dava ao animal: cenoura, banana, pão, leite, farinha, arroz. Segundo o presidente da ONG, Aguinaldo Marinho de Godoy, ‘Carla’ terá duas semanas de supervisão nutricional.  “Agora que o veterinário e o biólogo passaram o cardápio correto, inclusive com uma quantidade maior do que para os demais macacos. Nos próximos 15 dias, a cada três dias vamos fazer o acompanhamento nutricional fazendo a pesagem, já que hoje ela pesa 3,3 quilos e está três abaixo do peso ideal e também tem as pernas e o quadril atrofiados por causa da pouca movimentação”.'

Além do bem estar do animal, o caso deve ser analisado dentro do contexto do combate ao tráfico de animais silvestres. O mercado negro de fauna só existe porque tem gente que cria silvestre como pets e porque tem gente que compra os bichos. Será que a devolução do animal para a família não soará como um incentivo a tal hábito.

O poder público não investe em educação ambiental para conscientizar a população sobre os problemas causados pelo tráfico de fauna. Doenças são transmitidas para a população (mais de 180 zoonoses, como a raiva, já foram identificadas), animais sofrem, florestas perdem seus disseminadores de sementes, teias alimentares são alteradas e, se formos seguir com o raciocínio, é fato que a retirada dos bichos pode levar a extinções de espécies, com prejuízos ao equilíbrio dos ecossistemas e impactos climáticos e na produção de água. Tudo está integrado.

O poder público tem errado ao não encarar de frente o comércio ilegal de silvestres. Só fiscalização (que é deficiente e pouco chega às quadrilhas organizadas) não adianta. O Estado não possui uma política competente para gerir a fauna brasileira. Estimativa da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), de 2001, indica que cerca de 38 milhões de animais (sem contar peixes e invertebrados) são retirados da natureza todos os anos para abastecer o mercado negro.

O caso da macaca Carla, que por 37 anos foi Chico, está servindo para escancarar o problema.

Será que devemos tratar o caso com sentimentalismo?

- Leia a matéria completa “Família consegue advogado para tentar recuperar macaco-prego”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1
- Leia a matéria completa  "Macaca 'Carla' terá acompanhamento nutricional para recuperar peso ideal"), publicada em 6 de agosto de 2013 pelo portal G1
Releia os posts do Fauna News sobre o caso:
- Macaco Chico: vítima do poder público ausente e do amor torto por animais, publicado em 5 de agosto de 2013
- Macaco Chico: na verdade uma fêmea criada no amor torto, publicado em 6 de agosto de 2013

2 comentários:

MARIA THEREZA disse...

SE AQUELA FOTO E´ DA MACACA,E´UM CASO DE CRUELDADE.DEIXA-LA POR 37 ANOS NAQUELA SITUAÇAO!AMARRADA NAQUELE ESPAÇO PEQUENO,SEM PROTEÇAO PARA O SOL E CHUVA,ETC.
QYUE BARBARIDADE!

Unknown disse...

Se esta com a familia a 37 anos, com certeza eles tem fotos antigas com o animal para provar. Na realidade acho que erraram na idade, tentaram dizer que ele estava em cativeiro antes da primeira lei de proteção a fauna, que é de 1.967, e portanto poderiam manter o animal. Só que nesse caso teriam que ter falado que ELA tinha 47 e não 37. Amor de mãe que acorrenta pelo pescoço!!! Essa não cola.