Um dos principais incentivadores do tráfico de fauna é a cultura do criar animais silvestres como bichos de estimação. O hábito não é novo e acompanha a humanidade há tempos. Um dos últimos capítulos desse capricho de algumas pessoas envolveu a apreensão do macaco-prego Chico, na verdade uma fêmea, que viveu por décadas com uma família do interior paulista.
Chico, que foi rebatizado como Carla, foi apreendido em 3 de agosto de 2013 após permanecer sem autorização do órgão ambiental por 37 anos com Elizete Farias Carmona, de 71 anos, em São Carlos (SP). O animal foi levado para a ONG Associação Protetora de Animais Silvestres (APASS), em Assis (SP). O caso causou grande polêmica com gente defendendo a ação do Estado e gente considerando uma crueldade a retirada do macaco do local onde, alegam, estaria ambientado.
Mudando um pouco o foco da discussão, deslocando-o dos animais para os humanos, uma máxima do doutor em Conservação da Vida Silvestre, fundador da Escola da Amazônia e membro do Instituto Pró-Carnívoros, Silvio Marchini, tem de ser lembrada: manejo de fauna é manejo de gente.
O comportamento de dona Elizete, que alegou tratar a macaca como um filho, não é uma exceção:
“Uma capivara de aproximadamente quatro meses foi entregue nesta sexta-feira (5) à Polícia Militar do município de Mucajaí, a 51 quilômetros de Boa Vista. O animal, chamado de Jorge pela família, estava vivendo em uma residência e era tratado como membro da família, segundo os policiais.
O mamífero foi encaminhado à Companhia de Policiamento Ambiental na capital. De acordo com o major Charles Matos, a dona de casa Maria das Graças Silva, de 55 anos, entregou o animal devido a informações de que ele poderia ficar agressivo quando chegasse à vida adulta.
"Ela procurou a polícia de forma voluntária. Na hora da despedida, houve muita comoção. Os filhos da mulher choraram bastante, por terem se apegado à capivara", disse o major.
Aos policiais, Maria das Graças informou que resolveu cuidar do bicho quando, ainda filhote, foi encontrado machucado no quintal da casa. Ela disse que tinha o maior amor pelo animal, mas que muitas pessoas diziam que ela poderia ser multada caso a polícia descobrisse.
"A casa está vazia. Meus cinco filhos e dez netos estão tristes demais. Uma das minhas filhas ainda não comeu nada o dia todo. O Jorge dormia na minha cama e tomava mamadeira três vezes por dia", disse.” – texto da matéria “Em Roraima, mulher entrega à polícia capivara que era tratada como 'filho'”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1
O caso envolvendo a capivara Jorge não chegou ao extremo do macaco-prego, mas também mostra o quanto esse tipo de amor torto pode gerar consequências. A família de Roraima tomou a decisão certa, ainda que não estivesse pensando no bem estar do animal e sim considerando uma futura agressividade do animal e a possibilidade de uma multa.
Deve-se reparar que o pensamento continua antropocêntrico, em que o ser humano está no centro das decisões e o restante do universo existe para servi-lo. Mas para as famílias que criavam o macaco-prego e a capivara, existia a convicção de que se estava fazendo o melhor pelos animais – afinal, o que pode ser melhor que o nosso amor incondicional?
Em última análise, o que Marchini afirma é que os problemas enfrentados pela fauna silvestre têm sua origem em ações humanas e não no comportamento do animal. Bichos sofrem e o meio ambiente é pressionado, no caso do tráfico de fauna e de cativeiros ilegais, para suprir carências afetivas e uma necessidade de manter-se ligado à natureza que se manifesta por meio de gaiolas e jaulas.
Está na hora de tratar o comportamento do homem com mais seriedade. O tráfico de fauna não vai ser resolvido apenas com ação policial e com biólogos e veterinários trabalhando com animais apreendidos e tentando, na medida do possível, realizar solturas. O combate ao mercado negro precisa de advogados, juízes, legisladores, educadores, jornalistas, publicitários, antropólogos e uma infinidade de profissionais.
O poder público ainda não se deu conta disso. O que ainda não ficou claro é se por falta de conhecimento ou por não priorizar o problema.
- Leia a matéria completa “Em Roraima, mulher entrega à polícia capivara que era tratada como 'filho'”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1
- Leia o artigo de Silvio Marchini “Manejo de fauna, manejo de gente”, publicado em 14 de março de 2012 no site O Eco
Releia os posts do Fauna News sobre o macaco-prego de São Carlos:
- Macaco Chico: vítima do poder público ausente e do amor torto por animais, publicado em 5 de agosto de 2013
- Macaco Chico: na verdade uma fêmea criada no amor torto, publicado em 6 de agosto de 2013
- Macaco Chico: caso do animal mantido 37 anos em cativeiro pode parar na Justiça com argumentos afetivos, publicado em 7 de agosto de 2013
Chico, que foi rebatizado como Carla, foi apreendido em 3 de agosto de 2013 após permanecer sem autorização do órgão ambiental por 37 anos com Elizete Farias Carmona, de 71 anos, em São Carlos (SP). O animal foi levado para a ONG Associação Protetora de Animais Silvestres (APASS), em Assis (SP). O caso causou grande polêmica com gente defendendo a ação do Estado e gente considerando uma crueldade a retirada do macaco do local onde, alegam, estaria ambientado.
Mudando um pouco o foco da discussão, deslocando-o dos animais para os humanos, uma máxima do doutor em Conservação da Vida Silvestre, fundador da Escola da Amazônia e membro do Instituto Pró-Carnívoros, Silvio Marchini, tem de ser lembrada: manejo de fauna é manejo de gente.
O comportamento de dona Elizete, que alegou tratar a macaca como um filho, não é uma exceção:
“Uma capivara de aproximadamente quatro meses foi entregue nesta sexta-feira (5) à Polícia Militar do município de Mucajaí, a 51 quilômetros de Boa Vista. O animal, chamado de Jorge pela família, estava vivendo em uma residência e era tratado como membro da família, segundo os policiais.
Jorge, a capivara, ganhou até uma festinha com direito a roupinha
Foto: Arquivo pessoal
O mamífero foi encaminhado à Companhia de Policiamento Ambiental na capital. De acordo com o major Charles Matos, a dona de casa Maria das Graças Silva, de 55 anos, entregou o animal devido a informações de que ele poderia ficar agressivo quando chegasse à vida adulta.
"Ela procurou a polícia de forma voluntária. Na hora da despedida, houve muita comoção. Os filhos da mulher choraram bastante, por terem se apegado à capivara", disse o major.
Aos policiais, Maria das Graças informou que resolveu cuidar do bicho quando, ainda filhote, foi encontrado machucado no quintal da casa. Ela disse que tinha o maior amor pelo animal, mas que muitas pessoas diziam que ela poderia ser multada caso a polícia descobrisse.
"A casa está vazia. Meus cinco filhos e dez netos estão tristes demais. Uma das minhas filhas ainda não comeu nada o dia todo. O Jorge dormia na minha cama e tomava mamadeira três vezes por dia", disse.” – texto da matéria “Em Roraima, mulher entrega à polícia capivara que era tratada como 'filho'”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1
O caso envolvendo a capivara Jorge não chegou ao extremo do macaco-prego, mas também mostra o quanto esse tipo de amor torto pode gerar consequências. A família de Roraima tomou a decisão certa, ainda que não estivesse pensando no bem estar do animal e sim considerando uma futura agressividade do animal e a possibilidade de uma multa.
Deve-se reparar que o pensamento continua antropocêntrico, em que o ser humano está no centro das decisões e o restante do universo existe para servi-lo. Mas para as famílias que criavam o macaco-prego e a capivara, existia a convicção de que se estava fazendo o melhor pelos animais – afinal, o que pode ser melhor que o nosso amor incondicional?
Chico: como um filho para dona Elizete
Foto: Fabio Rodrigues/G1
Em última análise, o que Marchini afirma é que os problemas enfrentados pela fauna silvestre têm sua origem em ações humanas e não no comportamento do animal. Bichos sofrem e o meio ambiente é pressionado, no caso do tráfico de fauna e de cativeiros ilegais, para suprir carências afetivas e uma necessidade de manter-se ligado à natureza que se manifesta por meio de gaiolas e jaulas.
Está na hora de tratar o comportamento do homem com mais seriedade. O tráfico de fauna não vai ser resolvido apenas com ação policial e com biólogos e veterinários trabalhando com animais apreendidos e tentando, na medida do possível, realizar solturas. O combate ao mercado negro precisa de advogados, juízes, legisladores, educadores, jornalistas, publicitários, antropólogos e uma infinidade de profissionais.
O poder público ainda não se deu conta disso. O que ainda não ficou claro é se por falta de conhecimento ou por não priorizar o problema.
- Leia a matéria completa “Em Roraima, mulher entrega à polícia capivara que era tratada como 'filho'”, publicada em 5 de agosto de 2013 pelo portal G1
- Leia o artigo de Silvio Marchini “Manejo de fauna, manejo de gente”, publicado em 14 de março de 2012 no site O Eco
Releia os posts do Fauna News sobre o macaco-prego de São Carlos:
- Macaco Chico: vítima do poder público ausente e do amor torto por animais, publicado em 5 de agosto de 2013
- Macaco Chico: na verdade uma fêmea criada no amor torto, publicado em 6 de agosto de 2013
- Macaco Chico: caso do animal mantido 37 anos em cativeiro pode parar na Justiça com argumentos afetivos, publicado em 7 de agosto de 2013
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