A matéria vale ser reproduzida na íntegra:
“Cerca de 400 aves silvestres foram apreendidas na madrugada desta terça-feira no município de Moreno, Região Metropolitana do Recife (RMR). Os pássaros estavam em pequenas gaiolas e caixas, dentro do porta-malas de um carro, interceptado durante uma fiscalização de rotina da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR-232.
O motorista do veículo, um GM Classic, informou que transportava os animais do Agreste de Pernambuco para o Recife, onde as aves deveriam ser comercializadas em feiras livres da cidade. O homem foi preso e encaminhado para a Delegacia de Jaboatão dos Guararapes, onde deve ser indiciado por crime ambiental.
Os pássaros eram levados em um ambiente apertado, sem ventilação, sem água e sem alimento. Alguns já estavam mortos. Na carteira do motorista foram encontrados cerca de R$ 1.300 reais e um papel indicando a venda de 10 mil aves, configurando o crime de tráfico de animais silvestres.” – texto da matéria “PRF apreende 400 aves silvestres em Moreno”, publicada em 18 de fevereiro de 2014 pelo site do jornal Diário de Pernambuco
Para variar, as feiras continuam sendo uma território praticamente livre para o mercado negro de silvestres atuar. A fiscalização, apesar de existir, ainda não é suficiente. O jogo tem de ser de “gato e rato” mesmo, para desestimular a ação dos traficantes. Mesmo que que a legislação seja fraca, não punindo ninguém, a polícia tem de cumprir seu papel.
As feiras da Região Metropolitana de Recife
No Nordeste, muitas feiras ganharam fama exatamente por causa do comércio de animais silvestres. É o caso da feira de Cordeiro, em Recife. Entre agosto de 2010 e abril de 2011, o biólogo Rodrigo Regueira frequentou 10 feiras da Região Metropolitana da capital pernambucana conhecidas pelo tráfico de fauna. Com uma pequena caneta que escondia uma diminuta câmera de vídeo, ele fingiu ser comprador e realizou 28 visitas a esses centros de comércio popular fazendo registros para seu trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Pernambuco.
Dentre as 10 feiras visitadas (Peixinhos, em Olinda; Madalena, Cordeiro, Casa Amarela, e Linha do Tiro, no Recife; Cavaleiro e Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes; Paratibe, em Paulista; Abreu e Lima; e Cabo de Santo Agostinho), a do Cordeiro se destacou. Ela herdou boa parte dos traficantes da feira do Madalena, situada no bairro vizinho e que sofreu intensa ação de fiscalização, perdendo força. Situada ao lado do Mercado Público do Cordeiro, no bairro de mesmo nome, ela é uma feira voltada para o comércio de animais e de apetrechos para criação dos bichos (gaiolas, bebedouros, comedouros, rações, sementes), funcionando aos domingos a partir das 5h. “É a feira com maior número de vendedores de silvestres. Eram mais de 30 em cada visita que fiz. Também tem o maior número total de espécies à venda, 42, e de indivíduos comercializados”, afirma Regueira, que esteve no local três vezes e contabilizou 553 animais sendo traficados.
A feira da Linha do Tiro, na zona norte de Recife, tem suas peculiaridades. Típica feira do rolo, ela é a única que funciona duas vezes por semana e no período da tarde: quartas-feiras e sábados, sempre após as 12h30. O comércio de animais é um dos mais intensos dentre as feiras visitadas por Regueira, que nela registrou 322 animais de 26 espécies. O bairro é um dos mais pobres da capital pernambucana.
Nas feiras da Região Metropolitana de Recife, Regueira encontrou 55 espécies de aves, sendo que duas encontram-se ameaçadas de extinção (Tangara fastuosa ou pintor-verdadeiro e Sporagra yarrellii ou pintassilgo), quatro tipos de aves híbridas e uma espécie de quelônio (Geochelone carbonária, o jabuti-piranga). No total, foram registrados 2.130 animais, sendo que 87% das espécies e 99% dos indivíduos eram da ordem passeriforme, os conhecidos passarinhos que atraem pelo canto e plumagem colorida. O biólogo também constatou que 82% dos bichos apresentavam sinais de estresse. Não foi registrado o comércio de fauna silvestre nas feiras da Casa Amarela e do Madalena, o que não quer dizer que não aconteça.
“Projeções baseadas no número observado de indivíduos à venda indicam que até 52 mil animais podem ser comercializados anualmente nas oito feiras. Considerando os valores mínimos, médios e máximos obtidos, projeta-se que o comércio ilegal de animais silvestres movimente, por ano nessas feiras, entre R$ 636.840 e R$ 1.071.638”, afirma o Regueira. E tudo isso apenas na Região Metropolitana de Recife.
É por essa situação que não surpreende o fato de o sujeito preso ter um papel indicando a venda de 10 mil aves. Isso mesmo, 10 mil aves!
O dano ambiental é imenso e o risco a saúde pública enorme. Sem contar com a crueldade contra os animais, relatada também na matéria.
- Leia a matéria no site do Diário de Pernambuco
“Cerca de 400 aves silvestres foram apreendidas na madrugada desta terça-feira no município de Moreno, Região Metropolitana do Recife (RMR). Os pássaros estavam em pequenas gaiolas e caixas, dentro do porta-malas de um carro, interceptado durante uma fiscalização de rotina da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na BR-232.
Caixas com parte das aves apreendidas
Foto: Divulgação Polícia Rodoviária Federal
O motorista do veículo, um GM Classic, informou que transportava os animais do Agreste de Pernambuco para o Recife, onde as aves deveriam ser comercializadas em feiras livres da cidade. O homem foi preso e encaminhado para a Delegacia de Jaboatão dos Guararapes, onde deve ser indiciado por crime ambiental.
Os pássaros eram levados em um ambiente apertado, sem ventilação, sem água e sem alimento. Alguns já estavam mortos. Na carteira do motorista foram encontrados cerca de R$ 1.300 reais e um papel indicando a venda de 10 mil aves, configurando o crime de tráfico de animais silvestres.” – texto da matéria “PRF apreende 400 aves silvestres em Moreno”, publicada em 18 de fevereiro de 2014 pelo site do jornal Diário de Pernambuco
Para variar, as feiras continuam sendo uma território praticamente livre para o mercado negro de silvestres atuar. A fiscalização, apesar de existir, ainda não é suficiente. O jogo tem de ser de “gato e rato” mesmo, para desestimular a ação dos traficantes. Mesmo que que a legislação seja fraca, não punindo ninguém, a polícia tem de cumprir seu papel.
As feiras da Região Metropolitana de Recife
No Nordeste, muitas feiras ganharam fama exatamente por causa do comércio de animais silvestres. É o caso da feira de Cordeiro, em Recife. Entre agosto de 2010 e abril de 2011, o biólogo Rodrigo Regueira frequentou 10 feiras da Região Metropolitana da capital pernambucana conhecidas pelo tráfico de fauna. Com uma pequena caneta que escondia uma diminuta câmera de vídeo, ele fingiu ser comprador e realizou 28 visitas a esses centros de comércio popular fazendo registros para seu trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas, da Universidade Federal de Pernambuco.
Dentre as 10 feiras visitadas (Peixinhos, em Olinda; Madalena, Cordeiro, Casa Amarela, e Linha do Tiro, no Recife; Cavaleiro e Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes; Paratibe, em Paulista; Abreu e Lima; e Cabo de Santo Agostinho), a do Cordeiro se destacou. Ela herdou boa parte dos traficantes da feira do Madalena, situada no bairro vizinho e que sofreu intensa ação de fiscalização, perdendo força. Situada ao lado do Mercado Público do Cordeiro, no bairro de mesmo nome, ela é uma feira voltada para o comércio de animais e de apetrechos para criação dos bichos (gaiolas, bebedouros, comedouros, rações, sementes), funcionando aos domingos a partir das 5h. “É a feira com maior número de vendedores de silvestres. Eram mais de 30 em cada visita que fiz. Também tem o maior número total de espécies à venda, 42, e de indivíduos comercializados”, afirma Regueira, que esteve no local três vezes e contabilizou 553 animais sendo traficados.
A feira da Linha do Tiro, na zona norte de Recife, tem suas peculiaridades. Típica feira do rolo, ela é a única que funciona duas vezes por semana e no período da tarde: quartas-feiras e sábados, sempre após as 12h30. O comércio de animais é um dos mais intensos dentre as feiras visitadas por Regueira, que nela registrou 322 animais de 26 espécies. O bairro é um dos mais pobres da capital pernambucana.
Feira da Linha do Tiro
Foto: Divulgação Cipoma/PMPE
Nas feiras da Região Metropolitana de Recife, Regueira encontrou 55 espécies de aves, sendo que duas encontram-se ameaçadas de extinção (Tangara fastuosa ou pintor-verdadeiro e Sporagra yarrellii ou pintassilgo), quatro tipos de aves híbridas e uma espécie de quelônio (Geochelone carbonária, o jabuti-piranga). No total, foram registrados 2.130 animais, sendo que 87% das espécies e 99% dos indivíduos eram da ordem passeriforme, os conhecidos passarinhos que atraem pelo canto e plumagem colorida. O biólogo também constatou que 82% dos bichos apresentavam sinais de estresse. Não foi registrado o comércio de fauna silvestre nas feiras da Casa Amarela e do Madalena, o que não quer dizer que não aconteça.
“Projeções baseadas no número observado de indivíduos à venda indicam que até 52 mil animais podem ser comercializados anualmente nas oito feiras. Considerando os valores mínimos, médios e máximos obtidos, projeta-se que o comércio ilegal de animais silvestres movimente, por ano nessas feiras, entre R$ 636.840 e R$ 1.071.638”, afirma o Regueira. E tudo isso apenas na Região Metropolitana de Recife.
É por essa situação que não surpreende o fato de o sujeito preso ter um papel indicando a venda de 10 mil aves. Isso mesmo, 10 mil aves!
O dano ambiental é imenso e o risco a saúde pública enorme. Sem contar com a crueldade contra os animais, relatada também na matéria.
- Leia a matéria no site do Diário de Pernambuco
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